Porteiros paraibanos no Rio de Janeiro são tema de livro

Cotidiano

“Em junho de 1995 saí da minha cidade natal, Serra Branca, no Cariri da Paraíba para tentar a sorte na cidade grande, o Rio de Janeiro, eram tempos difíceis, aí aproveitei o convite do meu irmão e fui”. O relato de Cristiano Félix de Lima, 41 anos, é apenas um dos tantos casos de um paraibano que foi tentar a vida na cidade maravilhosa, o Rio de Janeiro. Na época, a migração nordestina para o Sudeste nem estava no seu ápice, mas deu tanto certo que ele se mantém no mesmo emprego como porteiro há 18 anos.
A migração nordestina ou êxodo nordestino para outras partes do país teve seu ápice de 1930 a 1980, quando o Brasil se desenvolvia industrialmente, principalmente no Sudeste, Rio de Janeiro e São Paulo, as maiores cidades do Brasil até hoje. A estagnação econômica, as constantes secas, em contraste com a prosperidade econômica de outras regiões do país foram fatores determinantes no início do processo.
Recentemente ocorreu o lançamento do livro “Da minha porta, vejo o mundo”, de Aydano André Motta, com fotos de Paulo Marcos de Mendonça Lima, que conta um pouco da história dos porteiros nordestinos na cidade, a trajetória de 13 porteiros de várias gerações (oito deles paraibanos) – o mais velho, nascido em 1934; o mais novo, em 1986 –, que se espalharam pelo Rio.
“Os filhos do chão rachado se rebelam contra o destino de pobreza para se reinventar longe de casa, toureando a saudade, o preconceito e o rigor econômico, na construção de uma vida nova. Vencem – e, no bojo, transformam-se em personagens fundamentais de uma cidade. Os porteiros do Rio de Janeiro servem como exemplo do que os seres humanos são capazes, quando movidos pela determinação”, diz parte da apresentação da obra.
Para o jornalista e escritor pernambucano Xico Sá, que faz a apresentação do livro, o nordestino é um povo andador, desbravador, cigano, que vai embora muitas vezes a contragosto, mas segue com braveza a sua saga.
“A nossa marca está em todas as grandes metrópoles, nos trabalhos mais diversos, na construção civil, nas linhas de montagem das fábricas e também na produção cultural e artística. O capítulo dos porteiros, principalmente os porteiros paraibanos do Rio de Janeiro, é um caso especial, por isso mereceu esse belo livro. Essa gente enfrenta a dureza do cotidiano carioca com um humor de resistência capaz de transformar cada portaria em um portal de bons serviços e sabedoria”, diz.
Lima, que deixou ontem sua terra natal, onde foi passar as férias e rever a família, é um dos 13 porteiros que fazem parte da obra. “Na época eu não tinha emprego, minha família era e é de agricultores. Agora faz 18 anos que trabalho com porteiro em um condômino no bairro de Laranjeiras, no Rio, mas sempre nas férias venho a Serra Branca ver a família, já que a saudade é grande. Se eu tivesse como eu voltava”, revela.

Érico Fabres – Jornal Correio da Paraíba