Empresa busca 'naufrágio dos sonhos' na Paraíba

Paraíba

Sobre o Oceano Atlântico, dois comandantes brigam num grande navio português. Um deles ateia fogo no paiol da embarcação, que explode e submerge levando consigo mais de 700 homens e um tesouro avaliado hoje em 1 bilhão de dólares.
A história da embarcação Santa Rosa, que mais parece uma narrativa cinematográfica, aconteceu no século 18, entre as águas da Paraíba e Pernambuco, e é considerado por muitos exploradores ‘o naufrágio dos sonhos’.
Um dos que conhecem bem os mistérios que envolvem o Santa Rosa é o engenheiro e pesquisador George Cunha, que há décadas se dedica aos estudos dos naufrágios marítimos. “Ele é considerado o naufrágio dos sonhos. Hoje não resta no mundo uma carga tão valiosa a ser encontrada como a do Santa Rosa”, disse.
A embarcação, que data do início do século 18, carregava uma vez por ano as riquezas do Brasil para Portugal. Saindo da Bahia, ele viajava pela costa nordestina até Fernando de Noronha, de onde iria partir para Lisboa, Portugal. No meio deste percurso, entre Pernambuco e Paraíba, uma briga entre os comandantes terminou na explosão do Santa Rosa.
“O naufrágio aconteceu em 1726. A localização não é exata, mas acredita-se que foi entre o Cabo de Santo Agostinho e a praia do Cabo Branco. Destroços do Santa Rosa já foram encontrados entre a Baía da Traição e o Rio Miriri. Pela trajetória das correntes de vento, a probabilidade é que os destroços do navio estejam na região da praia do Cabo Branco”, explicou o pesquisador George Cunha.
Evidências. Além das cartas da época, outra evidência que reforça a afirmação é que exploradores especializados em objetos marítimos conseguiram autorização da Marinha Brasileira e já fazem o mapeamento nas águas que ficam 35 quilômetros Cabo Branco adentro. Uma delas é a Salvanav, empresa do Rio de Janeiro, que estuda a região em busca do Santa Rosa.
“Em uma pesquisa desta se gasta em torno de 10 milhões de dólares, pois são usados equipamentos de última tecnologia. Uma empresa assim não se instalaria ali por nada, eles estão seguros que alguma coisa há por ali”, destacou o pesquisador George Cunha.

 
Buscas tiveram início em 1999
De acordo com a Marinha do Brasil, as buscas pelo Santa Rosa começaram em 19 de julho de 1999. Antes de qualquer coisa, é preciso saber que, apesar de pesquisa e exploração não significarem a mesma coisa, ambas precisam do aval da Marinha do Brasil para acontecer.
Para isso, o assunto é normatizado pela Norma de Autoridade Marítima (NORMAM-10), que dispõe sobre a pesquisa, exploração, remoção e demolição de coisas ou bens afundados, submersos, encalhados e perdidos em águas sob jurisdição nacional, em terreno de Marinha e seus acrescidos e em terrenos marginais, em decorrência de sinistro, alojamento ou fortuna do mar.
A pesquisa é o mapeamento, quando determinada empresa consegue a autorização para estudar uma área que suspeita ter algum objeto a ser explorado. Somente depois de achar o material, a empresa pedirá à Marinha uma nova autorização para explorar o objeto encontrado. Daí, Marinha e empresa exploradora definirão, em contrato, o que pertencerá aos exploradores e o que ficará para a União.
Achados passarão por avaliação
A tenente Nathália de Faria Almeida, encarregada da Divisão de Segurança do Tráfego Aquaviário, da Capitania dos Portos da Paraíba, reforça que a autorização para pesquisa e busca de determinada embarcação naufragada não permite à empresa alterar o que for encontrado, mas pode favorecê-la em detrimento de outras interessadas.
No caso do naufrágio do Santa Rosa, de acordo com a tenente da Marinha, os bens localizados passarão por uma comissão de peritos, que selecionará e designará as coisas ou bens quanto ao valor artístico, interesse histórico, cultural ou arqueológico, e para atribuição dos seus valores, para efeito de incorporação ao Patrimônio da União.
Os objetos de valor artístico, histórico e arqueológico, cujo resgate tenha sido autorizado, são inalienáveis, não sendo objeto de apropriação, doação ou adjudicação, permanecendo no domínio da União. Entretanto, tudo deve ser firmado em contrato, antes do início da exploração, reforça a representante da Marinha.
 
Beto Pessoa – Jornal Correio da Paraíba