Duo Repercuti faz percussão erudita com raízes fincadas na ancestralidade afro-brasileira

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Com criações e parcerias artísticas inéditas, o Duo Repercuti volta aos palcos do Recife, em projeto de circulação apoiado pelo Sistema de Incentivo à Cultura (SIC), da Prefeitura do Recife, por meio da Fundação de Cultura Cidade do Recife. O retorno, mais um importante passo na carreira dos instrumentistas Emerson Coelho e Emerson Rodrigues, promete revelar a riqueza sonora da percussão sinfônica e popular em encontros surpreendentes. Mantendo a busca pela inovação e as experimentações sonoras, o duo se prepara para dividir a cena com criadores de uma das potências da música pernambucana atual: a Nação Xambá. O concerto “O Som das Baquetas Convida os Tambores da Xambá” será no dia 31, às 20h, no Teatro Hermilo Borba Filho, no Bairro do Recife.

É a primeira vez em que Emerson Coelho e Emerson Rodrigues apresentam uma nova leitura do espetáculo do disco de estreia, “O Som das Baquetas” (Ouça este álbum: O Som das Baquetas https://open.spotify.com/album/3KvwD5MhQJqRw3ly1jgdnC?si=RWs3pI3WQIyos3TWU4yCEg), realizado no Teatro Marco Camarotti, no Sesc Santo Amaro, em 2022, com incentivo do Itaú Cultural. A fase atual é mais um desdobramento do trabalho criativo consolidado com o disco, pautado na pesquisa musical de instrumentos percussivos sinfônicos, como a marimba e o vibrafone, que possuem teclas tocadas por meio de baquetas. O público terá a oportunidade de conferir, aliás, o vibrafone tocado de forma inusitada, por todos os artistas, juntinhos.

“Mostraremos novos arranjos e composições completas inéditas, aproveitando a liberdade e a história musical da Xambá que tem uma estética marcante. Tínhamos essa vontade de trabalhar com eles há um tempo, e o edital do SIC permitiu isso. Estamos muito animados. Sem dúvida, será incrível”, ressalta Emerson Coelho. O artista destaca as semelhanças da música dos integrantes do Bongar com o Repercuti. “Temos esse mesmo coração e pulsação musical, sempre com a energia para cima, mesclando timbres, cores, sons e muito axé”, diz Coelho.

Na mesma trilha de Beto, Memé e Thulio da Xambá, integrantes do Bongar, Coelho tem origem e música fincadas na ancestralidade afro-brasileira. “Assim como o Repercuti, a Nação Xambá é formada por homens pretos e mulheres pretas, que já tocaram e compuseram com mestres como Naná Vasconcelos, que estamos homenageando. Também temos em comum o Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu, representado pela Rainha, dona Olga. Vamos levar essa herança para o palco. Música é política e faz parte de nosso papel, enquanto artistas, provocar reflexão”, coloca o músico, que brinca no Maracatu Estrela Brilhante desde criança e é ogã-olabê e cantador do Boi Maracá.

Já o outro integrante do Duo tem trajetória musical bem diferente. Nascido em Chã de Alegria, ele veio com a família para o Coque ainda garoto. Lá viveu e entrou em contato com a música sinfônica por meio da Orquestra Criança Cidadã. Ao longo da carreira, ambos passaram por diversos grupos e orquestras, a exemplo da Orquestra Sinfônica Jovem, Orquestra Sinfônica do Recife, Orquestra Sinfônica da Paraíba e Grupo de Percussão do Nordeste, atuando juntos ainda em formações como a Orquestra de Câmara de Pernambuco.

Emerson Rodrigues também observa a música como instrumento de reflexão, chegando a outros vieses artísticos. “Nosso show é de percussão, mas também é pensado para trazer outros sentidos para além da música, do lado educativo e cultural. Nunca pensei nessa reviravolta, que estaria em 2024 repensando o papel dos instrumentos sinfônicos e da música afro-brasileira através do nosso trabalho. Tive o prazer de conhecer Naná Vasconcelos muito novo ainda, quando integrei a primeira turma do Criança Cidadã. Foi um contato breve, mas ele foi extremamente generoso, receptivo e gentil conosco”, recorda ele, que também é arte-educador.

O namoro do Duo Repercuti com os músicos do Bongar é antigo. “A cultura popular pode dialogar com qualquer outra cultura. Estar com eles, celebrar, compartilhar informações é de suma importância”, comenta Beto da Xambá. Ele ressalta semelhanças na trajetória dos conjuntos. “O Duo e nós, da Xambá, ocupamos espaços que antes não nos eram permitidos. Estar dentro da universidade e também no candomblé e, ao mesmo tempo, ser referência para o futuro, são elementos que apontam para o poder transformador da percussão”, diz.

Além da música

Outra característica forte do trabalho do Repercuti e que traz resultados interessantes ao show é que o espaço para a improvisação ultrapassa a música e chega aos aspectos visuais. Mais uma vez, o VJ Gools promete novas perspectivas cenográficas. Ele integrou a equipe em 2022, quando usou a estética visual de “O Som das Baquetas” e o conceito da autorreatividade, criando mecanismos que levavam o som executado ao vivo a afetar a cenografia.

Agora, a integração com o espaço físico toma por base a arquitetura cênica do Teatro Hermilo, com sua parede de tijolos antigos aparentes, que ganhará efeitos de inteligência computacional abstratos projetados formando um telão inusitado, somado às homenagens a artistas como Naná Vasconcelos, Dona Olga do Estrela e Guitinho da Xambá.

A produção do show segue com Tainá Menezes, e a produção dos figurinos e stylist, com a Zarina Moda Afro, de Jéssica e Rodrigo Zarina. “Recebemos a missão de produzir mais um figurino para o Repercuti, vestindo esses reis para esse grande momento, através de conexões ancestrais da musicalidade e essência de cada um. Esse sonho se materializa numa ‘Celebração das Águas’, carregada de significados e axé”, diz Jéssica.

Agenda

Em agosto, em data a ser definida, o Duo volta ao Teatro Hermilo com outro show, apostando na parceria com o trio formado pelo arranjador Henrique Albino, Silva Barros (bateria), e Felipe de Lima (contrabaixo). Ainda no segundo semestre, o Duo Repercuti circulará com o espetáculo pelas cidades de Aracaju, Salvador, Fortaleza e em Pernambuco, por Gravatá e Igarassu.

Serviço:

O Som das Baquetas Convida os Tambores da Xambá. Dia 31 de maio, às 20h, no Teatro Hermilo Borba Filho (Cais do Apolo, Bairro do Recife). Aberto ao público.