Campina Grande e Caruaru driblam a crise e produzem festejos juninos milionários

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Mês de junho é sempre lembrado pelas festas de São João no Nordeste. Nos últimos anos, a região sofreu com a seca no semiárido, que colocou Caruaru (PE) e Campina Grande (PB) em situação de emergência por cinco anos, sem falar na crise econômica, que reduziu os repasses às prefeituras. Mesmo assim, as duas maiores festas da região foram buscar na iniciativa privada recursos para manter a tradição. Para este ano, prometem festas ainda maiores que nos anos anteriores, com investimento estimado em R$ 24 milhões na estrutura e em cachês de artistas como Ivete Sangalo, Wesley Safadão, Bell Marques e Elba Ramalho.

Nas duas cidades, as festas movimentam R$ 400 milhões na economia, com público estimado de 4 milhões de pessoas nos 30 dias de forró. Para se ter ideia da importância da festa para as cidades, Caruaru e Campina Grande conseguem arrecadar mais em impostos em junho do que em dezembro, quando há o pagamento de 13º salário e vendas de Natal. Caminhos diferentes para bancar a festa.

Caminhos diferentes para bancar a festa

As duas cidades sempre rivalizaram pelo título de melhor e maior São João do mundo. Hoje, elas se dividem não só no calendário, mas no modelo de realização da festa. Os pernambucanos trouxeram de volta ao poder público a organização e captação de recursos para a festa, enquanto os paraibanos fizeram o caminho oposto: passaram a apostar em parcerias com o setor privado. Nos dois casos, com cofres vazios, os gastos municipais caíram, mas o número de apoios e patrocínios cresceu.

Caruaru arrecada recursos via Lei Rouanet

Em Caruaru, a prefeitura aposta que em 2019 terá uma “festa sustentável” pela primeira vez. No ano passado, o evento custou R$ 13 milhões, mas apenas R$ 800 mil foram custeados pelo município. “Para este ano quero arrumar essa diferença, e a festa se pagar. E já estamos pertinho de alcançar”, disse José Melo Neto, secretário de Desenvolvimento Econômico e Economia Criativa de Caruaru. Ainda não há um número oficial de custo deste ano, mas a festa deve bater perto de R$ 14 milhões.

Até 2016, a prefeitura contratava uma empresa para a realização da festa. A partir de 2017, decidiu trazer a gestão para o poder público. “No modelo antigo, a gente perdia um pouco do domínio da parte comercial e até mesmo da cultural. Agora, cuidamos da parte de gestão, com a prospecção e a captação de recursos”, afirmou.

Desde o ano passado, a prefeitura conseguiu inserir o São João de Caruaru na Lei Rouanet. Para este ano, foi autorizada uma captação de R$ 4,3 milhões, mas a prefeitura deve enxugar o projeto para R$ 1,5 milhão. “Em um projeto cultural, se faz muito com pouca coisa”, afirmou.

Para inserir o São João na lei, a prefeitura fez dois projetos distintos para patrocínio: um de São João cultural, com as festas em polos espalhados pelos distritos e zonas rurais; e o São João pop, com patrocínio de grandes empresas nacionais, como cervejarias, companhias de cartão de crédito e aplicativos. “Com essa arrecadação ampliada graças à confiança do mercado na festa, a gente vem conseguindo passar por essa maré da crise financeira. E a festa este ano terá mais dois polos”, disse Neto.

A festa em Caruaru reúne milhares de pessoas durante todos os dias do evento

Campina Grande: empresa organiza tudo

Campina Grande seguiu o caminho oposto de Caruaru e, desde 2017, apostou em editais para contratação de uma empresa para organizar toda a festa. O modelo é de parceria com o setor privado, em que toda a festa fica nas mãos da vencedora do edital de licitação.

Segundo o prefeito Romero Rodrigues (PSDB), a prefeitura chegou a bancar o evento com R$ 10 milhões em anos anteriores –o que se tornou inviável após a crise iniciada em 2016.

“Em 2016, por exemplo, a prefeitura gastou só de estrutura R$ 4,6 milhões e, com artistas, R$ 3,6 milhões. Fora hospedagem, passagem, fogos, segurança privada. Com a crise econômica, a gente ia ficar com dificuldade de manter isso porque tínhamos outras prioridades e, então, quando assumi para minha reeleição, estudei uma forma de fazer a festa, e adotamos o modelo PPP (Parceria Público-Privada)”, afirmou.

No ano passado, a prefeitura precisou bancar R$ 2,99 milhões. Este ano, Rodrigues alega que o valor caiu R$ 2,84 milhões. Mesmo pagando menos, a festa deve ser maior e bater os R$ 11 milhões em custo total, com show de abertura de Ivete Sangalo. “A festa hoje é bem melhor. Antes, o artista local fazia show e havia uma grande demora em pagar o cachê. Hoje, ele recebe uma semana antes, e isso dá até mais motivação”, disse.

UOL

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