Corridas de rua movimentam turismo

Cotidiano Destaque

Se a corrida conquistou uma série de adeptos nos últimos anos, hoje ela alcançou novo patamar. É cada vez maior o número de pessoas que leva o esporte muito a sério, e não apenas como hobby ou alternativa de prática esportiva de rotina. Isso pode ser verificado, por exemplo, pela quantidade de corridas de rua em todo o país, atraindo não só profissionais, que lutam pelas premiações, como também amadores que treinam forte e buscam apenas a superação pessoal e o prazer do alcance de metas.
O crescente interesse pelo esporte e o aumento dos eventos para esse público têm levado as pessoas a procurarem competições em diversas partes do país e até em destinos internacionais.        O boom das corridas, nesse caso, tem gerado um efeito positivo na cadeia produtiva do turismo, já que os competidores que são atraídos acabam movimentando diversos elos desse setor, como hotéis, restaurantes, comércio e agências de viagem. Só no segundo semestre de 2018, foram realizados 44 corridas por todo o Estado, sendo 22 delas na Capital.
Em algumas agências, por exemplo, os resultados têm sido comemorados. O estimado pela Associação Brasileira de Agências de Viagens na Paraíba (Abav-PB) é que a busca de pacotes para competições esportivas em 2018 foi 40% maior que em 2017. “Essa procura virou uma febre e trouxe um grande aquecimento para o setor, seja para corridas de rua ou para competições de bicicleta”, contou o vice-presidente da instituição, Luciano Lapa.
De acordo com Lapa, existem empresas que assessoram os corredores e que por vezes fecham pacotes para um calendário de corridas que perdura todo o ano. Em alguns casos, os pacotes são contratados para 14 destinos diferentes em um único ano. “Isso tem sido sentido com muito mais força de um ano para cá, há um verdadeiro boom de eventos e de pessoas interessadas em participar”, avaliou.
Os destinos buscados são variados. Os corredores paraibanos costumam dar preferência às corridas em Florianópolis, Brasília e Fernando de Noronha. O destino internacional que tem liderado a lista é o Chile. No que se refere a quem opta pelos pedais, as competições dentro do Estado chamam atenção. “Alguns grupos já fecharam negócio para participar de eventos em Areia e na Pedra da Boca”, contou Lapa. O Tour de France, na França, e as rotas de Santiago da Compostela, na Espanha, também possuem muitos adeptos.

Corredores se associam para praticar o esporte

Na Paraíba, corredores amadores ou profissionais começam a se articular em entidades. É o caso da Associação de Caminhantes e Corredores de Rua da Paraíba (Ascorpa). O grupo articula eventos locais e também auxilia seus membros na participação de eventos pelo mundo. “A corrida de rua foi o esporte que mais cresceu no país por ser fácil e barato. Basta comprar um tênis e começar, tendo de preferência acompanhamento médico e de um profissional de educação física”, afirmou o presidente Normando José.
De acordo com Normando, diversos grupos estão prontos para participar de corridas ainda este ano. “Temos 15 atletas com pacotes fechados para a São Silvestre, em São Paulo, e 30 que vão para a Corrida do Mel, em Natal. Há também quem vá participar da Maratona de Boston, nos Estados Unidos”, relatou. De acordo com ele, chega-se a articular 20 viagens em um ano, incluindo principalmente a Corrida da Pampulha, em Belo Horizonte e as meias maratonas do Rio e São Paulo.
Luan Tobias Santos, de 23 anos, entrou no mundo das corridas em 2013. Morador de Rio Tinto, ele já esteve em João Pessoa diversas vezes para correr, além de ter participado de maratonas como a São Silvestre e competições de corrida dentro dos Jogos Brasileiros. Neste fim de ano, pretende viajar a São Paulo mais uma vez para participar da principal disputa do gênero no país. De acordo com ele, o tipo de prova pesa mais na hora de escolher os destinos. “Opto sempre pelas mais conhecidas”, afirmou.
O atleta conta que não viaja sozinho e faz o possível para aproveitar as atrações da cidade quando tem tempo disponível. “Eu particularmente sempre vou com minha família para as corridas. Algumas vezes dá tempo de passear. Gosto de sair pela cidade andando, comprando lembrancinhas, recordações”, afirmou.

Cidades devem estar preparadas

As cidades que já contam com esses eventos e outras com potencial para entrar nessa rota podem se planejar para aumentar o interesse dos corredores com o intuito de estimular o turismo, como indica a especialista em viagens Lorena Peretti, da Minds Travel. A preparação deve partir das gestões, das empresas que promovem as corridas e até mesmo da própria rede de turismo.
“Algo importante de evidenciar é que esse corredor vai até a cidade para participar da competição. Ou seja, ele(a) espera um trajeto favorável, em um horário agradável, e com o suporte necessário para fazer e concluir a prova”, explicou Peretti. De acordo com ela, incluir esse indivíduo no circuito turístico começa com a entrega de uma competição com qualidade.
A prova deve, ainda, expor o melhor que a cidade oferece. “Esse atleta deve poder ter contato com as paisagens durante a corrida que fará. Diante da experiência positiva na prova, a chance dele estender o período na cidade é maior”, explicou a especialista. A ideia é que, mais do que receber o atleta para o evento, a cidade o estimule a permanecer por mais tempo, aproveitando outros atrativos locais.
Conhecer o perfil desses corredores, nesse caso, é essencial por garantir a oportunidade de oferecer a eles uma experiência adequada. De acordo com dados levantadas pela Minds Travel, 43% dos corredores brasileiros têm entre 25 a 35 anos, 57% preferem correr sozinhos, e 44,8% optam por treinar de manhã.
De posse desses dados redes hoteleiras poderiam se adaptar para a oferta de um serviço diferenciado. “Oferecer o café da manha mais cedo, com nutrientes adequados, e passeios mais amenos para os corredores antes ou após as competições podem ser ótimas dicas para atendê-los bem e melhor”, sugeriu Peretti.
A empresa afirma que o boom das corridas já é perceptível em todas as regiões do país e a tendência é de multiplicação dos eventos. Entre as provas mais procuradas em nível nacional estão a Maratona Cidade de Salvador, São Silvestre, Dez Milhas Garoto (Espírito Santo), e Meia Maratona do Rio de Janeiro e SP.

João Pessoa na rota

A Paraíba, além de “exportar” corredores, também tem recebido pessoas para participar de corridas locais. O evento mais famoso no Estado é a meia-maratona de João Pessoa, disputada no aniversário da cidade, dia 5 de agosto. Outro evento tradicional é a etapa Paraíba da Track&Field Run Series, que acontece no próximo dia quatro de novembro na Capital. A corrida está em seu segundo lote, com inscrições abertas até o dia anterior à prova.
Também já integram o calendário da cidade a Corrida Qualidade Caixa, o Circuito de Corridas Farmácias Pague Menos e a Jampa Run, entre outras. Deste domingo (13) até o final do ano, ao menos 14 corridas serão realizadas em todo o estado, oito delas na Capital.
De acordo com a presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis na Paraíba (ABIH-PB), Manuelina Hardmann, o Estado tem sentido esse efeito. “Todo evento possui um potencial enorme de fomentação do turismo e nós temos sentido isso com as corridas também. Elas movimentam não apenas os hotéis, mas também restaurantes e outros setores”, afirmou.
Hardmann diz que é impossível mensurar o quanto esses eventos impulsionam a ocupação dos hotéis pelo fato de, muitas vezes, eles acontecerem em concomitância com outros eventos, mas afirma que as corridas cumprem papel importante. “Esse tipo de evento nos ajuda a atrair uma demanda em períodos menos procurados. Eles reduzem a sazonalidade da procura”, explicou.
Arthur Araújo – Fotos: Kelson Rodrigues