O bom baiano Carlinhos Brown afirmou que não estava criticando ninguém, mas revelou estar um tanto incomodado com o rumo que a música popular brasileira está tomando com o que ele chamou de ‘contexto histórico do jingle’. Sem poesia, o Brasil pode estar perdendo uma geração de excelentes compositores que colocam a sua poesia nas letras, em seus trabalhos, mas não têm como gravar.
“A música brasileira tem avançado, com muitos músicos novos, com muita poesia, mas estão precisando ser gravados”, alertou Brown. O artista participou na semana passada de um grande talk show organizado pelo Grupo Mongeral Aegon, que reuniu cerca de três mil colaboradores da empresa para celebrar os 185 anos da seguradora, no Riocentro, no Rio de Janeiro.
Brown foi um dos palestrantes e falou de sua carreira e de alguns projetos sociais que mantêm em todo o Brasil, mas se abriu, de coração, durante uma coletiva de imprensa após o evento. “Talvez uma geração corre o risco de não ver/ouvir poesia, pois a base edificada dos compositores brasileiros está no passado, como se o amor estivesse no passado”, lamentou o artista baiano.
Para Brown, muitos artistas têm se apoderado de um discurso, de um ritmo, de um estilo de música ‘sensualóide’, mas espera que ainda haja um amadurecimento para que a música brasileira tenha uma nova retomada, com mais poesia e, principalmente, com canções que tenham uma simbologia que represente o passado dos grandes compositores brasileiros.
“Não estou criticando ninguém, estou falando de música, assim como também não podemos ser contra o Funk, um movimento artístico que não podemos cobrar, porque é feito por pessoas que não tiverem escolaridade, exceto Mister Catra, que era um grande intelectual, que fazia Funk e sabia o que estava dizendo”, afirmou. “Acho que tudo é importante”.
A Camisa Verde e Branco, uma das mais tradicionais agremiações carnavalescas paulistanas, homenageará o cantor, compositor, percussionista e artista plástico Carlinhos Brown em 2020. O enredo será ‘Ajayô Carlinhos Brown candomblés tambores e batuques ancestrais’, desenvolvido pelo carnavalesco Cláudio Cebola. O homenageado terá sua história, seus inúmeros sucessos e sua relação com a religião contados no Sambódromo de São Paulo.
Brown falou também um pouco de sua relação com os avós, aliás, foram eles quem realmente os criou. Sua mãe teve 11 filhos, dos quais nove ‘vingaram’. O baiano nasceu quando a mãe tinha apenas 14 anos. Foi com a avó, principalmente, que cresceu e aprendeu quase tudo na vida, até mesmo foi quem lhe deu a oportunidade de comer um pedaço de pão pela primeira vez, isso aos 12 anos de idade. “Comíamos frutas, legumes, verduras que plantávamos na terra. O pão quem trouxe foi muita avó, que aprendeu a fazer logo em seguida”, disse.
Durante a coletiva de imprensa, Brown explicou que a longevidade se conquista quando as pessoas se cuidam. “Claro que o segredo da longevidade é se manter vivo, se cuidando, mas existe uma outra série de coisas que precisamos estar atentos”, apontou. “Os filhos precisam aprender a ouvir os discursos dos pais, a exemplo das saidinhas à noite. O mundo mudou. O desejo de ter as coisas a qualquer custo tem deixado o mundo mais violento. Temos que nos assegurar por onde ir e com quem ficar”.
Brown também afirmou que a internet está cheia de ‘traços esquisitóides’ e que nesse mundo ainda não há conteúdo. As pessoas estão inseguras nesse mundo em relação a quem está do outro lado, na opinião dele, que diz que vivemos em um ‘presente primitivo’, onde as pessoas estão se habituando a agredir a mulher, a criança, se matando por nada. “O homem perdeu a humildade de dizer que está com fome”, afirmou.
Beth Espínola, com revisão de Fábio Cardoso