A liberação para que companhias aéreas pudessem cobrar pelo transporte de bagagens trazia consigo a promessa de passagens mais baratas para o consumidor. Analisando o levantamento de preços médios feito pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) é perceptível uma ligeira queda nos valores, mas a sensação do consumidor, na prática, é outra. De acordo com o diretor da Agência, José Ricardo Botelho de Queiróz, o grande ganho para o consumidor com a medida foi na transparência. Uma queda real no preço, no entanto, depende de uma “construção” das empresas do setor.
Em entrevista exclusiva ao CORREIO, Queiróz começou fazendo ressalvas ao ser questionado sobre o tema. “O que é importante que as pessoas entendam é que a aviação é uma atividade privada, não existe capital público ali. As empresas são livres na definição do modelo de negócios, podendo decidir para onde vão voar e qual preço vão oferecer. Nem o Governo, nem a Anac regulam isso.”, explicou.
O presidente aponta que, no modelo antigo, todos os passageiros tinham, embutidos nos preços das passagens, o valor de uma mala de 23 quilos. “O que era verificado é que um terço dos viajantes não despachava malas. Essas pessoas estavam fazendo subsídio cruzado, pagando pela bagagem dos outros passageiros. O que a Agência fez foi retirar essa regra, que causava alguma distorção e dar essa escolha ao consumidor”, defendeu.
Queiróz entende que o passageiro ganhou por saber o que está comprando. “O que é importante é que o consumidor ganhou mais transparência. Antes havia uma venda casada. Não importava o perfil do passageiro, ele teria que pagar pelos 23 kg. Hoje ele pode escolher. As empresas passaram a oferecer passagens sem franquia de bagagem ou com franquia a um preço um pouco maior”.
Sobre a manutenção dos preços, o presidente da Anac diz que a Agência ainda espera por isso na prática, já que é o mais comum em mercados competitivos. “A desregulação da bagagem traz uma redução de custos para as empresas. Isso acontece porque a tendência é que os passageiros, com esse incentivo, passem a viajar mais leves, com menos bagagem. Em mercados competitivos, quando as empresas conseguem reduzir custos a tendência é que repassem para as passagens, mas é toda uma construção”, avaliou.
Cobrança por assentos e comida “faz parte do negócio”
Outros procedimentos que acabam desagradando viajantes é a cobrança por reserva de assentos ou até mesmo pelo lanche servido nas aeronaves. José Ricardo Queiróz, no entanto, afirma que essa cobrança faz parte do modelo de negócios desse setor.
“São dinâmicas do mercado e que as empresas lançam mão, mas fazem isso por existir um mercado consumidor interessado. Se tem pessoa interessada em pagar por mais conforto, a empresa consegue com nisso uma fonte de receitas extra e, por isso, consegue oferecer um preço mais baixo no serviço essencial”, explicou o gestor.
De acordo com ele, essa é uma prática verificada na aviação comercial de diversos países. “Essas não são maldades de empresas brasileiras. São práticas observadas em todos os mercados de aviação civil do mundo”. Ele ressalta, no entanto, que é essencial que os consumidores se informem a respeito dos serviços. “O que é mais importante para que isso aconteça é que o passageiro seja bem informado, saiba exatamente o que cada empresa está oferecendo e se vale a pena ele pagar”, orientou.
Outro fator que, segundo Queiróz, contribuiria com a redução dos valores cobrados por serviços de aviação seria o aumento da concorrência. Para isso, ele defende o fim da restrição ao capital estrangeiro no setor. “É importante que tenha mais empresas voando no Brasil. Em todos os outros setores da economia os estrangeiros podem investir livremente, porque não permitir investimentos nas empresas aéreas brasileiras e no surgimento de novas empresas?”, questionou.
Na interpretação do presidente da Anac, o movimento traria automaticamente uma diversidade das empresas no mercado, até mesmo as que trabalham em estilo low cost, com preços muito baixos. “Atualmente seis empresas demonstraram interesse em voar para cá em trechos internacionais, como é o caso da chilena Sky, que começa suas atividades este mês de novembro. “Se abríssemos o mercado talvez elas viessem a se constituir no Brasil e poderiam inclusive voar como empresas domésticas de bandeira brasileira”, projetou.
Aeroportos geridos em bloco
Os planos de privatização dos aeroportos devem avançar ainda este ano. De acordo com o presidente da Anac, a Agência está trabalhando no contrato e no leilão, que devem acontecer ainda este ano. A ideia é que os aeroportos passem a ser geridos em bloco. “A gente tem que aguardar e ver se vai haver interesse nesse bloco [do Nordeste]. Esperamos que sim”, afirmou José Ricardo Queiróz.
O gestor destaca que a Anac não é responsável por esse modelo, que foi definido pelo Governo Federal, mas que existe uma racionalidade já que permite uma gestão mais eficiente dos equipamentos, pensando em todos com maior unidade. “Em termos de estrutura de custo, a futura concessionária tem condições de otimizar investimentos e definir em arranjos com as empresas aéreas quais os melhores ajustes em termos de malha e conectividade”, explicou Queiróz.
Ele aponta ainda que não é só a empresa aérea que estará interessada em integrar esses os mercados para promover maior conectividade. “O próprio bloco vai ter melhores condições de analisar a origem real do passageiro, se está saindo de carro de Campina para vir pra cá”, exemplificou. Para ele, o resultado seria uma gestão mais benéfica e com ganhos para os passageiros.
Arthur Araújo e Fábio Cardoso