Araruna, na Paraíba, mapeia novos roteiros de aventura

Paraíba

O município de Araruna se posiciona como nova opção para o turismo de aventura na Paraíba. A Secretaria Municipal de Turismo incentiva a elaboração de roteiros e trabalha para maior segurança no destino. Além dos cânions para caminhadas ou trilhas para bicicletas, em meio a serras verdes, quinze sítios arqueológicos com inscrições rupestres foram catalogados pela equipe de técnicos e especialistas que fazem o levantamento das atrações. Rapel, arvorismo, tirolesa, cultura, gastronomia e experiência rural também estão nos programas.
Quando se fala em Araruna, se remete ao Parque Estadual da Pedra da Boca, conhecido até fora do Brasil. A diferença é que, em Araruna, as atividades iniciam no alto da serra. A cidade está a 580 metros de altitude, tem um clima sempre fresco e vegetação abundante característica do Brejo de Altitude. O secretário municipal de Turismo, Edvaldo Costa, acredita na vocação turística a qual, segundo ele, nunca foi explorada completamente.
“Estamos investindo na infraestrutura para inserir as rotas no mercado e planejando as políticas públicas. Já implementamos o Plano Qualifica Araruna, para os setores relacionados como hotelaria, condutores, bares, restaurantes e o comércio em geral, visando a recepção excelente ao turista. Contamos com a disposição para o trabalho dos jovens mais carentes do nosso município, com menos oportunidade para conseguir um emprego”, ressalta o secretário.
Edvaldo salienta que a prefeitura aposta na parceria público privada – classe empresarial, comunidade e poder público: “Temos que estar com a mesma visão. O plano só vai acontecer se todo mundo der as mãos. O turismo é uma saída para nós, gerando emprego”.
O município tem bares, restaurantes e pousadas típicas de clima serrano, algumas, inclusive, com lareira, acendida nos dias mais frios de inverno. Walfredo Juno abre o Requinte Bar e Petiscaria nas noites de terça a sábado, com música ao vivo e está preparado para o movimento. “Araruna é uma cidade centenária e o potencial turístico deve ser divulgado. A cidade tem vida noturna, uma casa de shows planejada e bem construída que comporta 1.500 pessoas”, acredita o comerciante.
O carro-chefe dos atrativos é o turismo de aventura. Segundo o Planejador Ambiental Rogério Ferreira: “É uma prática de experiência na natureza onde pessoas comuns são conduzidas por ambientes remotos, ou não comuns a sua rotina diária. Aventuram-se pelos obstáculos naturais ao longo do trajeto, assistidos de forma preventiva, por um condutor capacitado.” Em Araruna incluem-se as trilhas, cavalgadas, ciclismo, arvorismo, tirolesa, rapel e escalada; vivências nos ambientes rurais, exploração de sítios arqueológicos, enfim, atividades de caráter recreativo e educativo.
O turismo de aventura precisa de uma natureza preservada. Por isso, é vetor de desenvolvimento econômico sustentável. Mobilizações como essa, em Araruna, recebem o apoio da Fundação Solidariedade, braço social do Sistema Correio. “A Fundação zela por tais incentivos no Estado e estará acompanhando os avanços de cada etapa desse processo em Araruna”, diz Núbia Gonçalves, diretora da instituição.
Araruna, Baraúna e Cuité formam fórum turístico
O Parque Estadual Pedra da Boca fica em Araruna; contudo, esse município não se beneficia com o fluxo turístico gerado por lá. O visitante prefere se hospedar em pousadas em Passa e Fica, cidade mais próxima do parque, no Rio Grande do Norte. Araruna está há cerca de 20 ou 30 minutos de carro, subindo a serra, mas o turista acaba por não tomar conhecimento de seus atrativos.
Atualmente, Araruna consta no Mapa do Turismo Brasileiro, junto a outras 100 cidades paraibanas. É um instrumento que destaca municípios que adotam o turismo como estratégia de desenvolvimento e norteia a definição de políticas públicas. A representação junto ao governo federal se dá por meio de regiões, através do Programa de Regionalização de Turismo, a partir do qual são lançados os editais públicos federais. Está sob a gestão de Alessandra Lontra, na Paraíba:
“Há nove regiões turísticas delimitadas na Paraíba; Araruna faz parte da região do Seridó e Curimataú, junto com os municípios de Cuité e Baraúna. Esses três devem formalizar um Fórum Turístico que trabalhe de forma compartilhada. Por enquanto, há somente dois fóruns legalizados, na Paraíba – Fórum de Turismo do Vale do Paraíba e o da Trilha dos Potiguaras”, esclarece Alessandra Lontra.
A equipe da Secretaria de Turismo de Araruna se empenha para articular um encontro com representantes de Cuité e Baraúna para iniciar os trabalhos de formação desse fórum. Para Alessandra, Araruna está no caminho certo, trabalhando as políticas municipais e buscando conciliação na região. “Eu indico ainda que se formem bancos de projetos com trabalhos planejados, pois o prazo de alguns editais é curto e o município ganha em agilidade”, orienta a gestora.
PBTur divulga ícones do turismo na Paraíba
A PBTur trabalha com a promoção do turismo ressaltando ícones do estado como um todo. A Pedra da Boca é um desses ícones. “Nós olhamos a Paraíba como um todo e destacamos os principais pontos, como o Lajedo de Pai Mateus, a Pedra do Ingá, o Parque dos Dinossauros, o São João de Campina, o litoral e a própria Pedra da Boca, entre outros. Não fazemos um trabalho localizado, em cada município, mas levamos para o conhecimento do público externo os atrativos consolidados do estado. O parque [Pedra da Boca] é divulgado em todas nossas ações”, garante a presidente da PBTur, Ruth Avelino.
Condutores locais usam apps globais
Os condutores de Araruna usam a tecnologia para mapear as trilhas e pontuar os atrativos. Quando uma equipe perde a trilha em meio à mata fechada o app é a salvação. Alguns operam offline. Foi o que ocorreu com nossa equipe na Trilha da Serra Verde. Ricardo Henrique Câmara, gerente de Turismo do município, cresceu brincando nas trilhas, pelas matas; mas a paisagem mudou, a vegetação cresceu e ele não encontrou a saída. Não tínhamos visão. O condutor Mateus Targino da Silva mapeava o local com o aplicativo Wikiloc e obteve sinal, pelo qual atualizou nossa localização. Abrimos uma picada e recuperamos o trajeto. Foi uma aventura!
Na trilha da Mata da Forca, feita no dia anterior, os condutores Rudson da Cruz Silva e Mateus marcaram no Wikiloc os trechos de maior dificuldade, as inscrições rupestres e ainda as pegadas de um pequeno mamífero, possivelmente uma jaguatirica, que apareceu pouco antes da nossa passagem para tomar água. O Wikiloc tem mais de 1,3 milhão de membros pelo mundo, que já compartilharam mais de 3 milhões de trilhas e 5 milhões de fotos. “A tecnologia ajuda o condutor a ter mais domínio sobre a trilha e organização. E é um meio de divulgação”, completa Rudson.
Apps de aventura:
Wikiloc
Minhas Trilhas
Orux Maps
GPS Essentials
All Trails
Strava
Aventura segue através da História e da Cultura
O historiador e arqueólogo João Henrique Rosa constata um fato: “o ser humano está numa constante busca por suas origens”. Como viveram os antepassados? Vestígios deixados há milhares de anos podem esclarecer isso. Em um determinado local, uma população viveu há milhares de anos; buscava seu alimento, fazia suas festas, seguia rituais. “Uma primeira leitura das inscrições rupestres em torno do município de Araruna confirma que uma população usava continuamente essas áreas. Minha hipótese é que esses cânions eram as vias de deslocamento dessas pessoas”, afirma João Rosa.
Em outros momentos mais recentes, nos séculos XIX e XX, eventos marcaram a história de Araruna, como o Ronco da Abelha (1851-1852) e a revolta do Quebra-quilos (1874-1876). Wellington Rafael da Silva, gerente de Cultura do município, explica que o primeiro levou esse nome por causa do murmúrio e queixas diante da obrigatoriedade de a população se apresentar para o primeiro recenseamento do império brasileiro. A Lei Euzébio de Queirós proibiu a importação de escravos e os brasileiros pensavam que o governo queria seus dados para escravizá-los. “O historiador Humberto Fonseca de Lucena registrou que as mulheres de Araruna iam armadas com pedaços de pau e pedra para a missa na igrejinha de Santo Antonio”, diz Wellington, mencionando a primeira igreja da região, estilo barroco rural.
O Quebra-quilos foi uma revolta contra a implementação, pelo Império, de um novo sistema métrico decimal, para facilitar a cobrança de impostos. Na feira, comerciantes quebraram balanças e pesos, negando-se a aderir ao novo sistema. O movimento foi reprimido por tropas do governo. Ambas revoltas não teve uma liderança centralizada, e ocorreram em vilas de vários estados brasileiros.
“Precisamos registrar ainda que o primeiro paraibano a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras é natural de Araruna, Antonio Joaquim Pereira da Silva, o ‘poeta da dor’ Pereira da Silva (1876 – 1944). Além de Severino Perilo de Oliveira, o Peryllo D’Oliveira ator e poeta, membro da academia paraibana de letras”, destaca Wellington.
Além do turismo: ONG apoia estudantes em Araruna
A economia de Araruna é historicamente baseada na produção agrícola. Os familiares de Ricardo Henrique Câmara chegaram no final do século XIX e se dedicaram para a produção de café, algodão e laranja. Sua casa foi a segunda a ser construída na vila e sustenta no alto da fachada um símbolo da produção rural: um desenho que lembra os gomos de uma laranja aberta. O casario histórico na cidade manteve o hábito de identificar a produção à época, com desenhos de ramos de café ou algodão nas fachadas.
Hoje não há mais grandes plantações. As fazendas mantém uma plantação diversificada, policultura e pecuária, com característica familiar. E Ricardo Henrique também trabalha para ampliar as oportunidades dos jovens. Ele é voluntário na Associação Paraibana de Incentivo ao Universitário (APIU), uma entidade que auxilia estudantes sem condições financeiras de frequentarem um curso universitário, longe da família. Em Araruna há cursos na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e um pólo do Instituto Federal da Paraíba (IF).
A APIU começou vinculada a uma organização alemã do Rio Grande do Sul e chegou a Araruna em 2010 pela Afink (Associação de Formação e Incentivo para o Nordeste Karente), que já ajudou mais de mil estudantes. “Hoje montamos uma instituição própria, direcionados para projetos sociais com estudantes universitários. Despertamos a visão de solidariedade, liderança e empreendedorismo. A solução dos problemas sociais do Brasil não dependem só do governo, mas também da contribuição da sociedade civil organizada”, enfatiza Ricardo Henrique, em concordância com as diretrizes seguidas pela Fundação Solidariedade.
Em Araruna, cerca de 40 alunos se formaram com esse auxílio. Enquanto recebe o benefício, o estudante deve cumprir requisitos como manter médias de aprovação no curso, e participar de algum projeto social. Ricardo informa que será lançado um edital até julho desse ano para estudantes da Paraíba que queiram concorrer a uma bolsa que varia entre R$ 300 e R$ 700, mais uma ajuda financeira para executar o projeto. As doações provêm da Alemanha e do Brasil, feitas por empresários, organizações ou pessoas físicas. Em contrapartida o estudante envia regularmente um relatório de seu desempenho na universidade e nos projetos.
Roteiros de aventura em Araruna

Cânion do Macapá:
Aventura com alto grau de dificuldade e emoção. Esse cânion é um desfiladeiro, formado por rochas que sofreram o impacto de explosão vulcânica há milênios, quando a região estava submersa pelo oceano. No centro do cânion corre o Rio Salgadinho, cujo percurso segue até a Pedra da Boca e deságua no rio Curimataú. Do alto de um mirante tem-se a vista de toda a serra. Os paredões de rocha podem ser explorados com rapel ou escaladas. Alguns deles escondem entradas de grutas, cavernas e registros da presença de grupos de homens há mais de seis mil anos, em inscrições rupestres.
Fazenda Cacimbinhas – Trilha da Serra Verde
Aventura na mata, sem sair da cidade de Araruna: começa com uma tirolesa com quase dois quilômetros de queda praticamente livre. Na chegada, o visitante sacia a sede com uma água de coco pra recuperar o fôlego e encarar um arvorismo, no topo das copas de coqueiros e outras árvores. Se o aventureiro está acompanhado de alguém que prefere uma atividade mais tranquila, a Fazenda oferece uma experiência rural completa, desde o trato com os animais, o roçado, até o preparo de alimentos orgânicos no restaurante. De lá sai a Trilha da Serra Verde, até o jardim natural onde há inscrições rupestres. Caminhada leve entre plantações, margeando o riacho Grande.
Trilha da Mata da Forca
Em vinte ou trinta minutos, de automóvel, chega-se no ponto de partida para a trilha que leva ao leito do rio Amargoso, em Cacimba do Gado. A descida pelo rio é de dificuldade média; conforme o período do ano as chuvas deixam o trajeto mais úmido e algumas rochas podem ficar escorregadias. Não chega a ser impedimento para um aventureiro alcançar o letreiro de inscrições rupestres onde há milênios grupos nômades se demoravam para abastecer de caça e água. No local ainda transitam guaxinins, gatos do mato, jabotis, jaguatiricas e outros mamíferos de pequeno porte. Grande diversidade de insetos e pássaros. No trajeto, se as árvores frutíferas estão na estação própria, ninguém sente fome!
Fazendas Históricas:
Três fazendas marcam ciclos distintos de desenvolvimento da região, desde a colonização:
Fazenda Maquiné – 1827 – Referência na produção de café e cana de açúcar, marcando um período de ascensão econômica. O visitante entra em contato com ambientes onde os escravos trabalhavam ou viviam.
Fazenda Fragata – 1927 – Hoje não há mais plantações de cana na região, mas as instalações centenárias dessa fazenda ainda se encontram como na época em que se fazia a extração do melado da cana. O visitante tem uma vivência diferenciada no engenho.Fazenda Nega Joana – 2007 – A modernidade chega à zona rural e o visitante encontra na Fazenda Nega Joana restaurante com refeições preparadas com os mais variados produtos orgânicos, além de acompanhar o dia a dia da produção rural.
Márcia Dementshuk, jornalista da Fundação Solidariedade viajou à convite da Prefeitura de Araruna
Fotos: Carla Belke.