Andando pelas ruas quase vazias de um domingo pela manhã, um senhor me aborda para trocar alguns minutos de prosa. “Como essa cidade é tranquila, não é?”, perguntei para ele, que concordou imediatamente. Sabendo que era de outra cidade, “de fora”, como se referiu, o senhor contou em alguns minutos, acho, metade de sua vida de 78 anos vividos apenas em Juru, no Sertão da Paraíba. “Não troco a minha pequena cidade por nada”.
Esse diálogo em um domingo cedo, sem nenhuma nuvem no céu, retrata a simpatia, a alegria e o pertencimento ao qual esse morador fez questão de demostrar, no dia seguinte de muita movimentação, muito corre-corre, muitas surpresas com a abertura do Circuito Som nas Pedras, que aconteceu no final da tarde de sábado (31).
Juru é uma cidade pequena com menos de 10 mil habitantes, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2018. Vive basicamente da agricultura e da renda de aposentados e dos servidores públicos. Renda pequena, que ainda faz as pessoas comprarem um simples batom de R$ 5 usando a caderneta de anotações na farmácia, como fez uma garotinha que queria ficar mais bonita para a festa que aconteceria logo mais tarde.
No final da tarde, todos os caminhos levavam ao Lajedo Laje Grande, cenário natural onde aconteceram as apresentações dos artistas que integraram a programação do Circuito Som nas Pedras. O palco das apresentações foi a natureza, e ela correspondeu a todas as expectativas criadas na chegada ao imenso teatro ao ar livre. Foi impactante a chegada e o sol, um dos convidados especiais, igualmente não decepcionou o grande público que se concentrou no lajedo.
Uma curiosidade no pôr do sol gerou comentários interessantes. O astro rei demorou a se pôr, dando a impressão de que também gostaria de contemplar o que estava para acontecer. Assim que começou a anoitecer, a lua nova passou a ser vista com o mesmo esplendor da despedida do sol. Nesse momento, o vento começou a soprar mais forte e mais frio, criando um ambiente em que o temperamento da natureza era quem ditava as regras do ambiente.
O Circuito Som nas Pedras, projeto cultural que irá reunir outras nove cidades paraibanas até o final de novembro, reflete exatamente o momento vivido pelos moradores de Juru, que foram excelentes anfitriões dos turistas que prestigiaram as apresentações culturais. No pico do Lajedo Laje Grande, onde foi construída a Capela de São João Batista, cerca de duas mil pessoas se concentraram em um pequeno espaço para assistir os shows.
Ao som da Orquestra Jovem Prima Polo de Itaporanga – um projeto cultural que reúne jovens instrumentistas -, integrantes do Grupo de Bacamarteiros Gaviões da Serra faziam um dos mais belos espetáculos da tarde/noite. Bacamarte é uma arma de fogo, também conhecida como granadeira que, utilizada durante a Guerra do Paraguai, em 1865, no Nordeste, foi adaptada nas festas do interior de Pernambuco, fazendo parte da cultural do interior nordestino a partir de então.
O que se viu na sequência, foi uma série de apresentações de artistas da terra, como a Banda Marcial Capitão Dalmo Teixeira – Maestro Newmar Possidônio, Maestro Zé Mário; Ballet do SCFV – Secretaria de Assistência Social; Grupo de Bacamarteiros Gaviões da Serra; Banda Cabaçal Mestre Zé Pretinho, de Tavares; Grupo de Xaxado Escola Possidônio da Costa Veras, do Povoado de Cachoeira dos Costas, Secretaria de Educação. Também houve a participação de João Vanildo, compositor juruense, e Luiz do Acordeon.
Uma apresentação a parte e uma das mais emocionante da noite foi protagonizada pelos integrantes do grupo Reisado da Terceira Idade ‘Alegria de Viver’, que encantou e parecia que não queria mais sair do palco, tamanha a disposição e vitalidade de seus integrantes.
Paralelo às apresentações culturais, ao lado oposto da Capela, várias famílias e pequenos comerciantes montaram suas barracas e tiveram a oportunidade de vender comidas típicas, um dia de aumentar a renda. Nada muito caro. Caldinhos, por exemplo, eram vendidos a R$ 2. Já um pedaço de bolo de chocolate saia por R$ 3. O movimento foi bastante intenso, reforçando também o espírito do projeto cultural, de gerar renda.
A festa terminou por volta das dez horas da noite, mas certamente entrou para a história da pequena Juru como um ícone e uma retomada para as atividades voltadas para o turismo, como fez questão de destacar o prefeito Luiz Galvão. Se depender de sua vontade e do entusiasmo dos organizadores e da população, que adotaram o projeto, no próximo ano a cidade fará a diferença.
Para o secretário de Cultura do Estado, Milton Dornellas, o resultado da primeira noite do Som nas Pedras não surpreendeu, pelo contrário, foi muito além do esperado, dando a esperança de que o caminho que Juru começou a traçar para o sucesso do projeto deverá ser seguido pelas outras cidades. Mesmo com poucos recursos, alguns improvisos e contratempos, José Carlos, secretário de Comunicação de Juru, reforçou que em 2020 o evento será ainda melhor.
No dia seguinte, caminhando pela cidade silenciosa e proseando com o aposentado, o badalar dos sinos da igreja anunciava o final da missa matinal. Na despedida dos fieis, o padre fazia a última bênção e pedia para que todos, antes de sair da igreja matriz, se cumprimentasse na paz do Senhor. Na saída, entre os muitos fieis, estavam o prefeito e a primeira-dama Dorinha. Fizemos questão de cumprimentá-los pela bela festa, pela recepção e a emoção que tomou conta de todos nós.
Fábio Cardoso e Beth Espínola (Fotos)