Itapororoca (PB) se estrutura para ser o próximo destino turístico de experiência do Brasil

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A Paraíba tem encantos e belezas que nem mesmo os paraibanos conhecem direito. Porém, essa realidade tem sido alterada graças ao trabalho que vem sendo desenvolvido por algumas prefeituras em parceria com o Sebrae. É o caso agora da pequena cidade de Itapororoca, no Vale do Mamanguape, a pouco mais de uma hora de viagem de carro de João Pessoa. O município tem pouco mais de 18 mil habitantes. 

O projeto, ainda em fase de execução, traça um roteiro que irá permitir aos turistas vivenciar experiências junto à natureza, degustar pratos regionais, admirar a cultura local, se relacionar com personagens, contemplar o pôr do sol e conhecer mais a fundo histórias de luta, de resistência, de perseverança e, acima de tudo, de esperança por dias ainda melhores de diversos personagens. Tudo que vimos foi encantador, apesar de ser um projeto ainda em desenvolvimento, precisando de adaptações.

O roteiro começa com um café da manhã no Parque Ecológico da Nascença – uma APP (Área de Preservação Permanente) -, seguida por uma trilha em plena Mata Atlântica, perfazendo um percurso de cerca de 600 metros observando o som da natureza e colhendo as informações daquele bioma que tem como destaques as imensas sapucaias, árvores centenárias e que chegam a medir mais de 30 metros de altura.

No término da caminhada, as pessoas podem se refrescar tomando banho de piscina da água de uma fonte que fica dentro do parque. Aliás, toda a água consumida pela população da cidade, à exceção de algumas áreas da zona rural, saem daquela fonte natural. Ela ainda não é tratada, mas é considerada de excelência para o consumo humano. Já na área externa do parque, umas 15 barracas comercializam peças manuais e oferecem espaço para consumo de alimentos.

O próximo roteiro do passeio é uma visita à comunidade Curral Grande, onde residem pequenos produtores rurais e tem como destaque a igreja de Santo Antônio, construída em 1900, como uma pequena capela, passando a igreja 43 anos após. Atualmente, a igreja e toda aquela área, cerca de 800 hectares, pertencem à Diocese da Paraíba, que recebeu a herança do primeiro proprietário dela, capitão João Maria, dono de engenho, hoje desativado. Os moradores têm a posse das propriedades.

Após esse momento de proximidade com Deus, o grupo segue para conhecer a ‘budega’ do Biu Bau, um cantinho bastante simpático e que representa a tradição de um pequeno comércio do interior do interior do Nordeste. No estabelecimento é comercializado de tudo, mas a maior satisfação é a simpatia e a cordialidade das pessoas que recebem os turistas. Uma troca de energia que ativa o espírito para continuar o passeio.

Budega de Bil Bal, uma tradição da cidade

Da ‘budega’ para o restaurante tradicional. O Bar e Restaurante O Cangaço é um equipamento fundado pela matriarca da família, dona Cristina, uma grande figura humana. Nele, além dela cuidar de todos os alimentos, colocando a mão na massa literalmente, ela atua como cantora. Isso mesmo, ela faz show particular de voz e simpatia, enquanto os filhos e sobrinhas ficam responsáveis pelo atendimento.

Dona Cristina, uma aula de saber receber e acolher a todos

O cardápio é todo da região, desde as frutas, legumes e as carnes, claro, com muito bode e galinha de capoeira. O local tem capacidade para atender cerca de 70 pessoas, mas ainda está em fase de construção, com pouco movimento nos dias de semana, aumentando nos finais de semana, quando muitos turistas passam pelo local e contando ainda com os moradores próximos. Todo final de semana a dona Cristina se veste de Maria Bonita e coloca a voz a serviço de todos.

 

Polo de produção de abacaxi orgânico

Uma visita que impactou a todos aconteceu no polo de produção de abacaxi orgânico, uma experiência inédita no país, que está sendo desenvolvida apenas em Itapororoca (PB), na Bahia e no Pará, no Sítio São João. Tobias Lopes, o produtor, tem desenvolvido o projeto pioneiro, que coloca no mercado um fruto sem qualquer contato com agrotóxicos. Ele trabalha com algumas técnicas que nem mesmo são utilizadas e informadas nos bancos das universidades, mas que têm conquistado espaços importantes, mesmo que ainda ínfimo. 

Atualmente, Itapororoca é a maior produtora de abacaxi da Paraíba, apesar de ter números divergentes. A prefeitura afirma que são 120 milhões de abacaxis por safra. Já os produtores reduzem esse total pela metade. Tobias afirma que produz por ano cerca de 8 mil frutos e que já está exportando para Pernambuco e chegando em São Paulo. O próximo passo deve ser os Estados Unidos, um sonho. O sítio tem 40 hectares, mais uma área de até 4 hectares são utilizadas para a plantação do abacaxi.

Ele se orgulha de coordenar o processo, que é realizado de forma totalmente manual, desde o trato da terra, com um processo a partir de um local chamado de Minhocário. Dalí, a terra que pode ser misturada por resto de frutas, urina de vaca, entre outros elementos, já enriquecida nutricionalmente, é levada para o espaço onde serão colocadas as sementes após ser misturada a um líquido com diversos micro-organismos. No entorno da plantação, é colocada uma proteção de plástico para evitar as plantas daninhas.

Tobias Lopes disse que está em planejamento transformar toda a experiência em um atrativo turístico. No ‘turismo de experiência’, como ele definiu, precisa ter uma estruturação melhor que permita que as pessoas possam conhecer todo o processo de produção do abacaxi, desde as etapas antes da plantação até a colheita. A ideia é que os turistas coloquem a mão na massa e saiam de lá com essa experiência de vida, para serem multiplicadores de informação, reforçando a necessidade de proteger o meio ambiente.

Trilha do Cangaço com xaxado raiz

Outra atração que está inserida no roteiro é a Rota do Cangaço, na Barragem de Aruá. Essa é uma experiência que revela a diversidade da natureza, pois a área, em pleno litoral, nos remete a vegetação que nos coloca no Sertão. O atrativo é uma trilha com subida de cerca de 300 metros, com um visual impressionante, com rochas e um rio onde existe o projeto de torná-lo navegável com passeios para os turistas, que poderão vivenciar a pesca que já ocorre naquele local.

Chegando no topo da subida, a surpresa é o Grupo Folclórico Caba da Peste, de Itapororoca, que se apresentou pela primeira vez com seis dançarinos representando o bando de Lampião, dançando muito Xaxado. Foram cerca de 15 minutos de muita descontração. O grupo se apresenta com outras danças, como capoeira, forró. No roteiro, essas apresentações precisam ser agendadas e podem ser feitas no horário de opção dos grupos.

Pôr do sol cultural

Após o dia todo correndo de um lado para o outro, o encerramento do roteiro é apoteótico. À beira da barragem de Santo Antônio,  no Sítio Ipioca, na zona rural da cidade, o empresário Rodrigo Carvalho está montando uma estrutura para receber turistas que poderão até se hospedar na casa da família – para grupos de até 10 pessoas. O projeto tornará aquele espaço em um atrativo para se curtir durante o final do dia, com direito a pôr sol cultural, redário, noites de vinho, assim como passeios de barcos e cavalos, além de banho na barragem. O projeto deverá estar totalmente pronto no segundo semestre de 2023. A expectativa de colocar o empreendimento no mercado é muito grande.

 

Rotas ainda estão em detalhamento

O consultor do Sebrae-PB, Thiago Rodrigues, que está a frente do processo de formatação desse roteiro, afirmou que todo o passeio que foi feito pelo grupo de jornalistas de João Pessoa, que foram convidados pela PBTUR (Empresa Paraibana de Turismo), ainda está em fase de implantação, em processo de adaptações. O lançamento, nesta segunda-feira (26), foi pensando para que a imprensa especializada pudesse vivenciar e transmitir essa experiência que ainda passará por várias etapas. O Turismo é uma atividade em plena mutação, que precisa sempre de transformações para atender as necessidades de cada lugar, de cada região.

Para a prefeita de Itapororoca, Elissandra Maria de Conceição Brito, enfatizou o acolhimento que as pessoas estão tratando esse novo projeto para a cidade, que está completando 61 anos de emancipação política. É um primeiro passo, o município está no Mapa do Turismo Brasileiro, inserido no âmbito do Ministério do Turismo, e, por isso, precisa desenvolver projetos que tornem o local mais estruturado, conhecido e admirado, principalmente, envolvendo a população que será a grande beneficiada, com a geração de empregos e renda.

Elissandra  Brito enalteceu as parcerias, fundamentais para tornar esse novo roteiro mais desenvolvido, mais conhecido e visitado. Itapororoca, ainda pouco conhecida pelos paraibanos e brasileiros, pode ser o seu próximo destino de passeio. O setor de hospedagem não existe de fato, mas todos podem se apoiar na rede hoteleira já existente em Mamanguape e que pode ser a base e parte desse novo roteiro.

Fábio Cardoso – Fotos: Beth Espínola