Brasileiros ‘deixados’ em Cuzco estão no meio da rua com crianças, passam fome e com alguns doentes

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A distância entre o alívio e o desespero pode ser sentido em menos de meia por um grupo de 165 brasileiros que estão retidos há mais de uma semana, em Cuzcu, no Peru. Neste sábado (21), o que parecia ser o fim do drama se transformou em revolta e desespero ainda maior. Nem todos os brasileiros que estavam numa lista feita pela Latam e a Embaixada brasileira no Peru puderam embarcar de volta ao Brasil. A situação deles ainda pode piorar, pois não há qualquer movimentação das companhias aéreas, muito menos do governo brasileiro, para para montar uma estratégia de resgate com o envio de outros voos para repatriá-los.

A reportagem teve contato com alguns brasileiros que estão em Cuzco e recebeu vídeos dramáticos deles em momento distintos, tanto de quem conseguiu embarcar de volta ao Brasil, assim como os que ficaram. São depoimentos fortes e com a mesma mensagem, de que o governo e as companhias aéreas simplesmente estão se omitindo e deixando a todos a Deus dará, sem nenhuma assistência, nem psicológica. Há outro, dentro do avião, onde um deles faz um apelo para que o governo vá buscar quem ficou no Peru.

“O governo nos abandonou e é preciso que haja uma grande mobilização para que consigamos sair daqui. Há famílias que não têm onde ficar, para onde ir, estão nas ruas numa temperatura muita baixa, faz muito frio aqui. Há crianças, muitos estão sem dinheiro e já passando fome. Há pessoas doentes. Estamos vivendo um caos e as autoridades brasileiras precisam agir urgentemente para nos socorrer”, apelou um dos brasileiros, que pediu para não ter o nome identificado.

Outra brasileira revelou que muitas pessoas foram ao aeroporto de Cuzco, com o nome na lista, mas não embarcaram. No retorno à cidade peruana, não conseguiram acesso ao hotel onde estavam hospedados. No meio da rua, tiveram o apoio de empresários de hostels que, por caridade humanitária, os acolheram. Em Cuzco, as autoridades locais proibem circulação de pessoas até mesmo em dupla. Só pode estar na rua sozinho e em áreas determinadas e com alguma justificativa, caso contrário, pode até ser detido.

https://youtu.be/KtGyVdLWhKo

“A situação é humanitária. Não estamos recebendo qualquer apoio do governo e muito menos das companhias aéreas”, desabafou a brasileira. Há informação de que um diplomata da embaixada do Brasil estaria seguindo de Lima para Cuzco, de carro, numa viagem de 17 horas da estrada. Esse diplomada estaria indo para conversar com o grupo, mas todos estão descrente da presencia deles sem que tenha alguma decisão para repatriá-los.
“Não aguentamos mais conversa, mais discurso ou promessa. Queremos ação, decisão, que é nos tirar daqui o mais rápido possível. É uma questão de diplomacia, mas parece que as autoridades dos dois países não estão se entendendo, não sei qual o motivo”, desabafou.

https://youtu.be/Chhtng04fuU

Paraibanos pedem apoio da bancada da Paraíba, em Brasília

O casal de paraibanos em Cuzco, Gilberto e Daci Barreto, também conversaram com a reportagem na noite deste sábado. Eles disseram que estão bem na medida do possível. Apesar da baixa estima, estão mantendo a tranquilidade e a esperança de retornar o mais rápido possível ao Brasil. Os dois estão completando neste domingo (22) uma semana na cidade. Na chegada, oriundos do Chile, foram pegos de surpresa com o estado de emergência. A rotina deles é do hotel para o supermercado e hotel.

No hotel onde estão, há 16 apartamentos, mas, estão ocupados apenas oito, com quatro casais. Além deles, estão casais do Rio de Janeiro, São Paulo e um inglês. “Estávamos em 13 brasileiros, mas 11 conseguiram retornar ao Brasil no sábado e nos deixou ainda mais triste e intranquilos”, afirmou Daci (chorando).

No interior do hotel, o dono tem sido muito receptivo. Há apenas três funcionários, para atendimento. Os hóspedes fazem a sua própria comida, à exceção do café da manhã, que continua sendo servido. O valor da diária foi reduzido. “Há um hotel com 50 apartamentos que está fechado. Assim que os hotéis dão baixa nas diárias, o apartamento é fechado”, disse Daci Barreto.

A esperança do casal era ter embarcado neste domingo, mais tardar na segunda-feira, mas estão descrentes que isso venha a acontecer. Os dois, assim como o restante dos brasileiros em Cuzco, apelam para todo tipo de ajuda, inclusive, da Paraíba, com a participação da bancada paraibana na Câmara Federal. “A decisão agora é política”, desabafou Daci.

https://youtu.be/5uGtJ7e2LM4

Fábio Cardoso