Talvez pouca gente se lembre, mas o Flamengo já teve um camisa 9 nascido na Paraíba e que fez até gol em sua estreia no time carioca, em 2004. José Edicarlos Lima Negreiros, conhecido no futebol apenas por Negreiros, jogou no clube mais popular do Brasil ao lado de Júnior Baiano, Zinho, Fabiano Eller e era comandado nada mais nada menos por Abel Braga, em 2004. Esse gol, inclusive, classificou a equipe para a nova fase da Copa do Brasil, contra o Santa Cruz, naquela temporada, faltando apenas 20 minutos para o jogo acabar – o Flamengo sagrou-se vice-campeão, perdendo para o Santo André, em pleno Maracanã. No primeiro confronto, havia dado Santa Cruz por dois e um. A curta passagem no time resultou em apenas quatro gols, mas muitos elogios do treinador, que abraçou a atleta e o chamou de “fenômeno”, como afirmou em entrevista veiculada no GloboEsporte,com, em setembro de 2017.
Negreiros começou a jogar profissionalmente somente aos 21 anos de idade, tendo que ‘pagar’ o preço de não ter passado pelas categorias de base. A base dele foi o ‘corre’ a partir dos sete anos de idade, em Boqueirão, onde nasceu, quando começou a trabalhar com o pai em um matadouro, em Campina Grande, onde, aos 18 anos, foi para uma fábrica de colchão. Descobriu o futebol e foi até campeão pelo time da empresa, quando foi descoberto pelo Campinense, time que assinou o primeiro contrato profissional.
Da Raposa para o mundo. Negreiros atuou pelo Rio Branco, do Paraná – atuações que chamaram a atenção do Flamengo -, Curitiba – não foi bem e devolvido ao Rio Branco -, União Rondonópolis, antes de migrar para a Lituânia e defender o FK Sūduva Marijampolė, em 2007. Voltou ao Brasil, e novamente a Europa. Em 2009 defendeu o clube paraguaio Club Guaraní e ganhou os holofotes por ter marcado um gol na Taça Libertadores daquele ano contra o Boca Juniors, no lendário e temido estádio da La Bombonera.
Voltou ao Campinense, mas não teve sucesso, inclusive, a equipe paraibana foi rebaixada para a Série C do Campeonato Brasileiro. Foi jogar no Paulista de Jundiaí, em São Paulo, voltando em 2011 para o Rio Branco. Passou pelo Toledo, do Paraná, Mixto, Foz do Iguaçu e ainda pelo Blumenau e Metropolitano, times paranaenses. Negreiros fincou moradia em Foz do Iguaçu, onde chegou a ser diretor de esporte do clube de cidade.
Sonho de retornar a João Pessoa após aposentadoria
E por que estamos levantando o histórico desse paraibano? Desde terça-feira passada, o TURISMO EM FOCO esteve em Foz do Iguaçu para a cobertura do Festival Internacional Cataratas – FITCataratas -, encerrado na sexta-feira (06). Em um desses dias, pegamos um Uber e o motorista era justamente o protagonista dessa reportagem. Isso mesmo, encontramos Negreiros dirigindo um Peugeot preto, com bastante tempo de uso.
Assim que entramos no carro, ele foi logo puxando conversa, perguntando de onde éramos. Ao dizer João Pessoa, olhou para traz e disse que também era paraibano e que havia jogado em diversos clubes do Brasil, entre eles o Flamengo, e até na Europa. “Sou Negreiros, que atuei em vários times e comecei a jogar no Campinense”, disse com ar que misturava orgulho, saudade e tristeza. Orgulho pela origem, saudade porque ainda pretende retornar à Paraíba em breve, e tristeza porque o time que o revelou tem uma dívida acima de R$ 70 mil, conforme afirmou. A cobrança está na Justiça.
Negreiros, hoje com 45 anos de idade, revelou que ganhou muito dinheiro no futebol. Tem um apartamento em João Pessoa e conseguiu pagar valor alto à Previdência Social, onde aguarda o tempo de serviço para se aposentar. Pegou a reforma da Previdência, algo lamentado por ele, porque caiu na armadilha do Governo Federal e terá que pagar todos os pedágios para conseguir se aposentar. Não sabe quando ainda, mas o sonho é retornar para João Pessoa é fato consumado.
Segundo o ex-atleta, a ideia é ocupar o apartamento que tem na cidade e continuar os estudos. Ele pretende retornar ao futebol, afirmando que não sabe fazer outra coisa no momento. Talvez como preparador físico, treinador, dirigente, ainda não sabe.
Por educação e respeitando a sua história, não achei elegante perguntar o motivo pelo qual a vida o fez ser motorista de Uber como atual profissão, pelo fato de ter sido dirigente esportivo pelo time da cidade, o Foz do Iguaçu. Utilizamos o Uber outras vezes e o valor da viagem não passou dos R$ 20. O preço da corrida com o Negreiros foi de R$ 14,56. A cidade paranaense é uma das que mais atraem turistas brasileiros e estrangeiros e as distâncias percorridas são longas, dependendo de onde as pessoas estão e de para onde vão.
No final da corrida, pedi para registrar nossa conversa e fazer uma foto. No aplicativo, é possível ver as avaliações e opiniões do atendimento do paraibano. Só elogios: ótimo atendimento, muito simpático, ótimo papo e carro limpo e conservado. Incluo mais um comentário – esse meu – que bela história de vida e que o sonho de retornar à Paraíba seja realizado no menor tempo possível.
Fábio Cardoso
