Os setores do turismo mundial já estão sendo retomados de forma lenta, porém consistente. No Brasil, o mercado já percebeu em números que o turismo de lazer tem sido o grande alento de segmentos como aviação, hotelaria e gastronomia. Por outro lado, o turismo de eventos, que apesar de número de pessoas seja menor, com maior poder de gastos, caminha a passos muito lentos.
De acordo com o presidente da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), Eduardo Sanovicz, em novembro, a malha aérea nacional deverá ter chegado a pouco mais de 60% de suas operações, com uma ocupação média das aeronaves de 70% e o ticket médio 63% mais barato do que no mesmo período do ano passado, custando 30% menos comparados os dois períodos.
A perspectiva é de que a malha aérea doméstica supere os 70% até o final do ano, com o retorno em sua imensa maioria das pessoas que irão viajar a lazer, isso, segundo Sanovicz, por diversos motivos, entre eles, pela compra parcelada das passagens em até cinco vezes e com o valor da tarifa mais baixo do que o habitual para o período de alta estação.
Os dados do presidente da Abear são bem parecidos aos quais a Gol Linhas Aéreas tem trabalho. Conforme Anderson Wolff, gerente Comercial Corporativo da Gol, dos 800 voos diários que a companhia operava antes da pandemia, passou a trabalhar com apenas 50, o que representa 8% da malha aérea. Para o mês de dezembro, Wolff disse que a empresa pretende estar realizando 499 voos diários, próximos a 74% de sua malha, chegando a 85% em janeiro em relação ao mesmo período do ano passado.
O grande calo do setor aéreo em relação aos passageiros é que o setor de eventos continua muito lento no seu retorno. Sanovicz disse que o ticket médio do cliente corporativo é mais rentável para as companhias aéreas, representando 60% da receita delas, apesar desse público ocupar apenas 40% das aeronaves.
O reflexo negativo atinge todos os setores do turismo de tabela. Em São Paulo, o cliente corporativo representa 74% da ocupação da rede hoteleira. “A recuperação do corporativo está muito lenta e nãop chega a 30% do atual mercado”, apontou Wolff.
Companhias aéreas não criam demanda
O aumento do número de viagens aéreas pelos turistas de lazer passou a ser o grande desafio dos destinos turísticos para conquistar essa clientela na retomada do turismo. Sanovicz afirmou que as companhias aéreas não criam demanda, “atendem demanda”, num recado curto e grosso de que os destinos precisam se mobilizar para criar essas demandas, promovendo ações de divulgação e marketing.
A Gol, conforme o gerente comercial corporativo, está analisando diversos cenários para direcionar a sua política de ampliação de voos, principalmente, utilizando os principais hubs, entre São Paulo e Rio de Janeiro (no Sudeste) e Salvador e Fortaleza (no Nordeste). O Nordeste será a maior aposta da companhia aérea no período de alta estação, com investimento em alguns destinos como a Bahia e o Ceará.
Para o presidente da Abear, nesse momento de retomada agora no final do ano, os destinos precisam convencer os turistas de que são seguros. “O turista precisa estar convencido que o destino que deseja visitar esteja seguro, assim como ter infraestrutura para atendê-lo”.
Sanovicz disse que teve conhecimento de que João Pessoa tem enfrentado o covid-19 com muita competência, com todos fazendo o seu melhor para receber os turistas nesse período.
Brasil não tem imagem positiva no exterior
Sobre o mercado internacional, Sanovicz admitiu que a situação é bem diferente para o Brasil. A imagem do Brasil no exterior está muito negativa, segundo ele, por conta das declarações e medidas da forma como as autoridades estão enfrentando a pandemia do coronavírus. “Estamos enfrentando sérios problemas por conta disso”. Esse tipo de conduta afeta o humor dos estrangeiros quanto a optarem em vir para o Brasil, assim como deixa os brasileiros numa saia justa quando têm que entrar em algum país.
Sanovicz e Wolff participaram na noite desta segunda-feira (07) do Convention Bureau Summit MICE 2020, evento paralelo ao Expo Turismo Paraíba, e que tem como objetivo discutir o futuro e os novos cenários do mercado de eventos. Vários experts do mercado de eventos do Brasil e do exterior abordarão visões do futuro dos eventos médicos, associativos, corporativos, técnico-científicos e feiras comerciais.
O debate teve como mediador do presidente do Convention Bureau de João Pessoa e as participações dos presidentes da Abav-PB (Associação Brasileira das Agências de Viagens), Breno Mesquita, e da ABIH-PB (Associação Brasileira da Indústria Hoteleira, seccional Paraíba), Rodrigo Pinto.
Fábio Cardoso