Tudo para ver Pelé, o ‘Rei do Futebol’

Fábio Cardoso

Não me lembro o ano, nem o dia, exatamente. Mas sei que fui testemunha de uma partida de futebol entre o Santos e Portuguesa, no estádio do Pacaembu, São Paulo, pelo Campeonato Paulista – acho que foi 3 a 2 para o Santos. Entre os 22 jogadores estava ele, Pelé, o Rei do Futebol. O curioso, é que não torço pelo Santos – sou sãopaulino mesmo antes de nascer. Mas Pelé era uma atração onde quer que jogasse e não poderia perder aquela oportunidade.

Naquele domingo chuvoso, resolvi assistir aquela partida na hora do almoço. Meu irmão mais velho (Marcelo) e nosso amigo Daniel, ambos fanáticos pelo Santos, aceleravam o almoço para sair e correr para o estádio ver a partida. Aí disse em alto e bom som: “Também quero ver o Rei”. Imediatamente meu irmão disse que não, pois eu não era santista. Insisti, corri para não apamlhar dele, mas, enfim, minha mãe (Janet) sentenciou: “Ele vai e você fica!”

Confesso que fui meio sem graça. Afinal, impedi meu irmão de ver o Rei do Futebol, santista roxo, torcedor fanático… essas coisas. Mas também não queria perder aquela oportunidade. Tentei argumentar com ele, pedi a minha mãe por ele, mas Marcelo foi irredutível e não quis acordo. Preferiu ficar em casa e ouvir o jogo pelo rádio.

Mal sabia que naquele dia o Rei foi o Rei. Só não fez chover porque já estava chovendo. Jogou tudo que sabia e um pouco mais. Pelé fez gol, deu dribles, entortou adversários. Fez miséria e, como era hábito, saiu aplaudido, inclusive, pelos torcedores do Lusa, igualmente encantados com a grandiosidade daquele fenômeno da bola chamado Pelé.

No final da partida, decidimos, eu e o Daniel, aguardar a saída da delegação do Santos. O vestiário era onde funciona atualmente o Museu do Futebol. Estava lá parada aguardando a equipe a ‘Banheira’, ônibus santista que iria levar a todos de volta à cidade praia. Conseguimos ver, bem de pertinho, um a um jogador. E lá vinha ele, com a tranquilidade peculiar, como se não tivesse feito nada mais do que a obrigação. Antes de ir embora, ainda comprei uma fitinha alusiva ao Santos, para presentear meu irmão e guardar a lembrança daquela tarde maravilhosa.

80 anos e time sem torcida

A admiração dos torcedores de outros clubes ao Rei Pelé sempre me deixou uma dúvida na mente até hoje. Se todos pagavam ingresso para assistir Pelé jogar, por que não torciam para o Santos? Seria Pelé um time de futebol à parte, sozinho? Penso que não, pois a equipe santista produziu inúmeros outros craques – claro que não ao nível de Pelé – que, da mesma forma, tinham o poder de hipnotizar os torcedores.

Então vou recorrer à mística da camisa 10. Quando Pelé atuava pelo Santos, o número ’10’ ficou imortalizado, isto é, não era qualquer atleta de futebol que podia ter naquela época a ousadia de vestir uma ’10’ se não fosse craque na acepção da palavra. Então, no São Paulo o 10 era o uruguaio Pedro Rocha; no Corinthians, Rivelino; e no Palmeiras, Ademir da Guia, somente. Vamos incluir nessa lista Enéas, jovem promessa da Portuguesa, para não esquecermos da Lusa.

Nas partidas entre as equipes paulistas, mesmo com Pelé em campo, havia muito equilíbrio. O Rei ano a ano terminava o campeonato como artilheiro, mas o Santos nem sempre se sagrava campeão. Tinha adversários fortes pela frente, com grandes craques também. Talvez esse equilíbrio das equipes , o 11 contra 11 – apesar que diziam que o Santos jogava com 15 – fazia com que os torcedores de Pelé somassem às torcidas de outros clubes.

A imponência de Pelé, a sua trajetória no futebol, as inúmeras conquistas e títulos pessoais não transferiram na mesma proporção a admiração à equipe da Vila Belmiro. Lembro ainda, que nós, torcedores de outros clubes, gostávamos de provocar os santistas com cânticos do tipo: “É, é, viúva de Pelé”, quando o Rei deixou de jogar pela equipe.

Ao completar 80 anos, certamente você já deve ter lido quase tudo sobre Pelé e, por isso, fiz questão de dedicar esse texto, humildemente, ao maior jogador de futebol de todos os tempos no mundo. Não haverá outro, por mais que tentem endeusar Messi, Cristiano Ronaldo e até Neymar Júnior.

Quem viu o Rei jogar como eu naquele dia, nunca esquece. Sorte nossa que existem os registros televisivos para que todos acreditam que o futebol mundial tem um único Rei: Edson Arantes do Nascimento. Pelé.

(*) Na foto, Pelé está do lado de Pedro Rocha, o camisa 10 do São Paulo, que postou esse registro nas redes sociais em homenagem ao Rei.

Fábio Cardoso