
Que o advogado paraibano Rui Galdino ama o Tambaú Hotel, em João Pessoa, ninguém tem qualquer dúvida. As suas postagens nas redes sociais e os artigos que publica em um site na internet são provas disso. Porém, entre amar e querer há uma distância que nem sempre é possível atingir. O amor de Rui não faz bem ao Tambaú Hotel, pelo contrário, coloca esse ícone do turismo brasileiro sob ameaça de ser transformado em um esqueleto de concreto nas areias da praia de Tambaú.
Na última quinta-feira (04), o Tambaú Hotel entrou em leilão pela terceira vez. Por decisão da 4ª Vara Empresarial da Comarca do Rio de Janeiro, o leiloeiro De Paula Leilões realizou o leilão do empreendimento de formas remota e presencial. Na primeira praça não houve lance – valor mínimo era de R$ 131 milhões. Na segunda, com valor mínimo de R$ 65,9 milhões, o lance vencedor foi do advogado paraibano, que comemorou nas redes sociais a conquista e realização de seus sonhos: ser dono do Tambaú.
Porém, algumas semanas seguintes, a 4ª Vara Empresarial da Comarca anulou o resultado do leilão, já que Rui Galdino não cumpriu com o pagamento de acordo com os prazos estabelecidos no edital do leilão. Inacreditavelmente, o advogado endereçou uma carta ao juiz Paulo Assed Estefan apelando para que o magistrado acatasse o resultado do leilão e lhe declarasse vencedor. Rui alegou que havia apresentado um lance de R$ 15 milhões, “valor possível de pagar”. Isto é, o advogado admitiu que não tinha o dinheiro do lance dado por ele, de R$ 40 milhões.
“Até falei com o leiloeiro De Paula por telefone a respeito da minha oferta e expliquei tudo a ele. Ofertei esse lance porque está dentro das condições que posso realizar o pagamento e também pelo fato de ter tido conhecimento que o débito total que o TAMBAÚ HOTEL tem para com seus credores, funcionários, etc, não passa dos 15 milhões de reais”, dizia o documento entregue ao juiz.
Não conseguiu sensibilizar o juiz e, caso o representante da massa falida do Tambaú Hotel queira, o advogado pode até ser processado e ter de pagar uma multa de 20% do lance ofertado, o que seria em torno de R$ 8 milhões. Ao contrário do que imaginava, o juiz determinou novo leilão, com um acréscimo de R$ 200 mil para as empresas que quisessem participar dele. A medida seria para afastar os “brincalhões” do processo.
No dia do leilão, ocorrido nesse dia 04 de fevereiro, duas empresas haviam feito o depósito de R$ 200 mil. Pelo histórico dos lances, o nome do advogado aparece entre elas. No dia 03 de fevereiro, às 19:54:53, foi feito o primeiro lance no nome de Galdino, no valor de R$ 40 milhões para serem pagos à vista – valor mínimo exigido no edital. No dia seguinte, a Marizzpa fez o lance no valor de R$ 40.200 milhões, às 09:28:21, para serem pagos a prazo. Pouco mais de meia hora depois, Galdino voltou a apresentar novo lance, às 10:01:53, no valor de R$ 40.400 milhões a serem pagos a prazo.
Às 14:04:26, o Grupo A Gaspar, do Rio Grande do Norte, proprietário do Ocean Palace, na Via Costeira de Natal (RN), um hotel cinco estrelas, fez o lance de R$ 40.600 milhões de forma presencial e arrematou o Tambaú Hotel. Rui Galdino afirma que teria feito outro lance com valor superior e que teria havia um bloqueio intencional para que o lance não fosse registrado no sistema. Ele acusa o leiloeiro de ter extrapolado o horário de fechamento do leilão, previsto para às 14h. O lance do vencedor foi feito quatro minutos e 26 segundos depois desse horário.
Ouvimos o leiloeiro De Paula, pelo telefone, meia hora depois do encerramento do leilão e confirmação do nome do vencedor, sem saber da reclamação sobre o horário feita pelo advogado. Ele disse que não houve qualquer irregularidade e que começou fazer a leitura dos termos do leilão quando, de forma presencial, surgiu o lance do grupo A Gaspar. Não falamos sobre o possível novo lance do advogado.
Também acompanhamos o leilão pelo YouTube e ouvimos o leiloeiro anunciar a contagem para confirmar o último lance por três vezes, verificando se havia sido feito algum outro lance de forma online. Até o último segundo antes de confirmar a venda isso foi feito.
No começo desse texto, quando falamos que o amor do Rui Galdino pelo hotel é prejudicial ao próprio turismo paraibano, é porque ouvimos o novo gestor do Tambaú Hotel, coincidentemente chamado de Ruy Gaspar, afirmando que ser proprietário do Tambaú sempre foi um sonho para ele. O empresário anunciou investimento de R$ 60 milhões em toda a estrutura do equipamento, construção de um parque aquático, contratação de 300 profissionais de forma direta e que iria transformar o hotel em um resort cinco estrelas.
Não sei, e nem vou procurar saber, se realmente o Rui Galdino teria R$ 100 milhões – R$ 40,6 milhões da compra, R$ 60 milhões de investimentos – para bancar o projeto que pretendia fazer no Tambaú, ou se havia um grupo empresarial por trás dele. O certo é que, ao saber da venda e do novo proprietário, as manifestações do trade turístico paraibano foram de comemoração, de entusiasmo, de felicidade.
O Tambaú Hotel, ícone do turismo do Nordeste e o segundo hotel mais conhecido do Brasil, perdendo apenas para o Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, teria que, obrigatoriamente, ser repassado para um grupo que realmente quisesse o melhor para o equipamento, o melhor para o turismo paraibano.
A reabertura do hotel prevista para meados de setembro e outubro, será uma retomada de um gigante que por muitos anos foi caindo em descrença, deixando as pessoas que admiram obras de arte tristes.
Finalmente surgiu uma luz imensa no final do túnel e que irá revive momentos de glória do velho Tambaú. Não terá o mesmo nome. Segundo Gaspar, ele passará a se chamar Ocean Palace Tambaú Beach Resort. Que venham novos tempos e, para o advogado paraibano, resta demonstrar o seu amor pelo hotel aplaudindo esse momento histórico do nosso turismo.
Fábio Cardoso