Ministro do STF afirma que existe filial do ‘Gabinete do Ódio” na Paraíba e investigado continua na ativa e com tom ameaçador

Destaque EXCLUSIVO Fábio Cardoso

A Polícia Federal cumpre 29 mandados de busca e apreensão nesta quarta-feira (27) no chamado inquérito das fake news, que apura ofensas, ataques e ameaças contra ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). As ordens foram expedidas pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, e estão sendo executadas no Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina.

Na decisão do ministro Moraes, há uma extenso relato sobre a prática de ofensas às autoridades, em especial, do STF, esquema que, segundo apuração, é repetido em diversos outros Estados, sendo citado, durante as outivas, “referir-se expressamente a Paraíba, Bahia, Pernambuco, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul. Possivelmente essas filiais existam em todos os estados da Federação.”

Durante as outivas, a decisão de Alexandre Morais está respaldada aos depoimentos prestados pelos deputados federais Alexandre Frota e Joice Hasselmann em 17/12/2019 – ex-aliados de Jair Bolsonaro -, que narraram “a existência de um grupo organizadoconhecido por Gabinete do Ódio, dedicado a disseminação denotícias falsas e ataques a diversas pessoas e autoridades,dentre elas o Supremo Tribunal Federal. Todos esses investigados teriam ligação direta ouindiretamente com o aludido Gabinete do Ódio.”

Segundo o ministro, as provas colhidas e os laudos periciais apresentados nestes autos apontam para “a real possibilidade de existência de uma associação criminosa, denominada nos depoimentos dos parlamentares como “Gabinete do Ódio”, dedicada a disseminação de notícias falsas, ataques ofensivos a diversas pessoas, às autoridades e às Instituições, dentre elas o Supremo Tribunal Federal, com flagrante conteúdo de ódio, subversão da ordem e incentivo à quebra da normalidade institucional e democrática. As informações até então acostadas aos autos, inclusive laudos técnicos, vão ao encontro dos depoimentos dos Deputados Federais ouvidos em juízo, que corroboram a suspeita da existência dessa associação criminosa.”

Um dos depoimentos, do deputado Nereu Crispim, ele afirma ter percebido “um movimento organizado, com várias ramificações, para atacar incessantemente a honra de qualquer pessoa que ousasse discordar da orientação desses grupos conservadores extremistas.(…) não só reproduzia as ofensas dirigidas ao depoente e aoutras pessoas consideradas dissidentes, como também sistemáticos ataques às instituições, como o Supremo Tribunal Federal, o Senado e a Câmara dos Deputados, visando desmoralizá-las para em seguida pregar a desnecessidade de sua existência e, finalmente, alcançar uma ruptura constitucional.”

No depoimento do deputado Heitor Freire, ele afrima que teve conhecimento de que Matheus Sales,Mateus Matos Diniz e Tercio Arnaud Tomaz, todos assessores especiais da Presidência da República, “são os integrantes principais do chamado “Gabinete do Ódio”, que se especializou em produzir e distribuir Fake News contra diversas autoridades, personalidades e até integrantes do Supremo Tribunal Federal.”

Esse, segundo o parlamentar, “gabinete” “coordena nacional e regionalmente a propagação dessas mensagens falsas ouagressivas, contando para isso com a atuação interligada de uma grande quantidade de páginas nas redes sociais, que replicam quase instantaneamente as mensagens de interesse do“gabinete”. Essa organização conta com vários colaboradores nos diferentes Estados, a grande maioria sendo assessores de parlamentares federais e estaduais.”

Ainda segundo Heitor Freire, esses assessores parlamentares “administram diversas páginas nas redes sociais, incluindo grupos de Whatsapp, e por meio dessas páginas divulgam postagens ofensivas, quase sempre orientados pelo aludido grupo de assessores da Presidência.(…).”

Dentre esses ataques coordenados, o deputado salienta que “a postagem quase simultânea em diversas páginas do Facebook de um vídeo ofensivo ao Supremo Tribunal Federal, comparando-o a uma hiena que deveria ser fustigada por leões.(…).

De acordo com o ministro, os investigados teriam, em tese, ligação direta ou indireta com a associação criminosa e seu financiamento, “pois, avaliando-se o teor de seus pronunciamentos e procedimento de divulgação em redes sociais, notam-se indícios dealinhamento de suas mensagens ilícitas com o suposto esquema narrado pelos parlamentares ouvidos nestes autos.”

Mensagens destacadas na decisão:

Mais que isso. Querem o caos. Estão querendo repetir1968, onde o STF da época soltou a escumalha terrorista (não émera coincidência), levando o governo da época a endurecercom o AI -5 para preservar a segurança nacional e institucional.Querem o mesmo agora pra nos acusar d golpe (@oofaka, 8 denovembro de 2019).

Não é só pela questão da 2ª instância nem pela soltura deLula. É por tudo que Gilmar já fez e poderá fazer contra oBrasil. Ele é um dos homens mais poderosos do Brasil e crê serimune à voz do povo. Não o é. Qnd o Sapão cair, iremos aopróximo: Toffoli (@bernardopkuster, 11 de novembro de 2019).

O STF, via Marco Aurélio Mello, acaba de rasgar mais umavez a Constituição, dando a governadores e prefeitos o poderde restringir o direito de ir e vir de cidadão brasileiros. Temosentão, com autorização da JUSTIÇA, DITADORES governando estados e cidades. Art. 142 Já (@oofaka, 24 de março de 2020).

Governadores, prefeitos, ministros do STF, e líderes doPoder Legislativo são todos co-autores desses crimes de genocídio e lesa pátria! Não sairão ilesos. Pagarão caro por issonessa vida (@opropriofaka, 1o de abril de 2020).

Recado aos Ministros do STF: não brinquem com a Lava Jato, ou nós vamos derrubar CADA UM DOS SENHORES(Perfil @ZambelliOficial, 14 de março de 2019).

O Ministro Toffoli tinha a grande chance de tentarrecuperar a imagem já desgastada do STF. Preferiu terminar de jogar a imagem da Corte na Lama. #STFVergonhaNacional(Perfil @filipebarrost, 8 de novembro de 2019).

Continua na ativa e ameaçador

A reportagem do Turismo em Foco checou os autores de algumas dessas mensagens e um deles chamou atenção. Bernardo P Küster (@bernardopkuster), na sua conta do Twitter, afirma ser diretor de opinião do @jornalBSM,ensaísta, palestrante e tradutor. É de Londrina (PR) e tem 371,9 mil seguidores.

Nesta quarta-feira (27), sem demonstrar qualquer preocupação com as investigações, ele fez uma postagem zombando do inquérito e do ministro Alexandre Moraes. “O ministro Alexandre de Moraes apreender meu celular e meu MacBook é tirar meu ganha-pão; é como retirar o caminhão de um motorista e ou a toga de um juiz. Mas aqui é massa de pão: quanto mais bate, mais crescemos! Inscrevam-se no meu canal e divulguem!”

Decisão do ministro: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/mandado27maio.pdf

Fábio Cardoso