10 anos de televisão me valeram muito aprendizado e conhecimento para exercício da profissão

Cotidiano Fábio Cardoso

Nesta sexta-feira (18) está se comemorando 70 anos da TV brasileira. Apesar de sete décadas passadas, quando fazia o curso de Comunicação Social, na Universidade Federal da Paraíba, com habilitação em Jornalismo, essa área passou praticamente despercebida, pois, apesar do sinal já ter chegado, lembro que foi a maior correria quando do anúncio de vagas de trabalho na TV Cabo Branco, quando muitos de amigos de curso formaram as primeiras equipes locais.

Confesso que não me interessei na época. Afinal, tinha olhares exclusivos para o impresso. Queria trabalhar em redações de jornal impresso. Era um sonho, um desejo de criança. E assim aconteceu, quando, já formado no final no começo dos anos 80, comecei minha carreira no Jornal O Momento, passando em seguida para A União, O Norte e, por fim, Correio da Paraíba.

Porém, já nos anos 90, quando ainda estava no jornal O Norte, surgiu o convite surpresa e inesperado feito pelo amigo Joanildo Mendes, para fazer parte da primeira equipe de produção da TV Tambaú, afiliada da TV Manchete, do Rio de Janeiro, na época. Surpresa, porque nunca me imaginei trabalhando em televisão e, como não havia cadeiras sobre a área no curso de Comunicação (sobre TV), só sabia ligar, mudar de canal e desligar. Mesmo assim, resolvi encarar o desafio, do zero mesmo.

A equipe da TV Tambaú, aliás, não tinha só eu como iniciante. Tinha outros, como Jacinto Barbosa (já noutro plano), por exemplo. Minha primeira função da TV Tambaú foi apurador de notas, que era o cara que tinha que ligar para saber o resultado de uma operação policial, para que fosse lida pelo apresentador no final da reportagem. Em seguida, foi ‘promovido’ para pauteiro das reportagens, convenhamos, uma função muito mais empolgante.

Como a TV tem uma série de atividades, da pauta até a edição final das reportagens, nos tempos vagos saia correndo da redação para a ilha de edição para saber como era o processo. Em pouco tempo, mesmo não exercendo aquela função, já dominava tudo e, às vezes, até fazia algumas edições. Foi quando surgiu uma oportunidade de assumir a editoria adjunta da TV. Claro, não desperdicei essa oportunidade.

Lembro que os nossos jornais eram produzidos com uma equipe que vibrava com tudo. Um furo na nossa maior concorrente, a TV Cabo Branco, afiliada da Globo, era comemorado como um gol da seleção brasileira em Copa do Mundo. Fizemos de tudo, inclusive, criamos programas, ‘fala povo’, standapão até um bloco de Carnaval. No final da cobertura do projeto Folia de Rua e Carnaval, como ninguém teve tempo de brincar, resolvemos colocar a ideia adiante e convidamos todos os blocos, conseguimos um trio elétrico e fizemos até um estandarte improvisado e saímos na orla de João Pessoa.

Foram oito anos de muito conhecimento, de muito aprendizado, de experiências na área inesquecíveis e engrandecedoras como homem e profissional. Mas, por opção e amor ao impresso, deixei a TV mesmo sabendo que ainda tinha muito o que aprender e a produzir. Quis me dedicar apenas ao jornal Correio da Paraíba, onde editava Economia e Turismo, depois de passar por Esporte, Cultura, Política e Cidades. A paixão pela TV ainda existia. Tive até a oportunidade de retornar à TV Tambaú anos depois, mas preferi recusar na época.

Longe do corre-corre da TV por alguns anos, lá veio um outro convite, agora dentro do Sistema Correio de Comunicação. Na época, a editora geral de Jornalismo, Lena Guimarães, me convenceu a retornar à TV, desta vez, para formarmos a primeira equipe de Jornalismo, para produzir o primeiro Jornal Correio, que começou a ser exibido à noite, concorrendo com as TVs Cabo Branco, O Norte e a Tambaú.

O novo desafio foi assumir a editoria geral do programa e, ao mesmo tempo, continuar como editor de Economia e Turismo do jornal impresso. Foram mais de dois anos de pura loucura, não vou negar, já que entrava na empresa às 6 da manhã e só saía às 11 da noite, de segunda a sexta-feira.

Na TV Correio, também fizemos muitos trabalhos interessantes, tínhamos uma equipe muito afinada e comprometida. Mas a carga de trabalho pesou. Foi quando, pela segunda vez, pedi para sair da função e voltei a me dedicar exclusivamente ao impresso, até o fechamento do Jornal Correio, no comecinho da pandemia do coronavírus.

Se você me perguntar se retornaria a trabalhar em televisão, nesse momento, diria que sim, mesmo após tanto tempo de vida no jornalismo, que não pesam em nada na minha disposição de trabalhar, de conhecer, de me desafiar.

Muita coisa mudou na televisão e não falo apenas em tecnologia e equipamentos. Os profissionais de TV mudaram muito também, tanto em postura como no conhecimento. O incremento da internet provocou essa revolução.

Entretanto, entendo que os profissionais de 10, 20, 30 anos atrás eram mais preparados para desempenhar as mesmas funções dos profissionais de hoje. Como tudo era muito mais difícil em termos de apuração das notícias, toda a equipe obrigatoriamente tinha que buscar meios de conseguir fontes, formas de obter a notícia melhor apurada. A internet e o professor Google fazem esse trabalho para os profissionais de hoje, tirando deles a oportunidade de se aprofundar nos temas. Mas nada que reduza a competência, a qualidade e as excelentes reportagens que vemos nos dias de hoje. Tudo surge para melhorar.

Fábio Cardoso