Paraíba precisa de voos charters para aumentar fluxo de turistas para resorts do Polo Turístico Cabo Branco e Hotel Tambaú

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A reabertura do Hotel Tambaú, em João Pessoa (PB), vai inserir a Capital paraibana novamente nos holofotes do mercado internacional, porém, em um período com perspectiva de crescimento da demanda de turistas com maior poder aquisitivo, tendo em vista a conclusão dos projetos de construção de diversos resorts no Polo Turístico Cabo Branco. A concretização do Polo Turístico vai dobrar a oferta de leitos – serão mais de 13 mil previstos para serem abertos após a conclusão de instalação de todos os empreendimentos, a partir de 2026 -, e esse, na opinião do empresário Ruy Gaspar, diretor do Grupo AG Hotéis, do Rio Grande do Norte, que assumirá o Tambaú, será um dos maiores desafios desse crescimento.

Gaspar, que já foi secretário de Turismo do Rio Grande do Norte, tem sugestões para duplicar, na mesma velocidade, o número de turistas, inclusive, estrangeiros. Na opinião dele, aposta em voos charters que poderão chegar a João Pessoa da Europa seria uma das ações prioritárias, porém, segundo ele, a limitação de extensão da pista do Aeroporto de João Pessoa/Presidente Castro Pinto seria um gargalo que já deveria está sendo negociado pelo Governo do Estado junto à Aena Brasil, concessionária espanhola que administra o equipamento.

De acordo com o empresário, o processo de negociação com as operadoras de turismo passa por uma análise que envolve a capacidade do aeroporto receber aviões de maior porte. Ruy Gaspar disse que, enquanto secretário de Turismo, fechou parcerias com empresas internacionais, momento em que houve um boom no turismo de Natal (RN), com a presença em massa de turistas vindos de países como Suíça, Suécia, Holanda, Portugal, Espanha, entre outros. Natal, que recebia cerca de 20 mil turistas, passou a atender 200 mil turistas. “Naquela época o nosso maior concorrente era a Tailândia que, inclusive, tentou ‘sabotar’ nosso destino junto ao mercado internacional”, pontuou.

O encerramento desse ciclo, conforme o empresário, se deu porque – já tendo saído da secretaria – o sucessor não ‘comprou’ a ideia dos voos charts, porque entendeu que a parceria criava um modelo de subsídio para as companhias aéreas e operadoras de turismo. Na vinda dos voos, se discutia a divisão de riscos (gastos) na ocupação da aeronave e o secretário entendeu que o governo não deveria entrar com dinheiro, por está bancando o setor privado.

“Na realidade, nossa ideia era de ‘custear’ a nossa parte contando com as parcerias com o setor hoteleiro, de receptivo, de bares e restaurantes, criando os tradicionais famtours, além de trazer jornalistas estrangeiros para divulgar o nosso potencial turístico. Não entenderam assim, deu no que temos atualmente”.

De acordo com Ruy Gaspar, a vinda dos voos charters para a Paraíba abriria a possibilidade de incrementar ao mesmo tempo o comércio internacional. O empresário disse que os voos chegariam a João Pessoa com turistas, mas com os porões dos aviões com parte deles vazia. No retorno à Europa, por exemplo, esse mesmo avião poderia partir com cargas de empresas do Nordeste. Porém, segundo ele, é que estaria o gargalo do tamanho da pista do Castro Pinto. “O problema não seria o pouso do avião, porque ele viria mais leve, com menos combustível por conta da distância do voo. Porém, com as cargas, o peso limitaria a decolagem, porque não teria pista suficiente para uma operação segura”, avaliou.

Durante o período de voos charters da Europa para Natal, as companhias aéreas operavam com aviões grandes. A ArkeFly, que fazia a rota Natal-Amsterdan, na Holanda, utilizava um Boeing 737-8K5. Em 2017, na gestão do prefeito Luciano Cartaxo, a prefeitura de João Pessoa chegou a negociar a vinda de um voo charter da Holanda, com a mesma operadora que operou em Natal, a Tui, que utilizava aviões da ArkeFly. Os entendimentos não foram adiante.

Análise aponta que pista do aeroporto limita tamanho dos aviões

A pedido do TURISMO EM FOCO, o Professor de Ciências Aeronáuticas da Uninassau, em Campina Grande, André Andrade, apontou, com uma breve análise, que, com informações de PCN 52/F/B/X/T do aeroporto Castro Pinto, pode-se entender que as aeronaves que têm permissão para operação segura na pista de João Pessoa são das seguintes categorias de aeronaves: ATR 42 / 72; Embraer 190 / 195; Boeing 737 NG e MAX (até certo peso); Airbus A318 / A319 / A320. “Aeronaves maiores como A321, B767, B787 e B777 excedem o PCN e, portanto, requerem estudos específicos ou autorização especial para operar”, apontou.

Entenda como é feito esse cálculo:

Dimensões da pista: 2.515 m x 45 m
Revestimento: Asfalto (ASPH)
PCN: 52/F/B/X/T
Significado do PCN 52/F/B/X/T:
52 → Resistência da pista (quanto maior, mais resistente)
F → Pavimento flexível (asfalto)
B → Subleito de resistência média
X → Operações com controle rígido de carga por parte do aeroporto
T → Avaliação técnica (método usado para determinação do PCN)

Segunda Fase:
Comparando com o ACN (Aircraft Classification Number)
A aeronave pode operar se seu ACN for menor ou igual ao PCN da pista. Se o ACN for maior que o PCN, a operação pode danificar o pavimento e exige autorização especial.

Pegando uma tabela genérica de ACN de aeronaves que comumente operam no Brasil, a exemplo de ACNs de aeronaves (pavimento flexível / subleito médio):
Aeronave ACN (MTOW) aproximadamente.

Pode operar no aeroporto de João Pessoa?
ATR 72-600 8–12 Sim
Embraer E195-E2 18–24 Sim
Airbus A320 45–50 Sim
Boeing 737-800 44–50 Sim
Boeing 737 MAX 8 50–53 Limite máximo
Airbus A321 55–59 Não – recomendado sem análise específica ou autorização especial
Boeing 767-300ER 65–75 Acima do PCN

Aena afirma que o Castro Pinto pode receber aviões de maior porte

Em nota enviada ao TURISMO EM FOTO, a Aena Brasil afirmou que o aeroporto de João Pessoa tem capacidade de receber aviões de maior porte, “sem nenhuma alteração na infrsaestrutura do aeródromo, a partir da realização de alguns ajustes previamente alinhados com a Anac”.

Segue a nota na íntegra:

O Aeroporto Internacional de João Pessoa opera regularmente aeronaves A321, com capacidade para até 244 passageiros. Movimentações com aviões de maior porte são permitidas, sem nenhuma alteração na infraestrutura do aeródromo, a partir da realização de alguns ajustes previamente alinhados com a Anac.

Além disso, melhorias estruturais realizadas pela Aena no Aeroporto Internacional de João Pessoa implantaram áreas de segurança nas laterais e duas cabeceiras da pista, garantindo o reforço da segurança de acordo com padrões internacionais. Com mais de 2,5 mil metros de comprimento, a pista de pousos e decolagens tem dimensões suficientes para receber aeronaves, sem oferecer nenhum entrave ao crescimento da movimentação.

A Aena trabalha em conjunto com o poder público, o trade, companhias aéreas e outros atores da iniciativa privada para promover o desenvolvimento econômico e turístico das regiões em que atua. Os investimentos realizados pela concessionária estão em consonância com as demandas do aeródromo que atende à capital paraibana, com infraestruturas sempre a serviço do crescimento do estado.

Fábio Cardoso – Foto: Divulgação/Aena