Pegadas de dinossauros na Paraíba correm o risco de desaparecer

Paraíba

Um grupo de pesquisadores de São Paulo alerta para o desaparecimento de uma trilha de pegadas de dinossauros no Monumento Natural Parque Vale dos Dinossauros (MONAVD), que abrange várias cidades do Sertão do Estado.
Três pesquisadores especialistas em pegadas da Universidade Federal de São Carlos (UFSC) e um geólogo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) detectaram o desaparecimento e a degradação de pegadas em uma importante trilha de pegadas, que é um modelo de referência internacional para a comunidade científica.
De acordo com a pesquisadora Aline Ghilardi, as pegadas existem há mais de 136 milhões de anos, mas estão expostas há cerca de um bicentenário. As trilhas ficaram conhecidas na década de 20, após um empresário encontrar e comunicar o caso à paleontólogos. Desde então, o conhecido “rastro de Sousa”, modelo para pesquisa na área no mundo inteiro está exposto sofrendo além da degradação natural do tempo e fenômenos, uma interferência humana.
Estudo. Na observação recente dos pesquisadores, a passagem de boiadas também acelera a degradação e perdas dos registros.
“Visitamos Sousa desde 2009, mas essas pegadas são descritas desde 1979. Eu vim procurando um tipo de pegada que existia, e quando cheguei algumas dessas pegadas não estavam mais lá. Existem 12 pistas de pegadas de dinossauros que eram visíveis em 1970 e hoje os visitantes não conseguem mais visualizar. Desde que as pegadas foram expostas geologicamente, elas estão sendo destruídas por processos naturais, mas ações antrópicas (humanas) também podem acelerar esse processo”, explicou.
Segundo Ghilardi, que já havia registrado o primeiro registro corporal de um dinossauro em 2014 também na região, não é momento para achar culpados, mas para fazer algo que diminua o impacto dessas perdas.
Aline Ghilardi explica que a equipe ainda não tem um trabalho científico publicado. “Mas nesse processo estimamos que as pegadas embaixo d’água estão entre 30% a 60% piores e as cobertas pelo solo, até 80% mais destruídas. A taxa de degradação chegou em um ponto que ‘encheu o copo d’água’, e quanto mais se degradam, mais acelera a destruição do fóssil” ressalta a pesquisadora.
Sudema diz tomar providências

Por meio de nota, a Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema) confirmou que está ciente da opinião da pesquisadora, mas que necessita ouvir outras opiniões. “Sobre as afirmações da degradação das pegadas e seu desaparecimento, afirmamos que todas as possíveis ações já estão sendo tomadas para a preservação do registro histórico.
Toda Unidade de Conservação (UC) possui um Conselho Gestor que auxilia o órgão gerenciador a enfrentar os problemas locais, e com o Vale não será diferente, levaremos a problemática para ser discutida”, diz a nota.
Manifesto lista medidas emergenciais
O movimento Sousa Titan “Vale a pena lutar pelo Vale” divulgou um manifesto no qual lista medidas imediatas e a médio e longo prazo para preservação dos registros. A medida mais urgente solicitada pelos ativistas, que devem ser cumpridas dentro de semanas, é a reforma da cerca do Parque.
“A finalidade principal é evitar a entrada de gado. É necessário também um ajuste de conduta por parte dos proprietários de áreas imediatamente vizinhas, que devem zelar por seus animais, impedir a invasão e evitar a danificação da cerca”, diz o manifesto do movimento, coordenado por César Nóbrega.
Medidas
▶ Curto prazo (próximos três meses) – Confecção do Plano de Manejo da Unidade de Conservação MONAVD, para que isso possibilite ações de ajuste na unidade, incluindo obras visando a preservação das pegadas.
▶ Permanência, no MONAVD, de pelo menos dois vigias durante o período diurno. A finalidade é evitar a invasão da área de proteção por turistas.
▶ Médio prazo (próximos seis meses) – Construção de um muro de arrimo para evitar a erosão das camadas inferiores às pegadas do sítio Passagem das Pedras e consequente desestabilização da laje superior que contém os icnofósseis.
▶ Investimento em divulgação do patrimônio paleontológico local por meio de palestras, congressos e outros eventos, distribuição de cartilhas, atividades nas escolas junto a alunos e professores, oficinas, etc. É importante, inclusive, informar à população o que fazer caso encontrem novos sítios fossilíferos na região.
▶ Ajuste da infraestrutura do MONAVD, que leva o turista às pegadas: pontes, passarelas e sinalização. Isso tem o propósito não apenas de garantir que o turista não invada a área das pegadas, mas também a segurança dos mesmos, já que estas estruturas encontram-se deterioradas.
▶ A sinalização adequada também é importante, já que faltam informações sobre as pegadas junto às trilhas.
▶ Longo prazo (próximos dois anos) – Ajuste da obra de desvio do Rio do Peixe dentro do MONAVD de maneira a evitar a erosão causada pelas águas e também o aporte de sedimentos para a área das pegadas.
▶ Limpeza do pavimento de pegadas do sítio Passagem das Pedras, retirada da vegetação e sedimento que cobrem partes das pistas. O ácido húmico produzido pela vegetação que cresce sobre o pavimento deteriora significativamente a rocha que contêm as pegadas.
▶ Construção de uma cobertura para a área das pegadas do sítio Passagem das Pedras, do MONAVD. Isso garantirá efetivamente a preservação desses icnofósseis, evitando por fim a ação da chuva e do sol na degradação das rochas.
▶ Adequação do espaço museológico do MONAVD, em especial a Reserva Técnica para que esta possa vir a abrigar material resgatado de outros sítios paleontológicos em risco.
▶ Criação de um Instituto de Pesquisas do Patrimônio Natural e Cultural do Vale do Rio do Peixe. Este ajudaria a fiscalizar e garantir o estudo/pesquisa, divulgação e preservação do patrimônio paleontológico do Vale do Rio do Peixe.
▶ Ações para recuperação e preservação dos outros sítios de interesse paleontológico na região do Vale do Rio do Peixe, incluindo o resgate de material paleontológico. Para isso é necessário uma avaliação técnica das necessidades particulares de cada sítio.
▶ A contratação de um paleontólogo que atue como curador da coleção do museu do MONAVD, formalize um livro tombo e zele pelos materiais ali depositados. Este profissional também poderá ser responsável por atitudes de divulgação, pesquisa e preservação dos sítios paleontológicos da região e responsável por consultorias paleontológicas.
Renata Fabrício – Jornal Correio da Paraíba