Era março de 2020, em plena pandemia da Covid-19. Demitido do Jornal Correio da Paraíba – que fechou as portas do jornal impresso no começo desse drama – me vi envolvido dentro de um grupo de whatsapp criado por brasileiros que estavam ‘presos’ na cidade de Cusco, no Peru. Desses brasileiros, dois deles (Gilberto Lopes e Darci) eram paraibanos amigos e que estavam chegando naquela cidade num domingo à tarde e no momento em que o governo peruano decidiu fechar o país para o mundo. Ninguém entrava, ninguém saía.
O #TBT desta quinta-feira me faz relembrar esses momentos terríveis vividos não apenas pelos brasileiros, mas também por centenas de turistas estrangeiros que visitavam aquele belo e místico país da América da Sul. Em várias reportagens, narrei momentos de extrema incerteza, de dor, de medo, de receio de morte, de fome e frio. Pelas narrativas das pessoas no grupo do whatsapp, eu tinha ciência exata do que estava acontecendo e não era nada bom.
Os momentos mais tensos, com o passar dos dias, foi a restrição que o governo peruano impôs até de andar em dupla pelas ruas vazias, o risco do colapso de alimentos – que era limitado por pessoa – e a procura de meios de retornar ao Brasil. Muitos, inclusive, não sei nem como retornaram com facilidade.
Quando o governo brasileiro decidiu repatriar os brasileiros do Peru, a maioria já estava no limite. E não foi uma operação fácil, porque havia mais brasileiros do que assentos nos aviões da FAB e das companhias aéreas Gol e Latam e muitos deles distantes de Lima – capital do Peru – e sem ter como se locomover. Nessa negociação, usei do conhecimento com um amigo do Gol, que conseguiu encaixar o casal de amigos paraibanos em um desses voos. Claro que retornariam ao Brasil, mas essa ajuda trouxe alívio a quem clamava por ajuda. Retornaram em paz, com vida e muita história para relatar sobre essa terrível experiência.
Na tarde desta quarta-feira (10) me encontrei com Gilberto Lopes, amigo de longas datas de redação e um amigo particular. Nos falamos por alguns minutos e não toquei nesse assunto. Mas aquele momento me veio à cabeça e precisei fazer esse depoimento.
Todas as reportagens sobre esses momentos, da chegada até o final da viagem, em João Pessoa, todos podem ler no site, que está à disposição.
Fábio Cardoso
