O setor de aviação comercial no Brasil deve demorar a decolar, com preços das passagens mais elevados e com maior segurança, e ainda mais restrições. Esses foram alguns pontos de vista comentados pelos Ceos das companhias aéreas Latam Brasil, Gol e Azul Linhas Aéreas, durante uma live realizada pelo Banco BTG Pactual, nesta terça-feira (19).
Com a participação de Jerome Cadier (CEO da LATAM), John Rodgerson (Presidente da Azul), Paulo Kakinoff (CEO Gol) e Juliano Noman (Diretor-Presidente da ANAC), a live abordou o tema: “Setor aéreo: como será pós-covid?”.
Para Noman, o que ele chamou de “acidente de percurso” – a pandemia do coronavírus – vai passar, mas não vê como muito otimismo uma recuperação do setor a curto e médio prazos. A Anac vem fazendo um acompanhamento do setor no país, de olho no mercado internacional, e entende que as companhias aéreas precisam trabalhar juntas para conseguir reequilibrar o segmento.
O presidente da Anac afirmou que existem alguns elementos que precisam ser ultrapassados para que os preços das passagens venham realmente a caber no bolso dos brasileiros. Ele citou três desses elementos como prioritários: reduzir a judicialização, discutir a redução dos preços dos combustíveis e novas políticas de redução de custos, como os das bagagens.
Noman pontuou que o setor de aviação comercial brasileira é popular, mas não universal. Em números, ele disse que viajam de avião mais de 30 milhões de CPFs, a maioria das classes A e B. Porém, existe um contingente de 115 milhões de pessoas que habitam a classe C e que o incentivo para que elas venham a viajar de avião são poucos ou quase nada atrativos.
O dirigente da Anac lamentou o surgimento da pandemia do coronavírus, porque, na avaliação dele, 2020 seria um ano emblemático para a aviação comercial nacional. “2020 era o ano da virada, com a previsão da chegada de 100 novos aviões das três companhias aéreas”.
Para ele, todas as companhias aéreas vinham fazendo a lição de casa, inclusive, o mercado nacional começava a ser mais acessível até para as empresas internacionais. Ele citou uma companhia espanhola, que pretendia explorar uma malha aérea regional, mas que, com a pandemia, pediu para suspender o processo de certificação.
Jerome Cadier, da Latam Brasil, afirmou que a partir do processo de reabertura da economia no Brasil todas as companhias terão que buscar maior eficiência e atender todos os protocolos de segurança e isso irá gerar custos. Ele acredita que as cias precisam trabalhar para flexibilizar as relações com os passageiros, abrindo mão de alguns fatores que dificultam e encarecem as viagens das pessoas, a exemplo da cobrança por remarcação de voos.
Para Cadier, os brasileiros vão viajar mais após a pandemia do coronavírus, mas não tem na sua calculadora se as passagens vão estar mais baixas ou mais caras. O dirigente analisou esse ponto em dois aspectos: a curto e médio prazos. A curto prazo, será fundamental a capacidade da volta dos passageiros e a velocidade com que as companhias aéreas começarão a colocar os aviões para voar. Esses fatores podem provocar redução dos preços das passagens.
No entanto, a longo prazo, os fatores como a cotação do dólar – que representa 60% dos custos das operações – definirá o impacto do valor do serviço a ser prestado pelas companhia aéreas. Cadier também citou os impactos do novo protocolo sanitário divulgado nesta terça-feira pela Anac.
O CEO da Gol, Paulo Kakinoff, preferiu um discurso mais otimista, com pé no chão, e disse que a companhia aérea está preparada para a retomada dos voos. Para ele, o momento é desafiador e comparou com uma travessia oceânica, afirmando que a Gol está pronta e preparada. O desafio, entretanto, será manter os preços de baixo custo com tanto custo que todas as companhias terão que arcar para recomeçar a voar.
Fábio Cardoso