História e beleza natural tendo como cenário o Velho Chico em Sergipe e Alagoas

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Em meio à paisagem da caatinga do Sertão na divisa dos estados de Alagoas e Sergipe, o Rio São Francisco cria cenários majestosos ao longo de suas margens. Na região da Usina Hidroelétrica do Xingó, o turismo se desenvolve com passeios que reúnem história e belezas naturais.

Do lado sergipano do Velho Chico surge a “Rota do Cangaço”, opções de trilhas que levam à Grota de Angicos, onde Lampião e Maria Bonita e parte do banco mais famoso do cangaço foram emboscados e mortos. Já o lago formado pelas águas represadas do rio na área da usina criou belos cânions inundados que atraem turistas para um passeio agradável de catamarã até o lado alagoano, onde as formações rochosas e as águas escuras produzem um espetáculo visual único.

Um roteiro que une história, cultura e natureza e aproxima os povos de dois estados nordestinos.

O fim do bando de Lampião e Maria Bonita

A chamada “Rota do Cangaço” leva à Grota de Angico, que fica no município de Poço Redondo, em Sergipe, onde o bando do cangaceiro Lampião foi emboscado pelas volantes (polícia). No local, em 28 de julho de 1938, as forças públicas surpreenderam e mataram 11 cangaceiros, entre eles o próprio Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e a sua companheira, Maria Bonita. No meio do tiroteio, 22 integrantes do bando conseguiram fugir.

O percurso, que tem duração entre 4 e 5 horas, começa no atracadouro na margem do Rio São Francisco, na cidade de Piranhas, em Alagoas, que possui o casario da sua parte histórica tombado e bem preservado. O visitante embarca num dos catamarãs que percorre as águas do Velho Chico durante 40 minutos  No trajeto, o cenário domingante dos sertões alagoano e sergipano com sua vegetação descolorida da caatinga.

Existem duas trilhas que levam à Grota de Angico. Em ambas, o trajeto é feito com o acompanhamento de guias locais. Em ambas, o visitante encontra um caminho sinalizado, com informações sobre a vegetação local, como o mandacaru, o xique-xique, a coroa de frade e a palma.

As trilhas são opcionais, pois o visitante pode se contentar com o passeio de catamarã e ficar nos restaurantes base das duas trilhas tomando banho de rio. São oásis no meio da caatinga com árvores frutíferas, gramado e locais seguros para banho no Velho Chico.


As trilhas

A primeira trilha, mais curta, parte do Restaurante Angico na praia fluvial de Forquilha. Com 700 metros de extensão, ela foi a usada pelos policiais para chegar até o local onde o bando de Lampião estava escondido.

A segunda começa no Cangaço Eco Park, tem percurso de 1,7 mil metros e duração, dependendo do ritmo do grupo, de 1 a 2 horas. Ela segue pelo curso do Riacho Angico, cujo leito seco contrasta com o grande volume de água do Rio São Francisco que corre há algumas centenas de metros à direita.

Pedras, vegetação de caatinga e o leito seco do Riacho Angico formam a cena onde ocorreu o combate fatídico para os cangaceiros de  Lampião. No ponto exato onde tombou o “Rei do Cangaço” e a sua companheira Maria Bonita, existem duas cruzes e uma placa com o nome de como eram conhecidos os 11 cangaceiros.

A curitibana Patrícia Faccio, radicada em Maceió, explica que conhecer a Rota do Gangaço “é uma experiência diferente conhecer o local onde Lampião e seu bando viveram. Acho que o mais importante é que o próprio brasileiro, nordestino, venha conhecer sua região, venha desfrutar da história, da riqueza da nossa história”.

Em um ponto próximo, uma outra cruz marca o local da morte do soldado Adrião Pedro de Souza, o único da força atacante morto na ação. Relatos contam que ele foi executado por um oficial durante uma discussão pelos espólios dos cangaceiros.  Armas, dinheiro, joias e demais objetos do bando foram divididos entre os policiais.

Na parada no local do combate, o guia dá uma aula ao ar livre com muitos detalhes sobre os fatos que culminaram na morte de Lampião e de parte do bando Para Carla Soares, que trabalha como guia há quatro anos, é um orgulho trabalhar com a história e a cultura local. “É um resgate da nossa cultura que jamais deverá morrer. O cangaço é a nossa história  em outras épocas. Costumo dizer que não devemos olhar o cangaço de antes com os olhos de hoje. São realidades totalmente diferentes”, comenta.


Cânions do Xingó        

Um espetáculo formado pela criação do lago da Usina Hidroelétrica do Xingó, no Rio São Francisco, localizada entre os municípios de Canindé de São Francisco, em Sergipe, e Piranhas, Alagoas. O passeio até onde estão os paredões de formações rochosas parte do Restaurante Karrancas do lado sergipano. A base tem ótima estrutura, com restaurante, atracadouro e possui até passeio de helicóptero pela região. No local, é possível tomar um banho de rio e apreciar a culinária local enquanto se aguarda o embarque.

O percurso navegável dura uma hora até chegar aos cânions. Nos pontos mais profundos do lago da usina, o São Francisco, que tinha entre 30 a 50 metros de profundidade, passou a ter até 150 metros. A usina é uma das 11 construídas ao longo do São Francisco, sendo uma das nove em operação. Ela é a última antes do Velho Chico despejar suas águas no Oceano Atlântico. As águas do lago ão escuras e cobriram povoados inteiros após a construção da usina.

No percurso, ao som de muita música nordestina no catamarã, o visitante da região vai sendo informado sobre a história da criação do lago de Xingó, a vegetação e as formações rochosas.

Os cânions
Ao chegar a região onde estão os cânions, nos municípios alagoanos de Olho D´Água e Delmiro Gouveia, a embarcação navega entre enormes paredões esculpidos por milhares de anos no sertão nordestino. Dessas duas cidades também partem passeios pelos cânions. Em um ponto das margens do rio, uma imagem de São Francisco foi encravada num ponto do paredão, com acesso por uma escada. Ali acontece anualmente uma barqueata em homenagem ao santo que dá nome ao rio.

O passeio tem como opção um refrescante banho nas águas do Velho Chico. As embarcações atracam em pontos de apoio. Os visitantes ao custo de R$ 10 podem fazer um pequeno trajeto de canoa que beira os paredões, onde se observa detalhes das rochas, as cores, o efeito dos raios do Sol nas águas e nas formações rochosas.

O banho no rio acontece em uma espécie de piscinão feito de rede delimitado para evitar acidentes. No local, salva-vidas ficam de olho nos banhistas. É proibido o nado fora da área demarcada por motivo de segurança. O uso de coletes salva-vidas e “macarrões” é opcional.

“As pedras, a água, cada detalhe desse lugar, tudo é muito lindo. Eu estava muito ansiosa por esse passeio e é incrível”, relata a agente de viagens paraibana Karla Albuquerque. Opinião semelhante tem a turista carioca Leila Freitas, 70 anos e a experiência de muitas viagens pelo Brasil e por outros países. “É um passeio lindo, os paredões lindos, um passeio de barco maravilhoso”, ressalta.

Após parada de uma hora de duração para o banho, o catarmarã retoma a navegação para voltar à base em Sergipe. Novamente, os turistas podem apreciar as belezas do lago e de suas margens. Ao chegar ao ponto de partida, é hora de degustar um almoço regional e se despedir das águas do Velho Chico.

Clóvis Roberto, especial para o Turismo em Foco – Repórter viajou a convite da Foco Operadora, de João Pessoa