Apesar da grandiosidade, empresas ignoram potencial do período carnavalesco em João Pessoa

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A maioria dos blocos que saem durante as prévias carnavalescas de João Pessoa começou como uma reunião de amigos. As Virgens de Tambaú saiu a primeira vez em 1987, puxado por um Chevette, com um alto-falante adaptado no teto do veículo. A Muriçocas do Miramar também começou despretensiosamente. Em 1986, trinta pessoas percorreram o bairro seguindo uma carroça de burro, que tinha um som acoplado tocando frevo.

Hoje, eles contam com grandes estruturas e desfilam com atrações locais, regionais e nacionais em trios elétricos. Mas, embora arrastem milhares de foliões, todos os anos, os blocos encontram dificuldades para conseguir patrocinadores privados.

A reportagem conversou com representantes do Cafuçu, Muriçocas e Virgens de Tambaú. Todos foram unanimes: não dá para depender, exclusivamente, dos recursos do poder público. Mas, segundo eles, as empresas locais criam resistência em apoiar os projetos. “Infelizmente, a Paraíba não tem essa cultura e cumplicidade dos empresários”, frisou a produtora executiva do Muriçocas do Miramar, Marília Rosado Maia.

O diretor das Virgens de Tambaú, Euclides Menezes, contou que, a cada 15 empresas contatadas, apenas uma fecha algum patrocínio. “E, muitas vezes, o retorno positivo vem em cima da hora, muito próximo ao dia do bloco sair. Isso complica a organização”, revelou. Com isso, a principal patrocinadora dos blocos acaba sendo a Prefeitura de João Pessoa, por meio de sua Fundação Cultural (Funjope).

Este ano, a gestão municipal disponibilizou R$ 300 mil em estrutura para o Folia de Rua. Segundo a assessoria de imprensa da Funjope, o valor é repassado para a Associação do Folia de Rua, que fica responsável por dividir os recursos entre os blocos.

Custo alto para desfilar

Para sair na ‘quarta-feira de fogo’, o Bloco Muriçocas do Miramar demanda um custo de R$ 800 mil. O valor é para pagar atrações, orquestras de frevo e profissionais de apoio, como seguranças, além de decoração e aluguel de trios elétricos. As despesas do Bloco Virgens de Tambaú somam R$ 350 mil; e as do Bloco Cafuçu, R$ 171 mil.

Há quatro anos, o Cafuçu vem inscrevendo projetos na Lei Federal de Incentivo à Cultura, mais conhecida como Lei Rouanet, para captar recursos. Mas, para ter a verba federal liberada, o bloco precisa ter captado 20% do valor total do projeto, que é R$ 171 mil. E, há menos de uma semana para desfilar, só havia captado pouco mais de R$ 20.500.

“Seria um aporte considerável. Aumentaríamos o número de orquestras de dez para 15. Teríamos seguranças com cordas para as orquestras, equipes de apoio e duas bandas para cada palco. Ainda estamos na expectativa de captar os 20% do total aprovado na Lei Rouanet, algo em torno de R$ 34.500”, comentou o diretor do Bloco Cafuçu, Buda Lira.

Segundo ele, o Cafuçu quer alcançar a liberdade financeira. “Hoje entendemos o bloco como uma empresa, e estamos estudando formas de qualificar nosso produto. Nós temos como diferencial um bloco que reúne famílias, pessoas de todas as idades”, destacou.

Já o Bloco Muriçocas do Miramar recorreu ao financiamento coletivo para captar recursos. “Essas plataformas são tendências em grandes cidades. Nelas, os cidadãos podem contribuir financeiramente com um projeto cultural. A modalidade ainda é nova por aqui, então as pessoas ficam um pouco reticentes em participar, mas acredito que esse seja um caminho para os blocos”, apontou Maia.

Escola de Samba faz rifa e promove bingos para arrecadar dinheiro

O custo para uma escola de samba desfilar na Avenida Duarte da Silveira pode chegar a R$ 50 mil. Foi o que revelou o presidente da Escola de Samba Unidos do Roger, Paulo César. A agremiação foi a grande campeã do Carnaval Tradição 2019.

“Assim que passa o São João, a escola entra em atividade… Promovemos bingos, eventos e rifas. É um trabalho feito junto com a comunidade. Hoje contamos com mais de 400 integrantes, e todos se esforçam muito para arrecadar os recursos”, contou César.

Este ano, a escola conseguiu R$ 23 mil junto à Prefeitura de João Pessoa, por meio da Funjope. Ao todo, a gestão municipal disponibilizou R$ 460 mil para as agremiações que desfilam no Carnaval Tradição, beneficiando escolas de samba, clubes de orquestra (grupos A e B), tribos indígenas e alas ursas.

O dinheiro é aplicado na montagem de carros alegóricos, confecção de roupas e adereços e no pagamento de profissionais, como costureiras e soldadores. Assim como os blocos, as escolas de samba também têm dificuldade de conseguir patrocínio privado. “Com muita luta fechamos com cinco patrocinadores. São comerciantes do Centro da cidade e da nossa comunidade que acreditam no nosso trabalho”, comentou César.

Para o presidente da Escola de Samba Unidos do Roger, é fundamental que a população vá assistir o desfile do Carnaval Tradição e possa prestigiar o esforço das comunidades locais. “São pessoas humildes, batalhadoras, que trabalham pela cultura da nossa cidade e precisam desse apoio”, enfatizou.

Lojas investem em coleções para o Carnaval

O Carnaval está a cada ano mais colorido e brilhoso. Com as redes sociais, que permite o compartilhamento de ideias, é possível montar fantasias com peças do guarda-roupa e complementar com acessórios vendidos em lojas. Ou comprar peças divertidas, que deixam o visual alegre e descontraído, mas que podem ser utilizadas em outras épocas do ano.

A Soé – marca paraibana de brincos em acrílico – lançou uma coleção inspirada nas prévias carnavalescas de João Pessoa. A Coleção Folia de Rua trouxe três modelos de brincos para enfeitar as orelhas e criar conexão com a cultura local. “Muriçocas” e “Cafuçu” foram desenhados para homenagear os principais blocos da Capital paraibana.

Já o “Folia de Rua”, por ser colorido e vibrante, foi pensado para o contexto do Carnaval e combina perfeitamente com qualquer fantasia. “Essa estratégia projetou a Soé de uma maneira muito positiva no mercado local. A gente sabe disso porque a recepção foi incrível, tanto por nossas clientes quanto pelos parceiros”, comentou a empresária Maria Livia Cunha.

A loja paraibana Just Be It Store trouxe para o Carnaval roupas em tons neon, transparência e paetês, que foram produzidas por profissionais autônomos locais. “Foi o primeiro ano que a gente confeccionou nossas próprias peças. Queríamos que a coleção da loja se destacasse… Que a cliente entrasse e entendesse que era uma peça especial”, contou a empresária Samara Araújo.

As peças fizeram sucesso e a loja já está na segunda reposição do estoque. “Tivemos a preocupação em trazer peças que, embora coloridas, pudessem ser usadas em outras épocas do ano, porque roupa não é descartável, e a gente procura despertar essa conscientização para o consumo sustentável”, acrescentou Araújo.

As lojas nacionais também estão lançaram coleções voltadas para o carnaval. A C&A trouxe bodies, camisas e tops em recortes estratégicos, mangas bufantes e estampas de animal print. A marca investiu em tonalidades vivas de azul, vermelho e rosa, além de peças metalizadas e com aplicações de paetês.

A coleção também apresenta uma série de modelos 100% coloridos, com camisas, hot pants, camisetas, meias e acessórios que deixam o visual a cara do Carnaval brasileiro. Já a Renner trouxe peças em tonalidades, texturas e volumes diferentes, com tendências revisitadas dos anos 80 e 90.
São conjuntinhos e bodies coloridos ou metalizados, e croppeds em diversos estilos: cigana com babados, manga longa e sem manga com um ombro só, em paetê, tule ou organza, animal print ou tons neon e lenços que se transformam em top.

Ellyka Gomes – Jornal Correio da Paraíba