Sem democracia e com radicalismo, William Bonner revela ameaças e eminentes riscos à atividade dos jornalistas

Destaque Fábio Cardoso

O que faz um jornalista ser odiado ou amado pelo público, seja em uma democracia ou uma ditadura? Na madrugada desta quarta-feira (27) assisti a entrevista do apresentador do Jornal Nacional, William Bonner, e confesso que fiquei muito preocupado com os caminhos da intolerância a qual a sociedade brasileira tem tomado.

O jornalista não concorda necessariamente com a linha editorial da empresa a qual presta serviço. Porém, na medida em que um profissional se torna um ‘porta-voz’ da empresa – no caso do Bonner -, certamente ele passa a ser o alvo mais frágil do processo de ataques, seja nas redes sociais ou mesmo nas vias públicas. Vejo um risco aos jornalistas nesses dois momentos.

Nesse período, que vem desde o acirramento durante o processo eleitoral recente, quando Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República – derrotando a esquerda -, fica difícil a expressão de pensamento, a liberdade de imprensa, um posicionamento político democrático dos profissionais, isso em todos os níveis.

O advento das redes sociais, cada vez mais desagregadoras, tem colocado em risco a vida de diversos profissionais de imprensa, muitos deles de sistemas de comunicação que fazem oposição a esse ou aquele grupo político. O patrulhamento ideológico é o que tem mais conquistado espaços nas redes sociais e a criação das Fakes News passou a ser um inimigo intransponível nesse processo.

Bonner, durante a entrevista, fez uma série de revelações, muitas delas muito dramáticas. Afirmou que não podia mais viajar de avião entre o Rio de Janeiro e São Paulo para visitar os pais doentes, pois sempre era importunado, hostilizado ou ameaçado pelas pessoas. Incrível e absurdo. Foi inúmeras vezes de carro. Também revelou ataques à família, como recentemente ao filho Vinícius, alvo de ações de estelionato há três anos, desde que uma carteira de habilitação dele caiu na internet.

Porém, como ele disse também, foi considerado um ícone do jornalismo pela direita, quando a pauta do Jornal Nacional era limar a esquerda, em especial o PT e Lula, durante as investigações e julgamento resultado da Operação Lava Jato; Porém, atualmente tem sido odiado e perseguido justamente pelo radicalismo dessa mesma direita, que tem se sentido vítima do sistema Global.

O resultado lamentável é esse. É ver um jornalista triste, desalentado, desesperançoso diante do cenário que está sendo desenhado. E pode piorar. Bonner disse – e eu concordo – que o exercício profissional dos jornalistas está muito ameaçado pelos extremismos. Jornalistas estão sendo ameaçados, agredidos, insultados e são poucas as vozes que se levantam para defendê-los.

Abaixo, separei algumas afirmações de Bonner para ver a que nível a sociedade está chegando, mas, principalmente, onde o jornalismo pode chegar. Hoje, fazer um ao vivo em qualquer lugar desse país é um risco.

Na entrevista, Pedro Bial e Bonner fecharam com uma imagem deles na cidade cearense de Juazeiro do Norte, aos pés da estátua de Padre Cícero, em 2006. Milhares de pessoas em êxtase acompanhavam, acenando para os então ídolos da TV brasileira durante uma transmissão ao vivo do Jornal Nacional durante o processo eleitoral. Bonner não vê mais espaços para esse tipo de manifestações, ao contrário, atualmente, caso necessidade de um novo movimento como aquele, ele ou qualquer outro jornalista seria agredido, certamente.

“Eu ainda me assusto com a bile, com o ódio que escorre nas palavras, nas palavras mal escritas, nas palavras cuspidas. É um ódio tão intenso que a gente não sabe onde levará. E aí a gente vai para as ruas e assiste a esta mesma incivilidade”.
“Eu tenho consciência de que sou um símbolo. Simbolizo muitas coisas para muitas pessoas, que não me conhecem, não sabem quem eu sou”.

Fábio Cardoso