Roteiro histórico turístico da Paraíba omite Patos de Irerê

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As consequências da Revolta de Princesa e da Revolução de 1930 deixaram feridas abertas no estado da Parayba ainda não cicatrizadas, até porque isso é difícil com o passar do tempo; por oportunismo e ranços políticos, vaidades familiares, enfim, um rosário de razões que isso traduz prejudica a História, distorce e esconde personagens e acontecimentos realmente relevantes; a omissão de Patos de Irerê, atualmente distrito de São José de Princesa, distante 438 Km da capital de um roteiro turístico e histórico é uma lástima.

Quem visita o povoado se encanta com a hospitalidade de seus residentes, tolerância para com pesquisadores e historiadores que esquadrinham o vilarejo, abrindo as portas, inclusive de suas residências, para imagens e boas conversas.

Historiadores paraibanos muito já escreveram sobre a Revolução de 30, mas o assunto não está esgotado, até porque o cinema se encarregou das distorções e romantização em torno das personagens José Américo, Anayde Beiriz, João Dantas e João Pessoa1. Mas os acontecimentos que abalaram o povoado de Patos de Irerê durante a Revolta, incluindo seu passado como spa de Virgulino Ferreira da Silva Lampião, permanecem ainda à sombra.

Tanto assim que o universo que envolve historiadores, pesquisadores e demais estudiosos da Revolta e da Revolução de 30 estão ávidos à espera do livro prometido e em gestação sobre o tema pelo historiador e pesquisador pombalense José Tavares de Araújo.

Ele promete trazer e lançar luz sobre fatos, intrigas políticas, combates e personagens que a historiografia oficial tratou de esconder ou relevar para segundo plano nas narrativas sobre os acontecimentos.

Enquanto isso não ocorre, uma única e escassa visita a Patos do Irerê não é o bastante para exaurir uma compreensão histórica daquela cidadela. A cada visita, inclusive do seu entorno rural segue um livro aberto não visitado.

O sítio histórico está lá razoavelmente preservado, mas ainda demandando apoio oficial do Estado, que teima em não cuidar daquele patrimônio. Talvez por ranço político: a Revolta apagou como fogo brando após o assassinato do presidente João Pessoa; os vitoriosos ao longo dos anos chegaram ao ufanismo demente de mudar o nome da capital do estado; militarmente o lado vencedor insiste em manter apagada das narrativas históricas seus fracassos militares; até mesmo cuidou em esconder seus heróis militares como o capitão João Costa, o tenente Zé Guedes e o icônico e implacável sargento Clementino José Furto; ao tempo em que esconde o protagonismo de chefes militares da Revolta como Luiz do Triângulo, Marcolino Diniz e outros.

Louve-se aqui a exemplar iniciativa, inclusive de cunho didático, do Museu da Polícia Militar da Paraíba, que recentemente promoveu uma exposição de parte do seu acervo no palacete que pertenceu ao coronel Zé Pereira, e que serviu de hospital de campanha, inclusive para soldados feridos em combate.

Ver imagens de soldados da briosa Polícia Militar perfilados no pátio do Palacete com sua banda marcial durante o evento Cariri Cangaço realizado em março em Princesa Isabel não tem preço. Na verdade, os responsáveis pelo Museu da PM quebraram um paradigma. O artistas plástico Chico Pereira, o coronel Arnaldo Sobrinho (diretor do Museu) conduzem esse esforço em defesa da história da PM e do patrimônio.

Mas o governo do estado segue em dívida com a necessidade de resgatar a história, recuperar e preservar o patrimônio lá existente.

O povoado de Patos de Irerê está lá com a Igreja bem cuidada, uma pracinha com telefone público que ainda funciona, a casa de Alexandrina e Marcolino Diniz intacta e bem cuidada, o Palacete preservado e funcional graças a Academia de Letras de Princesa. Mas o icônico casarão do major Floro Diniz, palco de tremendos combates entre a Polícia Militar e os revoltosos está em ruínas. Outros pontos daquele sítio histórico e dos municípios de Manaíra, Água Branca; seguem relevados ao esquecimento.

Intelectuais e historiadores influentes que gravitam em torno do poder público conhecem bem o quadro, mas esbarram no comando político imobilizado diante da influência de familiares descendentes daqueles que venceram os revoltosos para prejuízo da história e do resgate pujante do povo paraibano.

A capital da Paraíba já tem o seu Museu da Cidade (que devido ao seu acervo a população confunde com museu dedicado a João Pessoa, o político); a Polícia Militar está implantando o seu próprio Museu, o governo está revitalizando a sua sede para transformá-la também em Museu. Entretanto segue inerte na obrigação de restaurar, tombar, desapropriar e preservar imóveis e lugares de memória que custaram suor, bravura e vidas de paraibanos.

João Costa – Imagens Sérgio Dias