Que o Juazeiro do Norte é destino de peregrinações em torno de um ícone da história do Nordeste, o padre Cícero Romão Batista, até o mundo mineral sabe. Mas o roteiro seguido pelos peregrinos revela gavetas funerárias emblemadas com a Cruz de Malta, misticismo sertanejo, santuários com arquitetura “militar” templário e, claro, um comércio pujante que tornou a cidade onde Virgulino Ferreira da Silva – O Lampíão, chefe do cangaço mitológico, tornou-se capitão das Forças Patrióticas de combate à Coluna Prestes, em 1926.
Com linguagem visual subliminar, os padres católicos são mestres em duas coisas: embutir símbolos e replicar arte e arquitetura. Eles esbanjam essa técnica em Juazeiro.
Em 2017, fomos ao Juazeiro do Norte, conferir o universo do Padre Cícero e do beato Zé Lourenço e, para minha surpresa, descobrimos outras maravilhas visíveis. Entretendo, percorrer tudo sem um guia que domine rituais e arte cristãs além do misticismo sertanejo, é passar batido no universo religioso do Padre Cícero.
Arquitetura e arte muito além do Museu de Cera, da Residência do Padre e seu túmulo.
No Santuário dedicado a S. Francisco das Chagas, uma profusão de mensagens: cruzes dos Cavaleiros Templários em gavetas funerárias e por todos os lados, incluindo brasão da Cavalaria Espiritual de S. Francisco; Abóbada decorada com a Escada de Jacob, estrelas de cinco pontos, que remetem ao Pentagrama judaico e que para o Ocidente foi popularizado por Pitágoras, ao afirmar que o 5 era o número do Homem. Além do Cristo, é claro.
Igreja dentro de um complexo “militar” templário, em forma de muralha, em que romeiros pagam penitências dando seis voltas, recorrendo sempre à rituais com muitos fogos de artifício e buzinaço para anunciar os peregrinos da fé no padre Cícero Romão, que em 1914, consolidou seu poder político no Ceará e no Nordeste.
Nesse ano, Assembleia Legislativa do Ceará reuniu-se e, por maioria, reconheceu padre Cícero como 1º vice-governador do estado. Ele também foi eleito deputado federal. Ele não assumiu esses cargos “para não abandonar os fiéis”- sabia o que fazia.
Os padres salesianos administradores de tudo, ainda colocaram uma Imagem da Madona Negra com o Cristo morto (os católicos sertanejos associam a N. Senhora das Dores), em bronze preto em frente à igreja principal.
Eles cuidam muito bem de todo acervo e uma viagem ao Juazeiro não faz sentido sem uma passagem pela zona rural e com a Chapada do Araripe como cenário.
O que não gostei? Constatar que o beato paraibano Zé Lourenço passa praticamente apagado da História do Juazeiro. Uma injustiça – ou equívoco. Mas aqui já assunto para outro artigo.
João Costa