
O corpo do jornalista e escritor Carlos Aranha foi enterrado na manhã desta terça-feira (12), no Cemitério Parque das Acácias, em João Pessoa. Aranha morreu dormindo, aos 78 anos, e vinha em processo acelerado de senilidade irreversível acolhido em um asilo de idosos. A morte foi confirmada na segunda-feira (11). Com poucas pessoas presentes ao velório, ocorrido no salão da Academia Paraibana de Letras, – quase nenhuma manifestação do setor artístico -, a qual ele tinha uma cadeira, o ex-presidente da associação, Damião Ramos Cavalcanti, fez um breve pronunciamento de despedida e relatou algumas das passagens mais emblemáticas e a convivência entre os dois.
Damião Ramos foi o responsável direto pelo ingresso de Aranha na APL, indicação dele e imediatamente encampada pelos outros membros. Muitos anos após os dois se conhecerem, quando o jornalista foi protegido durante 1964 – perseguido pelo regime militar -, quando integrava a Juventude Estudantil Católica, no Seminário Arquidiocesano da Paraíba, o ex-secretário fez o convite para que ingressasse na Academia.
“Lembro que ele se surpreendeu com o convite, dizendo que sempre foi uma pessoa simples e não almejava aquele símbolo, essas honrarias, mas aceitou. Ato contínuo, chamei José Jackson de Carvalho para aderir a ideia, começando a enviar mensagens para outros acadêmicos para apoiar o nome de Aranha”. O também ex-secretário de Cultura do Estado disse ainda, que, ao falar com Gonzaga Rodrigues sobre Aranha, ele me disse: “é bom” que os quadros da Academia tivesse mais um jornalista, inclusive, aderindo a ideia.
Uma coincidência nessa relação entre Aranha e Damião, é que foi o jornalista que indicou o ex-secretário para ingressar na Associação Paraibana de Imprensa (API). “Devo a você a minha entrada na API, que me convidou pelo pouco que escrevia”, comentou.
Durante o pronunciamento, Damião disse também que, “assim como eu peguei a mão de Aranha para entrar nessa instituição, eu o convidei também para me auxiliar na criação do Cine Clube da instituição. Era ele quem indicava os filmes, vinha às vezes aos debates, comentar com os cinéfolos, e também eu agradeço a você o nosso relacionamento da instituição com o mundo artístico, sobretudo, com os artistas da música”.
“Foi Aranha, que no dia de sua posse, insistiu para Juarez Farias, então presidente da APL, para que a pauta se abrisse mais e concedesse também um número de música na posse. Foi assim que Gustavo Magno cantou trechos da obra de Augusto dos Anjos”. Aranha assumiu a cadeira de número 39, que pertencia a Afonso Pereira.
“Estou aqui me despedindo, em nome de todos os acadêmicos e acadêmicas, sobretudo, porque, vou pegar na alça do seu caixão para sair desta Casa. Com as mesmas mãos que você ingressou na Academia e será também, por essas mãos, que você vai sair dela, concluiu”.
Em seu artigo no site do Jornal da Paraíba, o jornalista Silvio Osias revelou que, em agosto último, a pedido de Naná Garcez, presidente da Agência Paraibana de Comunicação, escreveu um perfil de Carlos Aranha para um livro que o Jornal A União vai publicar. “Terminei o texto assim: Ousado, provocador, transgressor, Carlos Aranha viveu intensamente os sonhos de quem foi jovem nos turbulentos anos 1960 e se fez figura imprescindível na cena cultural paraibana das últimas décadas”.
No velório de Aranha, próximo das 10h, não havia mais do que 30 pessoas presentes. Entre elas, a maioria acadêmicos, como Roberto Cavalcanti, Gonzaga Rodrigues, Ramalho Leite (atual presidente), entre outros. Ainda nesse momento estavam Silvio Osias, Helder Moura, Sérgio Botelho, Professor Trindade, Alarico Correia Lima.
Fábio Cardoso