Santa Catarina, uma Fortaleza esquecida

Paraíba

Um patrimônio histórico esquecido pelo poder público. Essa é a ótica que o visitante tem ao chegar à Fortaleza de Santa Catarina, localizada em Cabedelo – cidade da Região Metropolitana de João Pessoa. Um dos mais belos monumentos da Paraíba é mantido com recursos da bilheteria e do aluguel para eventos particulares. A reportagem do jornal CORREIO visitou o local, para entender porque esse importante centro cultural e turístico não recebe recursos públicos para manutenção e preservação.

O descaso começa ainda no trajeto. São poucas as placas turísticas que indicam como chegar ao local. As vias de acesso também não são das melhores. Depois que o motorista deixa a BR-230 e entra nas ruas de paralelepípedos, são constantes buracos e desníveis provocados pelo peso dos caminhões. É que a Fortaleza fica ao lado dos Terminais de Distribuição de Cabedelo (Tecab) – empresa privada que armazena combustíveis derivados de petróleo e biocombustíveis. 

A Fortaleza de Santa Catarina também não conta com amplo estacionamento. Na verdade, os carros e os ônibus de turismo “brigam” com os caminhões por um espaço nos acostamentos das ruas do entorno. “As pessoas chegam aqui e dizem que o local está mal conservado, mas nós fazemos o que podemos com os recursos que temos”, desabafou o diretor da Fundação Fortaleza de Santa Catarina, Osvaldo Carvalho.

Segundo o gestor, a Fortaleza não recebe nenhum recurso público, embora o imóvel tenha sido tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Cultural (Iphan) em 1938. A Fundação Fortaleza de Santa Catarina é a responsável pela administração do monumento desde 1992. A entidade é composta por 18 membros, dos quais, apenas seis residem em Cabedelo. As despesas da Fortaleza somam, em média, R$ 15 mil por mês.

Mas essa quantia só dá para fazer o básico… Capinação, pagar energia, água, o pessoal da limpeza e os guias. Embora estes últimos trabalhem como voluntários, a Fundação paga para cada um cerca de R$ 300 por mês, como uma forma de ajuda de custo. O pessoal que ajuda na limpeza também não recebe salário fixo. “Eu não posso cobrar de nenhum deles horário para chegar. Quem perde é o visitante que, às vezes, não encontra um banheiro limpinho”, comentou Carvalho.

A arrecadação mensal da bilheteria é de R$ 4 mil. Esse valor só melhora no mês de janeiro, quando o número de visitante dobra. A receita da Fortaleza é complementada com o aluguel de eventos particulares, como casamentos e formaturas. “Quando aparece uma cerimônia, eu já reservo o dinheiro para uma melhoria, mas ano passado quase não teve procura”. No dia em que a reportagem visitou o local, as pedras da frente do monumento estavam sendo lavadas com uma mangueira de jardim.

E é dessa forma que a manutenção da Fortaleza vem sendo realizada: de forma improvisada e por moradores locais, que recebem alguns trocados da Fundação para realizar benfeitorias. Quem visita o local não sabe das condições financeiras de como a Fortaleza vem sendo administrada. “A Fortaleza é linda, mas parece que foi esquecida. Já que não recebe recursos públicos, poderiam ao menos aumentar o valor da bilheteria para ajudar nos custos”, comentou Cintia Wagner, turista de Porto Alegre.

Curiosidades

  • O nome correto da edificação localizada em Cabedelo é Forte de Santa Catarina. Fortalezas são as construções militares maiores, que contam com duas ou mais baterias de canhões instaladas em pontos diferentes no interior do edifício. Os fortes possuem uma ou dois baterias de canhões. No entanto, com o passar dos anos, o local ficou popularmente conhecido com Fortaleza de Santa Catarina.
  • Forte de Santa Catarina é uma construção em alvenaria de pedra e cal concluída em 1597. O local foi tombado como Patrimônio Nacional pelo Iphan em 1938. O imóvel, de propriedade da União, é administrado pela Fundação Fortaleza de Santa Catarina desde 1992.
    Serviço – Fortaleza de Santa Catarina
    Funciona de domingo a domingo, das 8h às 17h
    Endereço: Rua Francisco Serafim S/N
    Contato: (83) 3228 3959
    Entrada: R$ 2 e R$ 1 (crianças e idosos)

Turistas lamentam

“Morei em João Pessoa há alguns anos, mas fazia tempo que tinha visitado a Fortaleza. A impressão que tive ao retornar hoje é que esse patrimônio está sendo, aos poucos, deteriorado” – Fábio Dantas – turista do Tocantins.

“Eu gostei bastante do passeio e o tempo todo fiquei penando na história que esse lugar carrega. A gente percebe que ele não tem suporte e precisa de maior atenção na preservação” – Carol Caponi – turista do Tocantins.

“Se você não ocupa uma casa, ela começa a se deteriorar. Então, além da preocupação com a estrutura física, também procuramos promover atividades culturais na Fortaleza com o objetivo de ocupar e preservar nossa cultura” – fala do diretor da Fundação Fortaleza de Santa Catarina, Osvaldo Carvalho.

Ellyka Gomes – Fotos> Rizemberg Felipe

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