Prefeito diz que Natal Iluminado deve passar para setor privado, não garante a Micarande e que baterá na porta do Palácio da Redenção

Destaque Paraíba

O prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima, afirmou que o Natal Iluminado recebeu o status de um grande evento natalino, se tornando uma referência para as cidades do Nordeste. A intenção dele, a partir de agora, é iniciar um processo de transferência do projeto do poder público para o poder privado, no mesmo modelo adotado com os festejos juninos. 

Na entrevista ao TURISMO EM FOCO, quando da visita da reportagem para conhecer pessoalmente o Natal Iluminado, nesta terça-feira (06), a convite da Abrajet-PB, Bruno não deixou muito claro que pretende investir na realização da Micarande, evento carnavalesco que já foi referência nacional, por ter sido a primeira cidade fora da Bahia a promover os tradicionais carnavais fora de época, na década de 90. O evento só será realizado dependendo de uma série de condições, a começar do seu local.

Sobre a edição do Maior São João do Mundo, que celebra 40 anos de sua criação, o prefeito disse que promoverá uma série de intervenções no entorno do Parque do Povo, que passará de 43 mil metros para mais de 90 mil metros. O evento continuará sendo formatado pela iniciativa privada, medida que reduzirá o investimento do evento com dinheiro público.

O prefeito afirmou que pretende procurar o governador João Azevêdo para discutir projetos em benefício à população de Campina Grande, assim como bater nas portas do governo federal, dos ministérios e até do Congresso Nacional. Bruno enfatizou que já fez isso há quase dois anos, com o governo do estado, mas, até o momento, ainda não foi atendido em nenhuma das reivindicações. “Meu papel sempre será pedir”, disse.

Confira a entrevista na íntegra:

Qual a avaliação das ações promovidas para o desenvolvimento do turismo ao longo de 2022?

2022 foi o ano da consolidação, primeiro, pelo grande retorno das atividades turísticas. Em 2021 muita coisa ainda estava parada, a exemplo do nosso maior potencial que é o Maior São João do Mundo, que não aconteceu, e esse ano foi o da retomada do turismo, tanto quanto o turismo de negócios como o de lazer. Pra todo mundo se convencionou a chamar essas atividades em indústria sem chaminé. Mas, aqui para Campina Grande, em especial, nós tínhamos um primeiro semestre já bem consolidado há décadas, durante o período de Carnaval. Enquanto as outras cidades comemoravam a festa do Carnaval, nos tornamos um grande retiro espiritual, com encontros como o da Consciência Cristã; o Crescer, que é o encontro das famílias católicas, e no meio do ano o ápice, com a realização dos festejos juninos. Mas havia um hiato no segundo semestre, onde sentíamos uma dificuldade de consolidar o viés turístico e atrair tanto o investimento privado assim como atrair pessoas de outras cidades que viessem gastar, consumir, aproveitar a cidade e essa decisão de acreditar no potencial turístico do Natal Iluminado faZ com que a gente tenha virado uma chave.

O Natal Iluminado já está consolidado. Antes ele era basicamente uma decoração natalina da cidade e, desde o ano passado, ele iniciou o processo de mudança, de convergência, para se tornar um grande evento. Esse ano, e já foi consolidado, o Natal Iluminado tem 43 dias – de 25 de novembro até 06 de janeiro de 2023, dia de Reis, quando tradicionalmente se faz o desligamento das luzes natalinas.

Como é o evento?

Durante esse período, serão mais de 500 atrações em três palcos montados, dois deles nos Polos da Criança e da Árvore, e o palco do Teatro Municipal. São quase dois mil artistas envolvidos que movimentam a economia regional do interior até o Sertão da Paraíba, de Pernambuco, Rio Grande do Norte, estão vindo para Campina e, na medida em que a gente consolida esse potencial do Natal Iluminado, a gente traz ainda mais pessoas. Campina Grande se consolidou como uma referência do Natal para o interior do Nordeste. Nessa última semana agora, nós recebemos caravanas de Bananeiras, de Olivedos, de Monteiro, de diversos grupos turísticos que estão vindo das cidades circunvizinhas e que estão aproveitando, passando o final de semana, às vezes são pessoas que vieram visitar alguém da família para passar um dia e acabam estendendo e passando até quatro dias para aproveitar a programação.

Como está a parceria com o setor privado?

O fato de nós acreditarmos no potencial turístico do Natal, já despertou no próprio trade turístico da cidade o interesse não só de fazer os investimentos. Somente esse ano, já recebi três manifestações formais da iniciativa privada na construção de parcerias para o evento do próximo ano. O retorno do presépio vivo, investimento no Ônibus turístico, muita coisa que incentiva e faz acreditar ainda mais nesse potencial. Na programação, nós temos apresentações de corais das igrejas católicas e evangélicas, sem falar que nós temos mais de 180 ambulantes, enfim, o engajamento da sociedade. Houve um cadastro para quem quis participar. Esse comércio de temporada tem um impacto positivo no mercado central das ruas centrais e dos bares e restaurantes, setor de hotelaria que são basicamente a força econômica que a cidade tem,

Como será o evento em 2023?

O Açude Velho é o grande cartão postal da cidade. Eu posso adiantar uma coisa: estamos agora lançando o edital de licitação com quase R$ 30 milhões de investimento no Parque Oswaldo Cruz, no Açude novo. No ano de 2024, nós podemos adiantar agora, que queremos uma grande edição do Natal, que engloba o Parque da Criança, Parque do Povo e Açude novo. A parte de baixo do Parque do Povo será transformado em estacionamento a partir de 2024, a parte de baixo no Parque do Povo e a de cima servindo como palco de uma cidade cenográfica, e, como nós iremos construir um túnel que interliga o Açude novo e o Parque do Povo, se juntando ao obelisco, sendo a nossa maior referência de árvore assim como de ornamentação. 

As primeiras informações do SindCampina, assim como o sindicato de Bares e Restaurantes, têm apontado uma média de ocupação da rede hoteleira em 80% de ocupação dos quarto de apartamentos da rede hoteleira, Fico feliz pelo fato de ser além do potencial turístico, tem a data máxima do Cristianismo. Fico feliz de estar colocando talvez um pouquinho da minha digital na consolidação dessa marca.

Secretária de Turismo e Desenvolvimento Econômico, Larissa Almeida, explica conceitos do Natal Iluminado para grupo de jornalistas de João Pessoa.

Micarande é um evento bom para Campina Grande?

Diferente do que aconteceu no passado, a Micarande era executada pela prefeitura. A gente não tem mais grande interesse de realizar pelo poder público. A iniciativa privada já manifestou interesse, mas não está 100% garantido. Precisa passar por algumas avaliações no que diz respeito a local, logística, segurança, envolvimento do poder público. Caso aconteça, não será o município que irá promover. Nós temos a experiência de realização de apresentação de um bloco, o Namoradrilha, mas eu confesso que para fazer um evento aberto com muitos blocos eu tenho algumas preocupações como segurança, logística e mobilidade. Uma coisa era a cidade na época de 90, outra coisa é a cidade nos anos de 2020, 2023, no que diz respeito ao crescimento de veículos nas ruas. Imagina se fosse voltar a Micaroa em João Pessoa e tivesse que fechar todas as vias da orla marítima, não teria como. Então, aqui é preciso primeiro ver um local para poder acontecer.

Edição histórica do São João

Em se falando em São João, aí sim, será uma edição bastante especial, já que o evento estará completando 40 anos de criação. A gente tem a expectativa de fazer uma coisa bastante marcante para comemorar desde que o poeta Ronaldo, em 1983, lançou a marca do Maior São João do Mundo, depois em 86 se consolidou com a construção do Parque do Povo, transformando os coqueiros de Zé Rodrigues. A gente está fazendo um projeto de expansão do Parque do Povo na parte interior. Tem uma música de Amazan que, em certa altura, ele diz: “o meu desejo é que o Parque do Povo cresça e vá bater na Caranguejo…”. Quem sabe, a gente não está ajudando a realizar esse desejo, quando Ronaldo começou pela parte superior, foi estendido para a parte de baixo.

Muita gente já pensou em levar o evento para outras áreas da cidade, um pouco mais distante, mas tem um porém: o parque, que é do povo, sendo localizado no centro da cidade, permite que as pessoas do José Pinheiro, do Catolé, do Quarenta, da Liberdade, do Prata, de todos esses bairros aqui do entorno, possam vir e retornar para as suas casa a pé. Se a gente levar em uma noite que tenha mais de 100 mil pessoas para um local muito distante, integralmente essas pessoas vão depender de veículos, então, a área de estacionamento teria que ser 10 vezes maior. Em 2022, não houve registro de acidentes de veículos nas áreas próximas ao Parque do Povo, mesmo com o grande contingente de pessoas que participaram do evento. Veja como isso é relevante, uma festa que movimenta milhões de pessoas ao longo de 30 dias você não ter qualquer acidente naquele entorno. Exatamente por isso a gente está trabalhando na expansão da parte inferior e com a revitalização da parte do Parque do Açude Novo que são áreas não utilizadas, primeiro porque são separados. Quando nós fizermos o túnel ligando os dois, iremos acrescentar somente com o Açude Novo cerca de 43 mil metros quadrados ao Parque do Povo, que sairá de uma área de 26 mil metros quadrados para 92 mil metros quadrados, assim poder fazer uma festa cada vez melhor, mas confortável, segura, melhor para o turista, melhor para o usuário, para o comerciante, para o artista, para todo mundo. 

O evento continua na mão da iniciativa privada?

Temos que fazer uma nova licitação para entregar o evento para a iniciativa privada. Eu acho que, hoje, o papel do poder público é ser indutor, fazer despertar o interesse da iniciativa privada e investir em uma determinada área. Até pouco tempo atrás, a prefeitura investia diretamente de R$ 12 milhões a R$ 15 milhões no São João. Indiretamente, você conta quase R$ 20 milhões quando se soma investimento na área de Saúde, segurança e trânsito. Agora, com esse modelo, a gente reduz o investimento e proporciona que a iniciativa privada, através de patrocinadores das distribuidoras de bebidas, das operadoras de telefonia, dos Bets, de bancos, de empresas de varejo, financiem a realização do São João. 

Agora, com o Natal, é uma coisa bem parecida. Nós estamos fazendo um investimento inicial já na expectativa de que no ano que vem desperte a iniciativa privada e trazer patrocínio, financiamento. Já entramos em contato com algumas empresas e, por exemplo, a Gol Linhas Aéreas demonstrou interesse em participar com uma cota de patrocínio para o São João de 2023. Eu brinquei, dizendo que quem quiser patrocinar o São João terá que patrocinar o Natal Iluminado.

Relação com o governo do estado?

A minha relação com o governo do estado, da minha parte, será a mesma, eu não tenho problema algum. Quebramos um jejum de 15 anos, fui o primeiro prefeito em todos esses anos a ir ao Palácio da Redenção. Eu pedi audiência ao governador João Azevêdo e apresentei alguns pleitos para a cidade de Campina Grande. É bem verdade que eles ainda não foram resolvidos após um ano e meio praticamente. O meu papel, administrativamente falando, é defender o interesse de Campina. O momento da política é próprio, ele é saudável, importante. Eu tenho as minhas posições, politicamente não sou aliado com o governador, mas nós não estamos falando sobre aliança política, estamos falando sobre uma cidade, um estado que precisa conviver. E eu espero verdadeiramente que por parte do governo haja uma mudança de visão em relação a Campina Grande. São praticamente 15 anos que Campina não tem direito a assinar um convênio, receber um convênio do governo do estado. É a cidade mais importante do interior do Nordeste, a segunda maior cidade da Paraíba. Está certo que nós temos um empreendedorismo muito forte, uma classe empresarial relevante, a cidade sempre procura construir as suas soluções, mas é importante construir parcerias e eu já disse e repito, vou bater em todas as portas que forem necessárias. Se essas portas se abrirão ou não, aí já não é.

Meu papel é pedir. Meu papel é bater na porta, pleitear, em todos os lugares, na iniciativa pública, na iniciativa privada, no governo do estado, no governo federal, no Congresso Nacional, nos ministérios, nos bancos, em tudo aquilo que for necessário a gente vai. Os pleitos não são pra mim. Nunca vocês vão ver eu pedir alguma coisa pra mim. Eu não fazia isso quando era vereador, quando fui deputado, não faço agora como prefeito. O que eu pleitear, será para uma cidade que tem 400 mil habitantes diretos e que, indiretamente, concentra uma macroregião com mais de um milhão de pessoas. Se falarmos de Saúde, só na Obstetrícia, Campina Grande é referência para 189 dos  223 municípios que a Paraíba tem. Então, está claro que quem investir em Campina Grande está investindo na Paraíba.

Fábio Cardoso