Após ser preso, padre pede afastamento de Paróquia e se diz ameaçado, no Conde (PB)

Fábio Cardoso Política

Primeiro foi a prisão, por causa da pintura de um cruzeiro da igreja. Depois, ameaças de morte. Com receio de que algo pior aconteça com a sua integridade física, o administrador da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, no Conde, litoral Sul da Paraíba, Padre Luciano Lustosa, pediu afastamento provisório do cargo em nota distribuída à imprensa.

“Diante de toda a situação e buscando me resguardar, solicitei a Arquidiocese um afastamento provisório da Paróquia, pois temo por minha integridade física, uma vez que eu estou sendo hostilizado por meio de discursos de ódio e ataques verbais dirigidos a mim através de redes sociais”, afirma o religioso na nota.

Para entender toda a situação, é necessário voltar ao dia 3 de outubro deste ano. Nesse dia, um sábado, o Padre Luciano foi preso pela Guarda Municipal do Conde a mando da prefeitura. A prefeita da cidade, Márcia Lucena, postou um vídeo nas redes sociais afirmando não ter sido ela a mandante da prisão. Porém, até mesmo a Arquidiocese da Paraíba, assim como o padre, afirmam categoricamente que a ação partiu de um comando da prefeitura.

Todo esse contexto, por outro lado, colocam a candidatura à reeleição da prefeita nas eleições de novembro próximo em evidência. Márcia Lucena, ré em uma ação na justiça acusada por desvio de dinheiro público na Saúde – Operação  Calvário – e até pouco tempo sendo obrigada a usar tornozeleira eletrônica, procura se descolar dessa e de outras polêmicas, que, se não tem participação dela, na cidade todos indicam ser de responsabilidade de pessoas de sua confiança.

Em nota, quatro dias após a prisão do Padre Luciano Lustosa, a Arquidiocese da Paraíba distribuiu nota afirmando estar acompanhando o caso com “indignação” a condução do padre “de forma coercitiva para a delegacia da cidade de Alhandra (PB). A Arquidiocese entende que se tratou de uma exposição desnecessária no contexto de um estado democrático de direito e respeito às garantias fundamentais do cidadão.”

“Causa-nos estranheza que um sacerdote seja abordado por agentes públicos sob a alegação de que teria cometido um crime de desobediência, sem que os mesmos tenham uma determinação judicial que justificasse tal ato ou diante de um flagrante delito. A Arquidiocese, através do seu Arcebispo Metropolitano e da Assessoria Jurídica, está acompanhando toda a repercussão deste episódio, tudo para que a verdade seja esclarecida. À comunidade católica arquidiocesana, informamos que o Padre Luciano está sendo devidamente assistido de modo institucional, jurídico e espiritual. À sociedade paraibana, apresentamos o nosso desejo de que tudo seja resolvido com a licitude e lisura necessárias.”

Nesta terça-feira (13), o Padre Luciano Lustosa jogou a toalha e pediu afastamento provisório do cargo no Conde.

Confira abaixo a nota na íntegra:
Caríssimos irmãos e irmãs em Cristo Jesus, e a todos quantos virem essa nota, desejo a graça e a paz de Cristo. Nos ensina o apóstolo dos gentios, São Paulo, que: “em todas as coisas somos bem mais que vencedores, graças Àquele que nos amou” (Rm 8,37). Jesus Cristo, nosso Senhor e mestre, nos ensina que: “neste mundo vocês terão aflições, mas tenham coragem: Eu venci o mundo” (Jo 16,33).

É sabido por todos que no último dia 03 de outubro do corrente ano, ocorreu um lamentável incidente envolvendo a minha pessoa e consequentemente a Igreja Católica em Conde e o poder público municipal. Episódio este, que está sendo devidamente acompanhado pela Arquidiocese da Paraíba, através do Arcebispo Metropolitano e da assessoria jurídica, buscando assim as elucidações dos fatos ocorridos. Desta forma, vivendo em um estado democrático de direito e respeito as garantias fundamentais do cidadão, desejamos que a luz da justiça, da democracia e da verdade, se evite erros, tiranias e abusos porvindouros.

Diante de toda a situação e buscando me resguardar, solicitei a Arquidiocese um afastamento provisório da Paróquia, pois temo por minha integridade física, uma vez que eu estou sendo hostilizado por meio de discursos de ódio e ataques verbais dirigidos a mim através de redes sociais. A referida salvaguarda de minha integridade física em nada prejudica todos os procedimentos administrativos, policiais e judiciais sobre os lamentáveis fatos ocorridos, inclusive a respeito de qualquer tipo de ameaça decorrente de posicionamentos divergentes e lamentáveis.

Agradeço a todos os paroquianos, aos cidadãos condenses (dos quais faço parte) e a um grande número de católicos da Paraíba, do Brasil e do mundo que de alguma maneira externaram solidariedade a minha pessoa. Que Deus os abençoe e Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de nossa Paroquia (estendendo também essas bênçãos as pessoas que pensam de forma contrária, pois apesar de todas as diferenças quer queiram/creiam ou não, somos filhos do mesmo Deus), os protejam e os livrem de todos males.

Procuremos construir um mundo com base na solidariedade, buscando nas divergências o complemento e não o afastamento em convívio social, RESPEITANDO SEMPRE o próximo naquilo que lhe seja de direito, buscando o diálogo, a serenidade e a paz.
Conde, 13 de Outubro de 2020.
Padre Luciano Gustavo Lustosa da Silveira

Fábio Cardoso