Cantor Moraes Moreira morre no Rio de Janeiro e, em recente cordel, falava que teria o coronavírus

Cotidiano

O cantor e compositor Moraes Moreira, de 72 anos, morreu, na manhã desta segunda-feira (13), em sua casa no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro. De acordo com a família do artista, o cantor morreu de infarto.

Moraes, um dos mais importantes artistas da música brasileira, autor de “Sintonia” e “Pombo Correio”, nasceu Antônio Carlos Moreira Pires na cidade baiana de Ituaçu. Moraes começou a carreira tocando sanfona em festas de São João. Na adolescência, aprendeu a tocar violão enquanto estudava em Caculé. Depois, mudou-se para Salvador e conheceu Tom Zé. Formou, ao lado de Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão o grupo Novos Baianos, entre os anos de 1969 e 1975.

Moraes Moreira deixa uma história de muitos sucessos e atuação importante no Carnaval de Salvador, onde é considerado o primeiro cantor de trio-elétrico. Há alguns dias, o artista publicou, em seu perfil no Instagram, um cordel inspirado na pandemia do novo coronavírus e na quarentena.

“Oi pessoal estou aqui na Gávea entre minha casa e escritório que ficam próximos, cumprindo minha quarentena, tocando e escrevendo sem parar. Este Cordel nasceu na madrugada do dia 17, envio para apreciação de vocês. Boa sorte

Quarentena (Moraes Moreira)
Eu temo o coronavirus
E zelo por minha vida
Mas tenho medo de tiros
Também de bala perdida,
A nossa fé é vacina
O professor que me ensina
Será minha própria lida

Assombra-me a pandemia
Que agora domina o mundo
Mas tenho uma garantia
Não sou nenhum vagabundo,
Porque todo cidadão
Merece mais atenção
O sentimento é profundo

Eu não queria essa praga
Que não é mais do Egito
Não quero que ela traga
O mal que sempre eu evito,
Os males não são eternos
Pois os recursos modernos
Estão aí, acredito

De quem será esse lucro
Ou mesmo a teoria?
Detesto falar de estrupo
Eu gosto é de poesia,
Mas creio na consciência
E digo não a todo dia

Eu tenho medo do excesso
Que seja em qualquer sentido
Mas também do retrocesso
Que por aí escondido,
As vezes é o que notamos
Passar o que já passamos
Jamais será esquecido

Até aceito a polícia
Mas quando muda de letra
E se transforma em milícia
Odeio essa mutreta,
Pra combater o que alarma
Só tenho mesmo uma arma
Que é a minha caneta

Com tanta coisa inda cismo….
Estão na ordem do dia
Eu digo não ao machismo
Também a misoginia,
Tem outros que eu não aceito
É o tal do preconceito
E as sombras da hipocrisia

As coisas já forem postas
Mas prevalecem os relés
Queremos sim ter respostas
Sobre as nossas Marielles,
Em meio a um mundo efêmero
Não é só questão de gênero
Nem de homens ou mulheres

O que vale é o ser humano
E sua dignidade
Vivemos num mundo insano
Queremos mais liberdade,
Pra que tudo isso mude
Certeza, ninguém se ilude
Não tem tempo,nem idade

Jornal A Tarde (Bahia)