Arqueólogos descobrem 2.000 artefatos de pedra lascada no interior paulista

Cotidiano

Pesquisadores da A Lasca Arqueologia resgataram cerca de 2.000 artefatos de pedra lascada, possivelmente produzidos há 4.000 e até 8.000 anos, por grupos humanos. O acervo lítico foi encontrado em Ipeúna, SP (município com 7.538 habitantes a 194 km de São Paulo), durante escavações no sítio arqueológico Passa Cinco III, às margens do rio de mesmo nome. A equipe usou ferramentas de Inteligência Artificial e edição de imagens para mostrar possíveis cenários cotidianos e sugestões de como seriam as ferramentas líticas acrescidas de outros elementos que podem ter se decomposto. O trabalho científico foi realizado como parte das pesquisas que acompanham o processo de licenciamento ambiental relacionado à instalação de uma usina de compostagem na região.

A coleção, que foi resgatada em profundidades de até 1 metro, é formada por artefatos de pedra fabricadas por grupos humanos baseados na mesma técnica utilizada pelos primeiros a povoarem o que é hoje o estado de São Paulo. As peças serviriam para trabalhar fibras vegetais, madeira, pigmentos, além de auxiliar no processamento de carnes, ossos, tendões, chifres, dentes, couro, conchas, cascos etc. geralmente obtidos na caça, pesca e coleta.

Segundo os pesquisadores da A Lasca, trata-se de um sítio arqueológico que serviu, no período pré-colonial, como local para encontrar rochas usadas na fabricação das ferramentas e como área de acampamento, onde grupos humanos “moravam” por um certo período, até que se esgotassem os recursos naturais disponíveis na região.

“O que chama atenção na coleção, além de seu ótimo estado de conservação, é a quantidade de peças (superior a 2 mil artefatos), o que pode indicar que o local foi utilizado como acampamento e oficina de lascamento por centenas de gerações dos primeiros humanos a povoarem o que hoje é o estado de São Paulo”, afirma Lúcia Oliveira Juliani, geóloga pela Unesp e mestre em Arqueologia pela USP, diretora da A Lasca Arqueologia.

Em laboratório, os profissionais da A Lasca higienizam, quantificam, separam, medem, pesam, fotografam e analisam todas as peças da coleção, o que também é raro, uma vez que geralmente as análises arqueológicas se concentram em tipos específicos de ferramentas, consideradas mais relevantes para caracterizar o acervo. Os líticos – como os cientistas chamam os artefatos feitos de pedras – estão sendo analisados um a um, desde os instrumentos complexos, como pontas de lança e machados de mão, até os menores fragmentos, denominados estilhas, afirma a arqueóloga que coordena os trabalhos de laboratório da A Lasca, Caroline Rutz.

“O principal desafio da análise lítica é resgatar uma memória que a maior parte da humanidade já perdeu. As pessoas comuns, ao verem esse tipo de artefato, raramente o identificam como uma ferramenta para cortar, furar, serrar e assim por diante. Com exceção das pontas de flecha e dos machados, que possuem um formato reconhecível até hoje, os instrumentos líticos se assemelham ao cascalho comum aos olhos destreinados”, afirma Caroline Rutz.

Participam da pesquisa de laboratório da A Lasca os especialistas Andrezza Bicudo da Silva, Beatriz Gasques Favilla, Camila Campos Olandim, Cleide Trindade, Hyrma Ioris, Journey Tiago Lopes Ferreira, Marcia Regiane Sodré dos Santos, Pedro Müller Jr e Yan Santos Trovato.

O objetivo do trabalho é registrar em detalhes os métodos e as técnicas de fabricação de ferramentas de pedra utilizados nesse sítio e, assim, poder relacioná-las ao que já se sabe sobre a tecnologia humana nessa região nos períodos iniciais da pré-história brasileira. As peças do sítio arqueológico Passa Cinco III, após serem analisadas no laboratório da A Lasca Arqueologia, irão para o Museu Municipal Elisabeth Aytai, localizado do município de Monte-Mor (SP).

O licenciamento ambiental, que deu origem à escavação, constitui-se como uma obrigação legal prévia à instalação de qualquer empreendimento ou atividade potencialmente poluidora ou degradadora do meio ambiente. Seu objetivo é assegurar a sustentabilidade socioambiental. Assim, sempre que um sítio arqueológico – tal como o Passa Cinco III – é identificado, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), órgão que mantém o Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos (CNSA) é informado (Para acessar os sítios arqueológicos já cadastrados: https://sicg.iphan.gov.br/).

Assessoria de imprensa