Rota do cangaço feita por pesquisadores; fãs de Virgulino e Volantes, guarda lugares simples e controversos

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Em tempos normais, sem um vírus espreitando em cada moita ou lajedo, a Rota do Cangaço, ao longo do século XX e nesta década de 20, desperta não só a fixação de romancistas, poetas, roteiristas de cinema e televisão, mas de fãs de Virgulino Ferreira da Silva – Lampião e de seus inimigos letais, bravos, vingativos, mas de olho nos despojos de guerra que jamais ninguém contabilizou.

Aliás, são várias as rotas, dependendo da curiosidade do turista ou do interesse do pesquisador do cangaço, movimento avassalador que se espalhou pelos sertões nordestinos entre o final do Século 19, até os anos 1940 do século XX, período das “entregas” termo usado pelos cangaceiros para rendição e renúncia às armas oferecido pelo governo de Getúlio Vargas.

Para turistas, admiradores desse movimento, questionamentos morais que – vez por outra – pautam a agenda dos pesquisadores, foco se os cangaceiros foram heróis ou bandidos não ajuda muito a entender, admirar cenários rurais e relatos contraditórios, fantasiosos e reais.

Basta algum nativo do Sertão do Pajeú afirmar “Lampião passou por aqui e fez isso ou aquilo”, para se reconstruir as cenas reais ou imaginárias, os motivos da carnificina, diálogos, seus desfechos dramáticos, implicações políticas, disputas e vinditas familiares.

Ainda é possível encontrar poucas testemunhas dos fatos. Mas mantenha reserva na compreensão dos relatos dos descendentes de cangaceiros, volantes, famílias vitimadas pela violência intrínseca a uma guerra de guerrilha, que não teve ética, como qualquer guerra híbrida.

Ingressando em Pernambuco pelo município de São José do Egito até Serra Talhada, desta até Floresta, viaja-se beirando fazendas, cidades e lugarejos que foram cenários de combates, testemunhas de uma época de fome, exploração da violência que emanava de bandoleiros, policiais e volantes, coronéis chefes da política do latifúndio – da completa ausência do estado.

Em Serra Talhada, terra de Virgulino Ferreira e do seu inimigo primeiro José Saturnino e de outros atores das narrativas sobre o cangaço, há um museu (modesto) dedicado ao cangaço na antiga Estação Ferroviária.

O Museu Do Cangaço pertence à Fundação Cultural Cabras de Lampião tem muitas fotografias, alguns objetos de época, porque o principal acervo, o que restou do combate de Angico, está em Maceió no Museu do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL), com objetos pessoais de Virgulino, Maria Bonita e outros do cangaço.

Com funcionários desse museu na Estação Ferroviária, é possível agendar um giro pela Zona Rural de Serra Talhada, pelo Sítio Passagem das Pedras, lugar controverso para pesquisadores, mas, de qualquer forma, emblemático. Deixando a rodovia que leva até Floresta, segue-se para primeira parada, um lajedo onde (supostamente, porque há contestações) aconteceu o primeiro confronto armado entre os irmãos Ferreiras (família de Lampião) e Zé Saturnino (primeiro inimigo).

Um rochedo imponente, sem identificação e que gera narrativas diferentes, até de contestação. Pesquisadores alegam que o lajedo fica em outro lugar da Serra Vermelha, o santuário de Zé Saturnino, que combateu Lampião, e que morreu de velho no lugar sem nunca ter arredo o pé.

Arbustos de urtiga na trilha

Ainda na mesma trilha chega-se as ruínas da antiga casa-grande da fazenda Pedreira, que pertenceu à família de Zé Saturnino. Palco de um dos mais emocionantes capítulos da história do cangaço – o cerco, tiroteio seguido de incêndio. Ainda há marcas de tiros de fuzil na parede que resta. Muito matagal, com urtiga ou cansanção por todos os lados, espécies que causam a sensação de queimadura ao toque com a pele.

Não vá de bermuda

Um pouco mais adiante se pisa no Sítio Passagem das Pedras – onde está a casa de Dona Jacosa, avó materna de Virgulino, onde ele nasceu. É como se a família ainda estivesse lá, pois a casa foi reconstruída com utensílios em seu interior próprios de gente da zona rural. Consta de um acervo em fotografias da família. O guia avisa que trata-se de uma reconstituição sobre um piso real da casa.

Ergueram no local duas estátuas de Lampião e no local se encontra uma carroça que, segundo o relato, pertenceu à família Ferreira. Tem, também um teatro de arena para manifestações culturais – em desuso. Além de 2 casas de moradores do lugar.
Antes de visitar o lugar, recomenda-se leitura na vasta literatura sobre o cangaço; os acontecimentos na Serra Vermelha e sobre o mosaico das famílias, grupos e chefes políticos de Vila Bela do início do Século XX. Próxima parada, Nazaré do Pico.

João Costa