Eleições municipais podem ser marcadas por fake news, desigualdade e campo fértil para disseminação do coronavírus

Destaque EXCLUSIVO Fábio Cardoso

O processo eleitoral brasileiro será marcado por fakes news, desigualdade entre os candidatos e colocará em risco de aumento dos casos do coronavírus e morte de mais pessoas. Esse foi o quadro narrado pelo secretário executivo da Famup – Federação dos Municípios da Paraíba, Pedro Dantas. “A situação das prefeituras é a pior possível, a crise econômica e os problemas sanitários estão agravando essas dificuldades e, com as eleições municipais, é como falamos: depois da ‘queda, o coice'”.

Pedro Dantas foi o entrevistado na noite desta segunda-feira (06) na live do portal www.turismoemfoco.com.br – você pode conferir a entrevista completa no @redacaoturismoemfoco.

Durante a live, o executivo da associação revelou que o adiamento das eleições – dos dias 4 e 25 de outubro, os dois turnos agora serão realizados nos dias 15 e 29 de novembro – poderá ser um tiro no pé, pois, ao contrário de se ganhar pelo menos 42 dias do calendário eleitoral, para ver se o número de casos de coronavírus cai, esses dias poderão disseminar ainda mais a doença.

A Famup, assim como todas as associações de prefeitos, foi contra o adiamento. “A Famup, na realidade, queria adiar as eleições ou ao menos manter a data prevista, mas há uma sede de mudar para o dia 15 de novembro, algo que não dá para entender”, pontuou Pedro Dantas. Ele alertou que ninguém está levando em consideração a ‘vida de ninguém’. “As eleições estão sendo levadas a toque de caixa”, afirmou o executivo.

Por conta disso, a Famup, assim como todas as entidades de prefeitos do Brasil, assinarão um manifesto que será entregue ao Congresso Nacional – Câmara e Senado – responsabilizando deputados federais e senadores pela saúde das pessoas.

“Lá na frente, quando tiver gente morrendo, alguém terá que se responsabilizar”, disse Pedro Dantas.

O executivo da Famup explicou que as entidades participaram de mais de 20 debates com médicos, especialistas sanitários, departamentos dos principais hospitais do país e nenhum deles se mostrou favorável, cientificamente, ao prolongamento do calendário eleitoral.

As eleições não se limitam apenas ao dia de sair de casa e votar – como ir pagar uma conta no banco -, passa por todo um processo que inclui comícios, visitas às bases eleitorais, debates, carreatas, entre outras atividades, que são um prato cheio para a disseminação da doença.

Dos 5.565 atuais prefeitos, quase 15% deles têm idade superior a 60 anos, idade que os coloca no grupo de risco para a coronavírus. Pedro Dantas disse que alguns dos prefeitos que estão nessa faixa de idade já lhe confidenciaram que podem desistir da reeleição, para não colocar em risco a vida deles e dos familiares e amigos.

O problema, no contexto do calendário eleitoral, é que não há margens para prolongar os mandatos. A Famup finalizou uma pesquisa sobre as eleições e alguns dados demonstram a complexidade do tema. Enquanto 70% dos paraibanos ouvidos disseram que não querem a realização das eleições agora, 59% afirmaram que não aceitam que os atuais prefeitos ganhem mais dois anos, período em que se poderia unificar todas as eleições no país, evitando que se tenha esse processo de dois em dois anos.

Pedro Dantas disse que a unificação das eleições é um tema polêmico e de difícil consenso, pois, se a unificação poderia ampliar o mandato por mais dois anos, caso contrário, poderia tirar dois anos de uma gestão. Ninguém quer perder. Porém, o executivo disse que, após as eleições deste ano, essa discussão deve ganhar força e já conta com a simpatia de alguns parlamentares paraibanos, como Hugo Motta, Pedro Cunha Lina e Efraim Filho.

Sobre os meios de se chegar ao maior número de eleitores durante o processo eleitoral, o executivo da Famup alertou sobre a prática das fakes news. Segundo ele – respondendo à pergunta de Beth Espínola, colunista do Turismo em Foco -, elas vão acontecer aos montes, independente da tomada de decisões e medidas para que essa ação criminosa não seja realizada.

Em um processo eleitoral maior, para eleições presidenciais ou governadores, por exemplo, esse crime é muito mais fácil de ser descoberto. Porém, ma opinião dele, é muito difícil combater esse crime nos interiores desse Brasil.

Por isso, Pedro Dantas orientou que os candidatos já pensem em formar uma equipe dinâmica e atenta para combater essa prática. “Para destruir uma imagem não precisamos de cinco minutos”, atestou o executivo. Difícil, às vezes quase impossível, será reverter uma fake news, principalmente, em um prazo de tempo tão curto.

Fábio Cardoso