Bolsonaro fala sobre prioridades para o Turismo brasileiro

Fábio Cardoso

O presidente eleito Jair Bolsonaro revelou nesta segunda-feira (05), em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, em sua residência no Rio de Janeiro, que pretende promover uma pequena revolução na atividade turística do Brasil e que poderá mexer com as legislações ambiental, trabalhista, tributária, a diplomacia internacional e, principalmente, a segurança pública.

Bolsonaro disse que é inadmissível o Brasil receber menos turistas do que países que não têm metade do potencial que o país tem, com uma imensa diversidade cultural, gastronômica, ambiental e de infraestrutura.

Porém, o presidente eleito afirmou que irá mexer diretamente nos maiores gargalos do Brasil, como a segurança pública. Na opinião dele, não existe turismo sem segurança e atualmente o país não oferece garantias necessárias para atrair turistas estrangeiros, que preferem locais com maior poder de garantir tranquilidade. Nesse campo, Bolsonaro disse que a nova política de segurança beneficiará diretamente a atividade turística. “A insegurança afasta os turistas”, apontou.

Outro ponto citado pelo presidente eleito diz respeito à legislação trabalhista e os tributos. Na opinião dele, é prioridade mexer nesses dois pontos para tornar o Brasil um destino atrativo para os cruzeiros marítimos, por exemplo. O país é 40% mais caro para as armadoras de cruzeiros, que estão reduzindo drasticamente o número de navios, buscando destinos mais compensadores financeiramente.

Para o presidente da Clia Brasil, entidade que representa o setor de cruzeiros no país, Marco Ferraz, os custos para se operar no Brasil “são absurdos”. Segundo ele, os cruzeiros têm no Brasil custos muito mais altos do que na média mundial. E isso acaba atrapalhando a competitividade. “As empresas que poderiam trazer navios pra cá acabam enviando para China, Austrália, Caribe e Europa. Precisamos trabalhar com urgência na redução de custos”, afirmou Ferraz.

Outro fator proibitivo para as armadoras, segundo o executivo da Clia Brasil, são os impostos. “As empresas de fora acabam sendo obrigadas a contratar escritórios só para cuidar da burocracia. Isso assusta e gera custos. Um exemplo disso é o PIS e Cofins em combustível que os navios de passageiros desembolsam, muito acima do que pagam os navios de carga”, apontou.

Ainda de acordo com Ferraz, as questões trabalhistas são um dos maiores entraves do setor. Na opinião unânime dos empresários da área, existe a necessidade de uma melhor interpretação do poder Judiciário do Brasil no que diz respeito às convenções do trabalho marítimo nos cruzeiros.

Segundo diz Naim Ayub, diretor da Costa Cruzeiros, o país está na contramão ao não respeitar as regras, normas e convenções internacionais. “Temos 50 nacionalidades diferentes dentro de um navio regidas pela mesma convenção internacional. Os brasileiros, no entanto, seguem outra norma, o que influencia na harmonização a bordo e uma maior rotatividade de funcionários.”

E os números do setor de cruzeiros marítimos não são pequenos. Na temporada 2010-2011, os mares brasileiros chegaram a receber o recorde de 20 navios de passageiros, com 800 mil turistas. Porém, nos anos anteriores esse boom foi caindo e desanimando o segmento, mesmo reconhecendo o imenso potencial de turistas. No ano passado, apenas sete navios navegavam pelo litoral brasileiro. “Perdemos 13 navios e caímos para 358 mil cruzeiristas”, apontou Ferraz.

Mas, o Brasil sempre contraria a tudo mesmo nas dificuldades. Na última temporada, de setembro de 2017 a abril de 2018, o setor faturou R$ 1,8 bilhão, segundo estudo da Clia Brasil em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV). “O potencial dos cruzeiros no Brasil é imenso e os números mostram que estamos retomando um leve ritmo de crescimento. Podemos crescer mais se tivermos melhorias na regulação do setor, infraestrutura, custos e desenvolvimento de novos destinos. Se estivéssemos com o mesmo número de crescimento da temporada 2010-2011, o impacto já poderia ter ultrapassado R$ 4 bilhões.”

Bolsonaro também citou a ampliação da emissão dos vistos eletrônicos para outros países, além dos que já estão em pleno desenvolvimento. Existe uma crescente procura pelos vistos eletrônicos para o Brasil, segundo o Ministério do Turismo, o que tem evidenciado que as medidas de facilitação de visto são fundamentais para o aumento da atração de viajantes internacionais.

Desde a entrada em vigor do visto eletrônico para Austrália, Canadá, Japão e Estados Unidos, em janeiro deste ano, o número de pedidos de entrada no país cresceu 41%, passando de 57.548, em 2017, para 81.123 neste ano. Foram considerados os meses de fevereiro, março, abril e maio. Nesse período, 75% dos pedidos de vistos dos países estratégicos, foram eletrônicos.

Sobre a legislação ambiental, Bolsonaro revelou que pretende rever praticamente tudo. Ele exemplificou a Baía de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, como um ponto negativo para a atividade turística, que limita, segundo ele, o afundamento de navios para a ampliação do turismo de mergulho. Na opinião do presidente eleito, Angra é um paraíso proibido de crescer por questões ambientais, mas que poderia ser revisto para o desenvolvimento econômico da região.

Fábio Cardoso

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