Cabaceiras, na Paraíba, no foco do Turismo Cinematográfico

Destaque Paraíba

Há duas certezas sobre os brasileiros: eles amam entretenimento e viagens, sejam as físicas ou as virtuais, inspiradas por produções audiovisuais. O consumo em plataformas de streaming cresceu muito durante a pandemia e intensificou o potencial para a construção de roteiros cinematográficos, nicho que já é explorado com sucesso por destinos no exterior e pode trazer benefícios também aos destinos brasileiros que decidirem investir nesse segmento no pós-crise.

O Turismo Cinematográfico é definido como a visitação de turistas a locais ou atrações a partir da aparição do destino no cinema, TV, vídeo doméstico e internet. O que já é interessante fora do cenário pandêmico ganha ainda mais força em um contexto no qual muitas pessoas seguem consumindo experiências de viagens unicamente de forma virtual. Hoje, a média individual frente às telas é de 1h49 por dia exclusivamente dedicados a conteúdos em plataformas de streaming, segundo a Kantar Ibope Media.

“Nunca foi tão urgente entender a audiência quanto agora, neste cenário de múltiplas escolhas e intensificação da oferta. As opções de entretenimento se tornaram mais indoor e as pessoas passaram a experimentar mais com o digital, com um consumo expressivo de TV online, vídeo sob demanda e streaming”, comenta Adriana Favaro, diretora de Negócios da Kantar Ibope Media no Brasil, em artigo publicado pela empresa.

Para se ter noção da dimensão do mercado no Brasil, no quesito assinaturas, a Motion Pictures Association destaca a marca de 200 milhões de novos afiliados no final de 2020. Em nível global, o setor chegou a 1,1 bilhão de assinaturas no ano. O aumento na receita foi de 34%, com arrecadação de US$ 14,3 bilhões.

Estamos falando de plataformas que reúnem séries, filmes, novelas e reality shows para públicos de vários perfis e com flexibilidade de visualização. Tendo ou não o Turismo como foco, o setor se beneficia com a mídia espontânea que é gerada, pois o burburinho nas redes sociais pode ser responsável pela alta ou baixa no consumo de produtos e serviços.

A pesquisa Social TV Ratings da Kantar realça 287 milhões de citações (85,6% do total) sobre reality shows em 2020. As séries tiveram 16 milhões de menções (4,8%) e as novelas, 13 milhões (3,9%). O aumento no consumo nacional por produções audiovisuais leva a crer em um crescimento no desejo por desbravar as paisagens ímpares exploradas nas telas.

Afinal, quem não quer viajar para as locações de seu filme ou série favorito quando a pandemia acabar? Ruth Avelino, presidente da Empresa Paraibana de Turismo (PBTur), destaca a importância do segmento no estado, sobretudo em Cabaceiras, conhecida como Roliúde Nordestina.

“Na cidade e no Lajedo de Pai Mateus, já foram gravados mais de 30 longas metragens, curtas, novelas séries e minisséries, diz. Entre elas, estão grandes obras do cinema nacional, como “Auto da Compadecida”, “Romance”, “Viva São João” e “Onde Nascem os Fortes”, entre outros.

Para atender ao interesse crescente dos turistas, especialmente após o sucesso de “O Auto da Compadecida”, o mercado criou rotas temáticas que passeiam pelas locações e têm até atores que participaram do elenco de apoio se caracterizando como personagens para receber o turista. A cidade ganhou até um letreiro em pedra, seguindo o exemplo de sua parônima norte-americana.

Hoje, apesar da pandemia, Cabaceiras ainda recebe um bom fluxo de turistas, conforme informações da secretaria. Por isso, a PBTur não deixa de trabalhar no fortalecimento do mercado e cuida para que a cidade mantenha características de cenário de cinema, com reforço na limpeza urbana e na pintura das casas que serviram de locação. Em outra frente, o órgão de promoção ligado ao governo do estado promove continuamente o Destino Cabaceiras/Roliúde Nordestina nas feiras e eventos do setor de Turismo.

Fatores de indução

Iraci Schmidlin e Francisco Neto, ambos pesquisadores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), publicaram um estudo intitulado “Turismo induzido por filmes”. O documento foi publicado no Podium Sports, Leisure and Tourism Review, em 2013, e indica os três aspectos que induzem o set-jetter – turista motivado pela produção de filmes – a escolher o destino da próxima viagem: o lugar das filmagens, a participação de celebridades e o envolvimento do espectador com a trama.

Dados de 2017 da pesquisa internacional de passageiros, realizada pelo Escritório Nacional de Estatísticas do Reino Unido, constatam que 9% (1,4 milhão) dos turistas de lazer que viajaram naquele ano para a região visitaram locais ligados à literatura, música, TV e locações de filmes, gastando 1,2 bilhão de euros. Deles, 13% (29 mil) eram brasileiros.

Uma das formas de fortalecer essa relação é por meio das Film Commissions, que são escritórios de captação e organização e auxílio das produções. No Brasil, há dez unidades na ativa, baseadas no Amazonas, Bahia, Bento Gonçalves (RS), Balneário Camboriú (SC), Garibaldi (RS), Minas Gerais, Ribeirão Preto (SP), Rio de Janeiro, São Paulo e Santos (SP).

“O audiovisual exerce fascínio e sensações similares a uma imersão em certos locais em que o espectador pode nunca vir a conhecer presencialmente”, declara a Rio Film Commission, incentivando a criação de projetos que combinem Cinema e Turismo, executadas por meio de campanhas para a atração de produções audiovisuais.

“A intenção é criar condições de, em primeiro lugar, receber bem as equipes de filmagem e, no longo prazo, além da promoção das paisagens que pode atrair turistas, desenvolver rota das locações, pacotes de passeios, souvenires etc”, complementa.

Florianópolis também deve estrear sua Film Commission em breve. Vinícius de Lucca, superintendente de Turismo da capital catarinense, contou com exclusividade ao Brasilturis Jornal que um projeto aprovado no final de maio junto ao Sebrae prevê recurso para desenvolver a iniciativa, impulsionados pelo sucesso de “Soltos em Floripa”, reality show produzido pela Amazon Prime Video.

“Queremos trazer grandes produtores para conhecer as locações e colocar a cidade cada vez mais na prateleira. A gente recebe, no mínimo, três pedidos por semana para gravar em Florianópolis e tomamos medidas para que, mesmo com a pandemia, não parássemos com as produções. A expectativa é colocar a capital entre os principais destinos cinematográficos do Brasil”, detalha.

Janela no mundo

O cinema sempre teve o poder de inspirar e realçar nas pessoas um sentimento novo, transformando espectadores em turistas desbravando novos cenários. De acordo com Marinete Pinheiro, cineasta e coordenadora do Museu da Imagem e do Som do Mato Grosso do Sul (MIS-MS), o cinema, a televisão, notebooks, smartphones e tablets se transformaram em ótimas ferramentas de impulso para o setor.

Esse fenômeno pode ser exemplificado com um caso recente ocorrido no Jalapão (TO), relatado pela pesquisadora. “Fui fazer um estudo e vi uma realidade por lá que me impressionou. O Turismo explodiu depois da novela ‘O Outro Lado do Paraíso’. Se ouvia muitos turistas conversando sobre onde foram gravadas certas cenas e sobre outras curiosidades que envolvem a obra”, comenta.

No Mato Grosso do Sul, o destaque da coordenadora do MIS-MS vai para a produção da novela Pantanal. “Sabíamos que era um chamariz para os turistas estrangeiros, ainda mais com algumas produções da BCC e National Geographic, por exemplo, que serviram de vitrine do destino no exterior. Vemos essa mobilização. Infelizmente não conseguimos ter uma leitura completa desse cenário, porque os itinerários podem ser diferentes e a motivação, também”, declara.

A cineasta lamenta que o Brasil ainda sofra com alguns entraves quando o assunto é cinema e produções audiovisuais, não por falta de qualidade, mas de incentivo para que novas obras venham à tona. “O cinema é uma das indústrias mais rentáveis do mundo e que o público sempre consome. É praticamente impossível encontrar alguém com quem não consiga falar sobre filmes. É a janela para o mundo, envolve pessoas e cria laços”, pontua.

Marinete acredita que o fortalecimento desse mercado – que conta com grande poder de persuasão e impacto econômico global – depende de mais incentivos. “É preciso estimular a filmagem em novos destinos, criar Films Comissions que funcionem e eliminar a burocracia. Somos um País rico em diversidade e história, mas precisamos nos valorizar mais. Muitos filmes brasileiros só estão em cartaz porque é lei ter uma parcela de obras nacionais disponíveis”, lamenta.

Vista do trem sob o vale Glenfinnan associado com os filmes de Harry Potter)  – Credit sitBritainGuy Richardson
View over Glenfinnan valley with steam train on viaduct
and Loch Shiel in the background, Highlands, Scotland.

Sucesso pelo mundo

O Turismo Cinematográfico é melhor estruturado fora do País, tendo o Reino Unido como um dos grandes destaques. Em entrevista recente ao Brasilturis Jornal, Saaly Balcombe, CEO do Visit Britain, reforçou a aposta na combinação entre produção audiovisual e viagens.

Os destinos desenvolveram tours temáticos com títulos famosos para deixar os set-jetter mais próximos da experiência ficcional. Além dos roteiros já consolidados que seguem os passos de “Harry Potter” e o ritmo dos Beatles, a novidade vem com um tour de ônibus focado em “Bridgerton” – série da Netflix muito popular entre os brasileiros e com recorde mundial de mais de 80 milhões de espectadores -, que tem boa parte das atrações na charmosa Bath.

O investimento nesse setor vem de longa data, incluindo clássicos como a série de TV “Downton Abbey”, a franquia Bond, “Um Lugar Chamado Notting Hill” e “Coração Selvagem”. Produções mais recentes incluem “Paddington”, “Rei Arthur – A Lenda da Espada”, “Bohemian Rhapsody” e “Uma Segunda Chance para Amar”, nos cinemas, bem como “The Crown”, “Game of Thrones”, “Peaky Blinders” , “Outlander” e “Peppa Pig”, na TV, segundo informações fornecidas pelo escritório brasileiro do Visit Britain.

O relatório do British Film Institute Screen Business estimou que os turistas que chegam ao Reino Unido gastaram cerca de 598 milhões de euros em atividades turísticas relacionadas ao cinema e à TV, em 2016. Em 2018, um em cada seis visitantes da Irlanda do Norte foram influenciados a visitar o destino devido à série “Game of Thrones”.

No Índice Nacional de Marca GFK-Anholt, foi constatado que os brasileiros mostraram o segundo maior nível de interesse (73%) em incluir um cenário de filme ou TV durante viagem de férias no exterior. Além disso, 82% dos entrevistados brasileiros concordaram que as locações teriam alguma influência na escolha de fazer uma viagem para um destino específico.

A Espanha é outro destino palco para grandes produções. Por conta do patrimônio artístico e cultural, há diversos cenários conhecidos pelo público, exibidos em filmes como “Missão Impossível”, “Star Wars – Episódio II: O Ataque dos Clones”, “Velozes e Furiosos 6” e “O Exterminador do Futuro”, além das séries “Black Mirror” e “Keeling Eve”, entre outros.

“O cinema e as séries de TV vêm ganhando muito destaque por terem a capacidade de incentivar o Turismo, já que ajudam a formular uma imagem na mente do espectador que fica presente no momento da escolha do destino para uma viagem. Outra vantagem é que suas mensagens são sutis e têm um efeito de persuasão maior, como acontece na literatura e nos videoclipes”, avalia Oscar Almendros, diretor da Turespaña no Brasil.

dos preliminares de um estudo, realizado junto à Organização Mundial do Turismo, sobre o impacto dos serviços internacionais de entretenimento na afinidade cultural e no Turismo, indicam que até 47% dos assinantes que assistiram conteúdo espanhol asseguraram que consideram a Espanha como futuro destino de férias. Até 69% dos respondentes se interessaram pelos monumentos e localizações do país europeu.

Almendros declara que a Secretaria de Estado de Turismo, a Spain Film Commission e o Instituto da Cinematografia y das Artes Audiovisuais (ICAA) assinaram um protocolo de intenções dirigido à promoção do Turismo cinematográfico. O documento especifica ações estruturais, de apoio à criação de novos produtos turísticos, de serviços e promoção.

No mesmo âmbito, ele cita a ‘Audiovisual from Spain’, iniciativa desenvolvida pelo ICEX, marca que agrupa empresas espanholas do setor de conteúdo de cinema e TV para promoção internacional. “Um dos departamentos, denominado ‘Rodar en España’, difunde a informação sobre os incentivos para filmar na Espanha, as facilidades para realizar as produções e a grande variedade de paisagens que tem o país”, detalha o diretor.

Set de filmagens de Hobbiton (O Senhor dos Anéis e
as trilogias de O Hobbit) na Nova Zelândia

Na Nova Zelândia, a rota temática mais famosa é Hobbiton, na cidade de Matamata. No centro da Ilha Norte, ela foi construída em torno da criação de uma vila onde moravam os Hobbits, personagens criados por Tolkien, autor da saga “O Senhor dos Anéis”. A visita com duas horas de duração passa pelas 44 tocas, jardins, mercados, lagos e bares inspirados no longa-metragem. Somente em 2015, o local atraiu 1 milhão de visitantes.

Há também tours relacionados à série “As Crônicas de Nárnia”, com destaque para o terceiro filme, “Príncipe Caspian”, que teve como pano de fundo o conjunto das ruínas do castelo Cair Paravel, na península de Coromandel. Nos Estado Unidos, Hollywood ainda é o grande símbolo do Turismo Cinematográfico, apesar de haver diversas outras produções que destacam locações em diferentes cidades do país. Marcelo Kaiser, gerente geral da Aviareps na América Latina, lembra que existem ações prioritárias a serem consideradas por destinos que desejam explorar essa vertente.

“Ao ser lançada uma produção de sucesso, ela imediatamente impacta no interesse do viajante, mas para que isso seja bem aproveitado é necessário primeiro a criação de atrações e estrutura turística que despertarão o interesse do público, para depois realizar o trabalho de promoção, que envolve desde planejamento e investimento por parte de destinos e atrações até o possível aumento na frequência de voos para atender a demanda”, afirma o dirigente da empresa que representa o Brand USA, órgão de promoção turística norte-americana.

Nesse sentido, os famosos estúdios abrem suas portas para que os turistas sejam protagonistas nas locações. A Warner Bros Studios, localizada em Burbank, nos arredores de Los Angeles, tem tours temáticos regulares focados em séries de sucesso, como “Friends” e “The Big Bang Theory”, entre outros. O passeio inclui visitas a cidades cinematográficas, passeio por museus dedicados a carros e figurinos das produções e sets de produções que estão em filmagem, além de permitir interação em alguns cenários. Uma réplica do Central Perk, de “Friends”, serve bebidas e petiscos inspirados na série.

Os parques temáticos também cumprem um importante papel no contexto do Turismo Cinematográfico. A Universal Studios investe em atrações temáticas nos parques de Hollywood e da Florida – com destaque para as produções relacionadas a “Harry Potter” – enquanto os complexos Disney na Flórida e na Califórnia fazem brilhar os olhos de amantes das animações clássicas e filmes de diversos gêneros. As áreas dedicadas a “Avatar”, “Toy Story” e “Star Wars” são sucessos de bilheteria.

Tesouros nacionais

O Brasil conta com inúmeras produções que foram sucesso nas telonas e inspiraram turistas a conhecer de pertinho seus cenários. O Brasilturis Jornal reuniu produções cinematográficas que podem servir de inspiração para operadoras criarem pacotes focados nesses destinos. Confira!

Tocantins

Os atores Felipe Camargo e João Miguel são ameaçados
por índio em cena do filme “Xingu

Você declararia seu amor por uma cidade? Em “Palmas, eu gosto de tu” (2014), realização da Super Oito Produções, seis histórias trazem a capital do Tocantins como inspiração e cenário, destacando pontos como a Praia da Graciosa, Praça dos Girassóis e Taquaruçu. A trilha sonora e os atores são locais, reforçando o papel da cidade como um personagem.

Já no longa “Xingu” (2011), rodado em Miracema, Jalapão e no Parque Estadual do Cantão, a história dos primeiros contatos com o homem branco é contada sob a ótica indígena. A mescla da linguagem documental com o ficcional ressalta o papel dos Villas Bôas (Leonardo, Cláudio e Orlando) na expedição Roncador-Xingu, organizada pelo Governo brasileiro em 1944.

Um dos principais pontos turísticos do Tocantins, o Jalapão foi também pano de fundo para as novelas da Rede Globo “O Outro Lado do Paraíso” (2017) e “Araguaia” (2010). Na categoria reality show, o Survivor Tocantins: The Brazilian Highlands isolou 16 participantes e pôs à prova suas habilidades de sobrevivência.

Alagoas

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Still do filme “Deus é brasileiro” gravado em Alagoas

Um dos destinos preferidos para férias é o Nordeste e esta não é uma escolha exclusiva a meros mortais. Em “Deus é Brasileiro” (2003), o todo poderoso é vivido por Antônio Fagundes, que decide tirar férias na Costa dos Corais, em Alagoas. O longa traz cenários de tirar o fôlego, como a praia de Maragogi e a Foz do Rio São Francisco, na divisa com Sergipe, além do Parque Nacional do Jalapão (Tocantins).

Com cenas gravadas na Praia do Gunga, “Paraísos Artificiais” (2012) narra a história de três jovens e suas experiências amorosas e sensoriais em um festival de música. A história apresenta ainda, imagens da praia do Piva (Pernambuco), Baixo Gávea e no Arpoador (Rio de Janeiro), além das ruas de Amsterdã, na Holanda.

Esquentando o clima, a rota do cangaço é destaque da trama de “Entre Irmãs” (2017), que fala sobre a mudança nas vidas de Luzia, interpretada pela atriz Nanda Costa, e Emília (Marjorie Estiano), com a chegada de um cangaceiro que as obriga a trabalhar para o seu bando. O filme foi gravado na charmosa cidade de Piranhas e tem cenas em Recife e Olinda (Pernambuco).

Amazonas

Cartaz do filme “Anaconda”, longa gravado em em Manaus em 1997.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Dentre os muitos títulos que exibem a maior floresta tropical do mundo estão produções internacionais como “Anaconda” (1997). Gravado em Manaus, o enredo retrata uma equipe de pesquisadores que vai à Amazônia em busca de uma tribo indígena, mas se deparam com Paulo Sarone (Jon Voight), que está tentando capturar uma sucuri gigantesca.

Querido entre o público infantil, Rio 2 (2014) acompanha um casal de araras azuis e seus filhotes que saem do Rio de Janeiro em direção à floresta amazônica para tentar reencontrar seus parentes. Blu, Jade e as crianças se deparam com os desafios da adaptação à vida na selva, além da ameaça humana: o desmatamento e o tráfico de animais.

A produção de “007 Contra o Foguete da Morte” (1979) trouxe James Bond ao Brasil para a captação de imagens em Mariana (MG), Manaus (AM) e Foz do Iguaçu (PR). O personagem clássico entre os amantes de ação também protagonizou uma luta contra o vilão Jaws, no Rio de Janeiro.

Ceará

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Cartaz do filme “Praia do Futuro” filmado no ponto turístico homônimo no Ceará

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Visto em 80 festivais de 20 países e ganhador de 42 prêmio, “Cine Holliúdy” (2013) é uma comédia brasileira que se passa no interior do Ceará, na década de 1970. Em 2019, o filme foi adaptado para o formato de série televisiva para a Globoplay. Mostrando porque o Ceará figura entre os estados com litoral mais bonito, “Praia do Futuro” (2014) apresenta a conexão de um salva-vidas com seu irmão, o mar, seu trabalho e as consequências de uma tragédia em sua vida. Figurando entre os mais assistidos da Netflix, a produção original “Cabras da Peste” (2021) tem em sua trama a viagem de Bruceuilis (Edmilson Filho) à capital paulista para resgatar sua cabra. Gravada no distrito de Guanacés, em Cascavel (CE), a produção destaca costumes, caracterização e linguagem típica do estado.

Pernambuco

Adaptada de uma peça teatral, a comédia romântica “Lisbela e o Prisioneiro” (2003) foi gravada no pernambucano bairro da Boa Vista do século 20. Além do sotaque carregado, fotografia vibrante, elenco de peso e do enredo, a trilha sonora traz nomes como Sepultura, Zé Ramalho, Caetano Veloso e Elza Soares.

Escolhido para ser o representante brasileiro na indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2012, “O Som a Redor” (2012), de Kléber Mendonça Filho, trata da dualidade entre as sensações de tensão e segurança com a chegada de uma milícia em uma rua de classe média na zona sul do Recife. Além da capital pernambucana, a praia dos Carneiros é cenário de “Aquarius” (2016), filme brasileiro sobre uma viúva e moradora de um edifício homônimo ao filme. O longa foi indicado a prêmios nacionais e internacionais.

Paraíba

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Letreiro “Roliúde Nordestina” em Cabaceiras (PB).
Foto: Marco Pimentel

Chicó e João Grilo, de “O Auto da Compadecida” (2000), talvez sejam os personagens mais lembrados na relação entre cinema e Turismo no Brasil. A comédia que levou 2 milhões de espectadores às bilheterias nacionais no ano de lançamento, recebeu os méritos de melhor diretor, melhor roteiro, melhor lançamento e melhor ator.

Filmado na Roliúde Nordestina, em Cabeceiras, a história mostra as desventuras da dupla em busca da sobrevivência no Nordeste e mostra cenários impressionantes da caatinga, com destaque para o Lajedo de Pai Mateus. Destino para mais de 30 produções, entre documentários e longas nacionais, o município a 166 quilômetros de João Pessoa também aparece em “Cinema, Aspirinas e Urubus” (2005), que retrata a amizade entre um brasileiro fugindo da seca e um alemão fugindo da guerra, em 1942.

Rio Grande do Norte

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Cena do filme “Bacurau” de (2019). Foto: reprodução

Do lado potiguar do mapa, “Bacurau” (2019) fala sobre o luto de uma cidade com a morte de uma antiga moradora e a chegada de novos indivíduos. A obra, filmada no Sertão do Seridó e em Barra, no município de Parelhas, resgata elementos do cangaço e discute aspectos políticos. “Bacurau” foi premiado em Cannes, no ano de sua estreia, levando o prêmio do júri.

O longa também recebeu o prêmio de melhor filme em outras mostras de cinema, como as de Munique, de Lima e a do Cinema Brasileiro. Em “O Homem Que Desafiou o Diabo” (2007), o estado figura com cenário de sete cidades.

Aqui, o personagem José Araújo (Marcos Palmeira) se casa contra vontade e, por se tornar escravo de sua esposa e sogro, vira piada na cidade. Enraivecido, Ojuara, sua nova identidade, sai pelo Nordeste em busca da terra lendária de São Saruê. As tomadas contam com vistas aéreas do açude Gargalheiras em Acari, ruas de São Gonçalo do Amarante, Castelo de Bivar e Carnaúba dos Dantas.

MARANHÃO

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Marieta Severo em “Carlota Joaquina, Princesa do Brazil” de (1995). Foto: reprodução

O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses foi palco para a ambientação de um planeta fictício nas gravações de “Vingadores: Guerra Infinita” (2017). O terceiro longa da série escolheu as dunas do estado devido às suas características únicas, conforme afirmação da Disney à mídia especializada.

Outra produção filmada no estado foi “Carlota Joaquina, Princesa do Brazil” (1995), com imagens captadas em São Luís. “O impacto dessas produções se dá na mão de obra, restaurantes, hotéis e serviços, mas principalmente na divulgação e promoção que geram aumento do fluxo. Tivemos gravações da ‘Casa de Areia’ e da novela ‘O Clone’ nos Lençóis Maranhenses, além de documentários. Se tivermos produções de qualidade, elas facilmente despertarão o interesse do público”, afirma Catulé Júnior, secretário de Turismo do Maranhão.

BAHIA

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Cena do filme “Central do Brasil” de 1998. Foto: reprodução

Frequentemente buscada para produções audiovisuais, a Bahia coleciona títulos de prestígio, como “O Pagador de Promessa” (1962), “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976), além de novelas como “O Bem Amado” (1973), “Tiêta” (1989) e, mais recentemente, “Segundo Sol” (2018).

“Central do Brasil” (1998), destacou a cidade de Milagres, além de locações em Pernambuco e no Rio de Janeiro que se ligam à trama da professora que embarca em uma viagem rodoviária com um menino recém-órfão de mãe que deseja encontrar o pai. Segundo a Secretaria de Turismo da Bahia, Salvador é o principal destino explorado nos roteiros, além de cidades como Porto Seguro, Canudos (que foi cenário de filmes como “Guerra de Canudos”), Mangue Seco, Boipeba e Chapada Diamantina. A novela “Renascer” (1993), da Globo, fez crescer o interesse por Ilhéus e pelas fazendas de cacau, responsáveis pela opulência econômica que a região viveu na primeira metade do século 20.

“A Estrada do Chocolate, na região de Ilhéus, permite agendar visitas para conhecer espaços como a Fazenda Primavera, que mantém em sua sede um pequeno museu com documentos, fotos e objetos relacionados a essa época”, afirma a Secretaria, em nota enviada à equipe de reportagem.

A pasta considera a indústria cinematográfica como uma vitrine de grande relevância para a promoção de um destino turístico. “Metrópoles dos diversos continentes aos mais escondidos rincões do planeta tiveram seu fluxo turístico aumentado ou foram simplesmente descobertos assim que foram projetados nas telas de cinema do mundo inteiro em alguma produção de grande bilheteria”, conclui a nota da Secretaria.

Mato Grosso do Sul

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Gruta do Lago Azul em Bonito, Mato Grosso do Sul. Foto: Ana Azevedo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Marinete Pinheiro, cineasta e coordenadora do Museu da Imagem e do Som do Mato Grosso do Sul (MIS-MS), reforça o impacto que a novela “Pantanal” teve para o estado e destaca a relevância do investimento no Turismo Cinematográfico. “As pessoas possuem esse laço e querem estar no lugar do personagem, tomar decisões como ele, vivenciar os locais como ele. Então, estar no ambiente que lembre uma cena ou a produção cria um novo tipo de relacionamento entre o espectador e a obra”, conta. Bruno Wendling, diretor-presidente da Fundação de Turismo do Mato Grosso do Sul, também destaca como a obra – produzida pela extinta Rede Manchete, em 1990 – foi importante para o estado.

“Colaborou com a divulgação do Pantanal nacionalmente. A consequência foi o interesse de viajantes de todo o País em conhecer o destino”, comenta, destacando que a refilmagem da novela foi adiada por conta da pandemia, mas já está planejada. “A Fundação de Turismo do Mato Grosso do Sul foi acionada para apoiar a nova versão da novela, que iniciaria filmagens este ano no Pantanal. Ainda estão definindo detalhes, que posteriormente serão repassados”, afirma.

MATO GROSSO

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Mirante Alto do Céu, na Chapada do Guimarães. Foto: Ana Azevedo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Mato Grosso é um destino que pode levar os turistas mais aventureiros ao extremo. Por isso, foi cenário do programa “No Limite” (2001), em uma fazenda de 5 mil hectares em Chapada dos Guimarães, a 68 quilômetros de Cuiabá. Além disso, o estado serviu de paisagem para a novela “Bicho do Mato”, gravada pela Record em 2007, com produções entre Chapada dos Guimarães e Poconé. Em 2009 foi a vez de a novela “Paraíso” ser a obra nacional produzida em Poconé, desta vez pela Rede Globo.

Outras novelas, como “Fera Ferida” e “Ana Raia e Zé Trovão” também são parte do portfólio do Mato Grosso. A Secretaria de Turismo do estado (Sedec), entretanto, reforça que não há dados que tornem palpáveis os impactos que essas produções trouxeram ao Turismo. Hoje, apesar de compreender a importância do nicho, a Secretaria foca os esforços exclusivamente na retomada.

Rio de Janeiro

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Cristo Redentor, ponto turístico mais conhecido do Estado. Foto: reprodução

 

 

 

 

 

 

 

 

Cartão-postal brasileiro e cenário de diversas produções nacionais e internacionais, o Rio de Janeiro dispensa apresentações também quando o assunto é cinema. “Amanhecer”, da saga Crepúsculo, “Velozes e Furiosos 5”, “Rio, Eu Te Amo”, “Mercenários” e “Gabriela, Cravo e Canela” são apenas alguns dos títulos produzidos em destinos fluminenses.

“Central do Brasil” deu notoriedade mundial à capital e levou Fernanda Montenegro a Los Angeles, indicada como Melhor Atriz no Oscar de 1999. Outra grande produção que mostrou toda a brasilidade do carioca foi “Rio”. A animação da Blue Sky consegue transportar os espectadores à frente da televisão para os principais pontos turísticos da Cidade Maravilhosa. Paulo Senise – superintendente do Rio Convention & Visitors Bureau quando o filme foi lançado – disse sentir o impacto da obra ao mercado.

“O filme trouxe um reflexo importante na divulgação do destino. Nas agências dos Estados Unidos, nosso maior mercado, o efeito foi muito grande. Chegamos a observar agências que levaram clientes para assistir ao filme, na tentativa de promover pacotes e viagens para o Rio de Janeiro”, afirmou.

São Paulo

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Parada do Orgulho LGBT na Avenida Paulista, em São Paulo. Foto: reprodução

 

 

 

 

 

 

 

 

O estado paulista também está repleto de produções em seu portfólio. A própria secretária se recorda de importantes títulos produzidos ao longo do século 20 e 21, como “Floradas na Serra”, em Campos do Jordão; “Desmundo”, em Ubatuba; “O Cangaceiro”, em Vargem Grande; “Jeca Tatu”, em Pindamonhangaba; “O Palhaço”, em Paulínia; “O Bandido da Luz Vermelha” e “Ensaio Sobre a Cegueira”, ambos na capital.

Este último, por exemplo, é baseado na obra escrita por José Saramago e destaca o Elevado Presidente João Goulart – conhecido popularmente como Minhocão –, um dos principais pontos turísticos da cidade. Desde 2015, o viaduto é aberto aos pedestres aos finais de semana e se tornou um espaço de lazer e esporte, além de receber feiras e eventos variados. Por falar em eventos, importantes iniciativas desenvolvidas em solo paulista foram responsáveis por atrair os olhares de produções estrangeiras.

É o caso da série “Sense 8”, que usou a Parada de Orgulho LGBT de 2016 como cenário de uma de suas cenas mais icônicas. O evento, que tradicionalmente ocorria em junho (até a pandemia), transforma uma das principais avenidas da cidade em um desfile de resistência, respeito e, claro, é um convite para novos turistas.

Segundo a Secretaria de Turismo do estado, a cultura cinematográfica brasileira ainda é pouco divulgada e aproveitada como atrativo turístico, se comparado com destinos internacionais. Apesar disso, a pasta destaca seu contínuo incentivo para que as cidades organizem suas próprias Film Commissions, como há em São Paulo e Santos, como oportunidade de divulgação e promoção do destino e desenvolvimento local.

Santa Catarina

Cartaz da série Soltos em Floripa, programa original da plataforma Amazon Prime. Foto: reprodução

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Florianópolis já era visada para produções cinematográficas desde a primeira metade do século 20. Diversos documentários dirigidos por José Julianelli, desde 1925, abrangem não só a capital, como também os municípios de Blumenau e Indaial. Obras como “O Voo da Bailarina”, “No Elevador”, “O Palco”, “Putz”, entre outros fazem parte da lista de produções filmadas no estado. A Amazon Prime também decidiu investir em Florianópolis e promover um novo reality show na cidade.

“Soltos em Floripa”, que traz o nome da cidade no título, acompanha a rotina de seis participantes que não tem outro dever a não ser curtir praias, bares, restaurantes, baladas e tudo o que o destino tem a oferecer. Artistas como Pablo Vittar, Lexa, Felipe Tito e Bianca Andrade, entre outros, comentam o cotidiano desses festeiros, que às vezes saem do controle.

O sucesso da primeira temporada levou à extensão da produção. Vinícius de Lucca, superintendente de Turismo de Florianópolis, teve a oportunidade de acompanhar parte das filmagens, que ocorreram antes da pandemia, e comemora os ganhos que esse tipo de produção traz para o destino durante e após as gravações.

“Uma equipe grande vem e fica de 30 a 60 dias, consumindo, em restaurante, se hospedando em hotéis e fazendo a engrenagem econômica girar. Além disso, os turistas se encantam e vem com essa mentalidade de que aqui eles podem encontrar o que viram pela tela”, comenta.

Rio Grande do Sul

Casa de pedra construída em 1880 na Vinícola Strapazzon e usada como cenário do filme “O Quatrilho” em 1995. Foto: Hudson Modesto

O estado gaúcho também teve seu momento de fama em diversos momentos da história recente. Afinal, como falar de turismo cinematográfico sem citar “O Quatrilho”, do diretor Fábio Barreto e baseado na obra homônima de José Clemente Pozenato? O Rio Grande do Sul foi cenário para esta obra, indicada ao Oscar em 1996, como Melhor Filme Estrangeiro.

O filme, que conta a história de dois casais que moram na mesma casa, teve a maior parte do filme gravado na cidade de Farroupilha. A Cascata do Salto do Ventoso e o caminho das pedras foram pano de fundo para algumas das icônicas cenas da produção. Outra grande ação cinematográfica do estado é a minissérie “A Casa das Sete Mulheres”, inspirada no romance homônimo de Letícia Wierzchowski.

A obra foi filmada pela Rede Globo nas cidades de Cambará do Sul, São José dos Ausentes, Uruguaiana e Pelotas. Charqueada São João, casa onde foi gravada a obra, virou uma atração por si só, apoiada pelo reconhecimento como Patrimônio Nacional pelo Iphan. A locação também foi utilizada em “O Tempo e o Vento”, romance baseado no livro de Érico Veríssimo que retrata a rivalidade entre duas famílias.

Alguns cômodos permanecem com características da produção, permitindo que o visitante reconheça e relembre aquilo o que assistiu na minissérie. É isso o que o Turismo cinematográfico faz: ele proporciona conexões mentais entre imaginário e viagens, transportando vivências ficcionais em experiências únicas.

Por Ana Azevedo e Felipe Lima – Brasilturis