Igreja de Santo Antônio merece inclusão no roteiro turístico religioso da Paraíba

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Dados oficiais apontam que a Paraíba tem nove destinos potenciais para o turismo religioso católico, identificados certamente em função de rituais recorrentes – romarias principalmente -, mas, para além desses destinos assinalados, há outros locais incompreensivelmente não inclusos, merecedores de mais atenção, exatamente por conta do vigor artístico e místico que escondem; me refiro a especificamente a duas igrejas: de Santo Antônio, em Patos, e a de Santa Maria Madalena, em Teixeira.
Empresas que vendem esses destinos turísticos certamente desconhecem essas duas igrejas e o apelo poderoso que elas representam para atrair turistas independente de credo religioso. Fiquemos, inicialmente, apenas na igreja dedicada ao “santo casamenteiro”.
Que apelo turístico há na Igreja de Santo Antônio?
Arte Sacra, respondo. Sua construção data dos anos 1960, é enorme e de arquitetura comum. Entretanto, dispõe de mais de uma centena de pinturas sobre azulejos. Impossível apreciar o acervo em alguns minutos.
É uma construção grande e por fora e no seu interior decorada em pinturas inspiradas em motivações bíblicas; da criação do homem à crucificação de Cristo, com forte apelo aos dogmas católicos. Representações poderosas de personagens e situações.
Causa inquietação para quem observa, analisa e procura o autor ou autores desse conjunto magnifico de pinturas e não encontra. Apenas uma citação sobre seus autores: Art Mural, Rua Dionísio da Costa, 277 – São Paulo. E Só.

Um pouco de história
A construção da Igreja de Santo Antônio surgiu por iniciativa da senhora Mariana Alves de Oliveira – mãe do Padre. Levi, que doou o terreno para que se construísse uma igreja dedicada a Santa Quitéria, mas o bispo Dom Zacarias Rolim de Moura discordou – por considerar Santa Quitéria pouco conhecida – e sugeriu Santo Antônio, que foi aceito, com a condição de outra igreja ser construída no mesmo tamanho para Santa Quitéria. Se ocorreu, desconheço.
O Padre Levi, que também era um político poderoso, doou 33 estátuas de anjos e os vitrais, trazidos de São Paulo. O acervo é riquíssimo, icônico na representação de passagens bíblicas e parece seguir um roteiro.
Logo na frente da igreja, as pinturas em azulejos impactam o visitante. O pintor ou pintores, abrem a narrativa com um painel sobre o “Mistério da Trindade”, a “Tentação no Jardim do Éden”, um quadro com um Jesus já se apresentando como uma resposta futura ao “pecado original de Adão”. E todos os elementos narrativos da aurora do judaísmo estão gravados nos azulejos: a serpente, o demônio, a maçã e um demônio já como protagonista.
Esse duelo entre o Divino e o Satânico, o bem e o mal, o pecado e a virtude, a fé e a heresia perpassam toda a obra. Não há um recanto importante da igreja que não esteja revestido em pintura.
O turista certamente será tentado a entrar na igreja para passar para a narrativa seguinte, mas, antes, vai precisar circular a Igreja de Santo Antônio muito devagar e demoradamente, porque é como estar na poltrona de um cinema assistindo a um filme de Cecil B. Demille – Os Dez Mandamentos, pois no lado externo da igreja as pinturas são inspiradas na Torá – que encerra a tradição judaica, narrativa “transmitida” por Deus. Acreditem, as principais cenas do Velho Testamento estão reproduzidas.
Acomodados nos bancos da Igreja, se olhar para os lados, os cristãos ou simples turistas poderão mergulhar em abstração, distanciar-se da liturgia para assustar-se, ter desconforto e prazer com os quadros pintados sobre azulejos. Praticamente nada do Novo Testamento foi desperdiçado pelos pintores.
E são pinturas nada tímidas ou pequenas. A Igreja de Santo Antônio é um museu a céu aberto. E é inaceitável que não conste como um destino turístico religioso. Essa displicência pode-se perceber até na igreja, pois alguns quadros simplesmente ficam ocultos por pilhas de cadeiras.
Ao entrar na igreja, prepare-se e disponha de tempo para apreciar cada pintura, Para quem é cristão dispensa-se um guia; do contrário, o visitante vai precisar de um que tenha expertise sobre a Paixão de Cristo e todos os seus personagens e com capacidade de discorrer sobre cada cena.
Impressiona como o altar, destinado a ser o centro das atenções, perde-se na imensidão do espaço físico, tornando-se “apenas” num adereço em meio a arte que o cerca, e se estende até a sala do sacrário onde o Santíssimo fica exposto também está entre quadros, de novo sobre azulejos que custaram vinte mil contos de réis e até hoje e sempre à espera de decifrações.
Os autores da Arte Sacra concentrada na Igreja de Santo Antônio tiveram material suficiente para esgotar os argumentos bíblicos e os contidos no Novo Testamento, além dos apelos à fé e conflitos em cores fortes.
Os personagens retratados se repetem claramente com traços diferentes entre si, o que leva à dedução de uma obra resultante de um trabalho coletivo de pintores recrutados para este fim e que não se limitaram à reprodução do esplendor da fé, mas que dosaram com imagens de pecadores sendo resgatados do purgatório por anjos, em contraponto a outras cenas em que o próprio Demônio é a figura central dos quadros.
Santa Maria Madalena
Deixando Patos, o turista pode subir a Serra de Teixeira, onde vai encontrar uma igreja consagrada a Maria Madalena, em 1857, e que causa confusão porque para os católicos, Maria de Magdala, a 13ª Apóstola de Cristo, é reconhecida e aceita apenas como Santa Maria Madalena. Mas fica para o próximo artigo.
João Costa – É radialista do Sistema Correio de Comunicação e diretor de teatro.